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A Infância, Mídias e Educação revisitando o conceito

Por:   •  1/9/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.972 Palavras (8 Páginas)  •  314 Visualizações

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EDUCAÇÃO E INFÂNCIA II

Infância, Mídias e Educação: revisitando o conceito de socialização

Maria Luiza Belloni

Criança, indivíduo e sociedade

O ser humano não se torna espontaneamente um ser social, é preciso que as novas gerações que asseguram a reprodução da sociedade – interiorizem as disposições que os humanizam, tornando-os indivíduos sociais capazes de fazer parte integrante de grupos sociais.

        A socialização é um processo essencialmente ativo que se desenrola durante toda a infância e adolescência por meio das práticas e das experiências vividas, não se limitando de modo algum a um simples treinamento realizado pela família, escola e outras instituições especializadas.

Ao longo do processo de socialização as crianças são também objeto da ação de várias  instituições especializadas, entre as quais as mais importantes são a família, a escola, as igrejas e as mídias A estruturação da personalidade se realiza na prática interativa das crianças com seu universo de socialização que inclui, além destas instituições, os diferentes grupos de pares, formados na família, na escola e no bairro.

O processo de socialização é o espaço privilegiado da transmissão social dos sistemas de valores, dos modos de vida, das crenças e das representações, dos papéis sociais e dos modelos de comportamento varia de acordo com o universo de socialização, forçosamente diferente segundo a origem social da criança, definida pela sociedade onde ela vive, pela classe social a que pertence e pelo grupo familiar. A escola e a mídia funcionam como fatores de unificação – o objetivo é o consenso ou a coesão social –, difundindo os valores e as normas que se pretende sejam comuns a todos os membros de uma sociedade.

A socialização é um processo de relações humanas, e as primeiras interações que se constroem entre a criança e o outro ocorrem no círculo familiar. A família é, pois, uma instância-chave para a socialização primária, uma instância fundamental de socialização, mas as formas assumidas por sua ação neste processo estão profundamente transformadas pela modernidade, inclusive pela ação ainda desconhecida das novas tecnologias de informação e comunicação.

A escola, como a família, está confrontada com a televisão aparece como uma concorrente importante, constituindo, com as outras mídias, uma espécie de escola paralela que contribui ao questionamento da legitimidade da escola como instância que detinha um quase monopólio da transmissão do saber: a escola não é mais o único lugar onde se aprende.

Compreender e explicar a infância hoje implica retomar e discutir a evolução do próprio conceito de socialização, questionado por muitas correntes dentro e fora dos campos da Educação e da Sociologia, situando o com relação às correntes clássicas da Sociologia. Do ponto de vista da Sociologia, o processo de socialização é um fator de reprodução das estruturas sociais, materiais e simbólicas, sendo, por conseqüência, um mecanismo muito eficaz de controle social e, por isto, objeto da atenção e da ação de diversas instituições sociais. Do ponto de vista da criança, a socialização constitui um processo de apropriação e de construção, por meio da participação ativa do indivíduo jovem que intervem, age e interage com todos os elementos de seu universo.

Ao contrário das concepções clássicas do processo de socialização como a ação determinante da sociedade sobre o indivíduo, as tendências atuais colocam em evidência o caráter ativo e interativo da criança como ator deste processo. É importante ressaltar que o conceito de socialização evolui segundo os momentos históricos, não apenas ao sabor do sucesso ou insucesso das diferentes correntes teóricas, mas, sobretudo, em decorrência das mudanças sociais que transformam as sociedades e suas instituições socializadoras.

Processo de socialização: um conceito a ressignificar

A socialização como categoria sociológica básica pode ser compreendida dialeticamente em seu duplo aspecto como a ação da sociedade sobre as crianças e a apropriação do universo de socialização pela ação das crianças. A socialização produz, pois, tipos sociais adaptados a um contexto social e determina as estruturas mentais que caracterizam o que chamamos de personalidade dos indivíduos.

Durkheim compreende a socialização como um processo de desenvolvimento da consciência coletiva no jovem indivíduo, com vistas ao consenso (coesão social), entendido como uma comunidade de idéias, crenças religiosas, tradições nacionais ou profissionais, opiniões coletivas, normas e regras aceitas por todos os membros da sociedade. A socialização só pode realizar-se plenamente, pois, como uma relação entre a autoridade moral de um adulto e a atitude positiva (receptiva) da criança. A experiência acumulada pelas gerações passadas, baseada na autoridade (do adulto educador) e na passividade ou receptividade (da criança aprendiz). O objetivo da socialização é a transmissão da cultura, e a mola mestra da educação é a autoridade (entendida como autoridade moral daquele que sabe).

A socialização é um fenômeno universal, cujas formas, evidentemente, variam segundo contextos sociais diferentes. Sua função, porém, em qualquer sociedade, é desenvolver a consciência coletiva que torna possível o consenso. O que é importante em Durkheim é a ênfase no fato que a sociedade tem necessidade de que os indivíduos sejam semelhantes, construída pela ação sistemática das instituições socializadoras e pela aceitação das normas como legítimas pelos indivíduos.

Mead propunha, já nas primeiras décadas do século 20, uma teoria da socialização, em que ela não é somente o processo de transmissão e interiorização da cultura, mas se torna o processo de constituição do ser social, de construção da identidade pessoal, do eu, no contato com o outro. O elemento mais importante aqui é, sem dúvida, a compreensão do processo de socialização como construção da identidade que ocorre na interação, o que implica o reconhecimento social do personagem que se constrói, a consideração do outro.

Para Berger, o ser humano existe quando ele é reconhecido como humano, e que a criança privada de atenção e de afeição se desumaniza. A criança que é respeitada se respeita a si mesma, e um menino considerado como turbulento vai acabar por se tornar turbulento. A estas concepções baseadas no conceito de papel social, Berger vai acrescentar a teoria do grupo de referência. Segundo ele, na socialização, o universo social é interiorizado pela criança A sociedade não é, pois, somente algo de “exterior”, no sentido durkheimiano do termo, mas ela está também “dentro” de nós. Este autor insiste na evidência de que é preciso considerar a interiorização para compreender o fato incrível de que a maioria dos controles externos funcionem a maior parte do tempo para os indivíduos de uma sociedade. Não somente a sociedade controla nossos movimentos, mas ela modela nossa identidade, nossos pensamentos e nossas emoções. “As estruturas sociais se tornam as estruturas de nossa consciência. Numa obra dos anos 1960 (A construção social da realidade), Berger e Luckmann (2006) propõem a integração das abordagens de Durkheim e Mead uma distinção entre dois momentos do processo de socialização: de um lado, uma socialização primária, própria à infância e graças à qual um indivíduo se torna um membro da sociedade e que acaba quando o conceito de “outro generalizado” estiver construído; e, de outro lado, um conjunto ininterrupto de socializações secundárias, pelas quais os indivíduos de todas as idades, em sociedades complexas (altamente diferenciadas), interiorizam papéis, normas e representações diversas que lhes permitem se tornar atores em setores diferentes e situações novas. Assim, os autores chamam a atenção para o caráter dinâmico e não determinado da socialização, e para as possibilidades de transformações identitárias ao longo da existência humana.

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