A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: fernandazxc • 31/7/2021 • Ensaio • 1.879 Palavras (8 Páginas) • 134 Visualizações
ENSINO E APRENDIZAGEM NOS ANOS INICIAIS
Fernanda Lima
A importância da Educação Infantil
na formação do cidadão crítico-reflexivo
As primeiras experiências são as que marcam mais profundamente a pessoa e, quando positivas, tendem a reforçar, ao longo da vida, as atitudes de autoconfiança, dec ooperação, de solidariedade e de responsabilidade.
Para Antunes (2006), se a ciência mostra que o período que vai da gestação até o sexto ano de vida é o mais importante na organização das bases para as competências e habilidades desenvolvidas ao longo da existência humana, prova-se que a etapa educacional referente a essa faixa etária é imprescindível para o desenvolvimento humano.
A Educação Infantil é algo mágico, único e essencial na vida do homem, que “canta e encanta” a quem a ela tem acesso, sendo rico e engrandecedor acompanhar o desenvolvimento desses pequenos seres durante essa etapa de sua vida. São incríveis a percepção da capacidade de aprendizado das crianças, sua receptividade, seu carinho e sua pureza. E o que uma educação de qualidade vivenciada por elas e devidamente adequada ao desenvolvimento cognitivo, motor, social e emocional pode fazer em suas histórias.
Em pesquisa realizada por meio de questionário e entrevistas diretas com professoras do 1º ano do Ensino Fundamental, comprovou-se que a Educação Infantil é de extraordinário valor no desenvolvimento humano. Os entrevistados que encontraram dificuldades de adaptação — cognitivas, sociais ou emocionais — ou que ainda apresentaram receio ao ingressar no Ensino Fundamental são aqueles que não cursaram a Educação Infantil e não obtiveram contato algum com esse nível de ensino durante a primeira infância.
Os questionários foram aplicados a quarenta adultos com idade entre 20 e 30 anos, cidadãos comuns, atuantes da sociedade através do trabalho e de relações sociais que estabelecem, com o grau mínimo de instrução de Ensino Médio, moradores de Brasília/DF.
Por sua vez, os entrevistados que cursaram a Educação Infantil afirmaram descobrir aprendizados e relações significativas, como: descoberta da leitura e da escrita, cores, números, brincadeiras, histórias, músicas, boas maneiras, hábitos de higiene e relações sociais com professores e colegas. Portanto, a Educação Infantil contribui, sim, na formação do indivíduo e, consequentemente, do cidadão ativo e participante da sociedade, pois transmite valores, regras e atitudes essenciais que serão lembrados e utilizados por toda a vida, proporcionando experiências e interações com o mundo social e físico de forma ajustada às sucessivas idades que abrange, seguindo princípios pedagógicos de acordo com o desenvolvimento precoce.
É preciso destacar algumas dessas experiências proporcionadas pela Educação Infantil, que concretizam seu trabalho e que interferem positiva e significativamente no desenvolvimento humano e na formação do cidadão crítico-reflexivo, devido às consequentes transformações que partem destas pequenas ações:
Brincadeira: O brincar exige participação e engajamento, com ou sem o brinquedo, sendo uma forma de desenvolver a capacidade de manter-se ativo e participante. Tem a vantagem de proporcionar alegria e divertimento, sendo um impulso no desenvolvimento da criatividade, na competência intelectual, na força e na estabilidade emocional, lidando
diretamente com sentimentos de alegria e prazer.
Assim, a criança cria e/ou reproduz situações cotidianas, o que colabora na construção da sua identidade, da imagem de si mesmo e do mundo que a cerca. Todos que brincam tendem a ter uma infância mais feliz e a se tornar um adulto mais equilibrado física e emocionalmente, superando com maior facilidade os problemas cotidianos.
Autonomia: A obtenção da autonomia é um dos objetivos primordiais da Educação Infantil. Em um processo contínuo, incentiva-se a criança aos cuidados com o corpo, à organização de seus materiais, à colaboração na organização da sala, à boa alimentação, à adesão de hábitos saudáveis, à responsabilidade, à construção autônoma das atividades, à exposição de ideias e pensamentos e ao desenvolvimento do senso crítico-reflexivo e da autoconfiança, entre outros aspectos.
A autonomia é essencial à vida, pois o homem, enquanto cidadão e sujeito ativo da comunidade, precisa ser capaz de governar a si mesmo, visando o seu bem-estar e o do outro, podendo agir com segurança e eficácia na busca por seus sonhos e sua realização pessoal.
Psicomotricidade: O movimento é a forma que as crianças utilizam para conhecer a si e ao mundo e então encontrar competências para atuar no meio em que vivem, desenvolver o toque, a segurança, o traçado, a ação motriz, o controle sobre os braços, as pernas e os movimentos em geral, a direção, etc. Atividades como correr, pular, dançar, desenhar, utilizar a massinha de modelar, entre outras, geralmente ocorrem diariamente na Educação Infantil.
Arte: As experiências com música e artes plásticas têm papel primordial na formação do pensamento simbólico, pois ambas exercem forte influência no desenvolvimento da criatividade e da imaginação.
Leitura e Escrita: Introduzir o universo maravilhoso da leitura e da escrita é favorecer a formação de um adulto adepto dela, que sinta facilidade na comunicação, na compreensão de textos e na escrita, ampliando conhecimentos, vocabulário, entre outras habilidades.
Desenho: Assume papel primordial no conhecimento e acompanhamento da criança, favorecendo, também, o desenvolvimento de sua psicomotricidade, criatividade, visualização, noção de espaço, etc.
O desenho representa, em parte, a mente consciente e faz referência ao inconsciente, podendo ser essencial no entendimento de sentimentos, desejos e/ou frustrações demonstrados pelas crianças. Dessa forma, seu simbolismo e sua mensagem podem ter muito a dizer sobre quem o fez.
Quando a criança recebe estímulo, carinho e atenção, seu desenvolvimento é extraordinário e de destaque em meio à sociedade.
As entrevistas foram realizadas com dez professoras de 1º ano do Ensino Fundamental em Brasília, e percebeu-se que crianças que não cursam a Educação Infantil apresentam dificuldades superiores às que cursaram. Segundo as professoras, as dificuldades cognitivas podem ser praticamente inexistentes se a criança obtiver estímulo em casa. Mas isso ocorre raramente, devido às modernas estruturas familiares e à aceleração diária do mundo adulto, provocadas pelo excesso de atividades dos pais ou responsáveis. Contudo, as maiores e mais claras dificuldades se dão nos aspectos social e afetivo.
Os obstáculos mais evidentes enfrentados por essas crianças se referem a: socialização e afetividade, adaptação à rotina, coordenação motora fina, manuseio de materiais didáticos, aprendizado e egocentrismo aguçado, pois a maioria das crianças não possui convívio frequente com outras da mesma faixa etária. Caso esse convívio ocorra, ele acontece em situações informais, causando nas crianças uma enorme dificuldade em se relacionar com o outro, em partilhar e se integrar ao grupo, esperar por sua vez, seguir a rotina, as normas e regras estabelecidas no cotidiano da escola. Muitas vezes, essas dificuldades acompanham o indivíduo por toda a vida, já que não houve as instruções e aprendizagens necessárias no momento oportuno (de 0 a 6 anos), quando se trata da formação da personalidade.
Robert Fulghum (2004) resume a importância da educação formalizada já na primeira infância, de 0 a 6 anos, da seguinte forma:
"Tudo que eu precisava realmente saber sobre como viver, o que fazer e como ser, aprendi no jardim de infância. A sabedoria não estava no topo da montanha mais alta, no último ano de um curso superior, mas, sim, no tanque de areia do pátio da escolinha maternal. (p. 16)"
O cotidiano na Educação Infantil baseia-se em uma rotina preestabelecida visando o desenvolvimento da criança. Criança essa que, num futuro próximo, saberá a importância dos valores morais, da partilha, da ajuda, da responsabilidade, dos direitos e deveres; isso devido ao fato de que, nas pequenas atitudes, formam-se grandes cidadãos.
Relações Sociais/Afetivas: A Educação Infantil assume como suas responsabilidades estimular e proporcionar relações sociais e desenvolvimento afetivo em parceria com a família.
O apego é a mais profunda emoção, a primeira e a mais duradoura, pois se trata do vínculo estabelecido com outras pessoas, tornando-se mais significativas as advindas daquelas que proporcionem segurança, satisfação e alegria. Portanto, a biografia humana é definida pelas sucessões de vínculos emocionais estabelecidos ou perdidos.
Muitas emoções, como ciúme, medo, tristeza, tédio, ansiedade e surpresa, apresentam-se desde a primeira infância, podendo levar a criança a reagir de maneira agressiva, apática ou exibicionista. Cabe, então, aos educadores da Educação Infantil interferir nesses conflitos através de trabalhos em grupo, do estabelecimento de regras, do respeito ao próximo e da imposição de limites. Desse modo, são proporcionados momentos em que as crianças aprendem a esperar sua vez, a dividir e a lidar com as diferenças, percebendo-se membro de uma sociedade onde nem sempre elas serão consideradas o centro das atenções.
São também trabalhados o autoconceito (quem sou, como me chamo, onde vivo, o que faço, do que gosto, etc.) e a autoestima (o que penso de mim, como me valorizo, o quanto acho que as pessoas me valorizam, etc.). Devido à importância desses aspectos na determinação do adulto em que a criança se tornará, é evidente a necessidade de fazer com que ela desenvolva um autoconceito, uma autoestima positiva.
Fulghum (2004) traz o significado que construiu sobre a Educação Infantil, criando o Credo do Jardim de Infância:
"O que aprendi: dividir tudo com os companheiros; jogar conforme as regras do jogo; não bater em ninguém; guardar as coisas onde as tivesse encontrado; arrumar a bagunça feita por mim; não tocar no que não é meu; pedir desculpas quando machucasse alguém; lavar as mãos antes de comer; apertar a descarga da privada; biscoito quente e leite frio fazem bem à saúde; fazer de tudo um pouco — estudar, pensar, desenhar e pintar, cantar e dançar, brincar e trabalhar —, todos os dias; tirar uma soneca todas as tardes; ao sair pelo mundo, ter cuidado com o trânsito; saber dar a mão e ter amigos; peixinhos dourados, porquinhos da índia, esquilos, hamsters e até a sementinha no copinho de plástico, tudo isso morre, nós também; lembrar dos livros de histórias infantis e de uma das primeiras palavras aprendidas, a mais importante de todas: — Olhe! (p. 16)."
Se esses itens citados forem aplicados na vida adulta, no convívio cotidiano, a sociedade se modificará. Em outras palavras, aprender a compartilhar as coisas que se sabe e que se tem é fundamental para as atividades e o convívio em grupo, seja nessa ou em outras fases escolares, seja na carreira profissional; jogar com as regras também é imprescindível para viver como cidadão engajado e consciente; arrumar a bagunça e não mexer nos pertences dos outros, assim como ter cuidados com a higiene de si e dos ambientes coletivos demonstram respeito e pretendem gerar respeito; quanto à soneca da tarde, a própria ciência moderna atesta e a indica como um meio de prevenção de doenças e acidentes no trabalho; experimentar as mais diversas atividades intelectuais também aparece em pesquisas médico-científicas como fator considerável para um desenvolvimento mais completo da mente, do corpo e como facilitador das escolhas profissionais; a apresentação de alguns processos complexos do ciclo da vida para as crianças pequenas, além de alimentar sua curiosidade e satisfazer a fase dos porquês, ajuda a explicar-lhes situações alheias à sua vontade e, consequentemente, a lidar com as surpresas e frustrações que, com certeza, acontecerão.
Uma vez entendido o verdadeiro sentido dessa etapa e a sua importância em relação à formação do homem, a educação disporá de novos rumos que engrandeçam a sua ação para as crianças pequenas. Quanto mais rapidamente Planos Educacionais forem implementados na realidade educativa de instituições e profissionais, e assim das crianças, mais eficazmente se reconhecerá a relevância e premência da educação como instrumento de mudança da supra e infraestrutura do País, uma vez que colabora para a formação crítica e reflexiva do cidadão. E, quem sabe, o Brasil deixará de ser apenas o país de um futuro que nunca chega.
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