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A Interdisciplinaridade e Gestão democrática

Por:   •  14/10/2019  •  Artigo  •  4.333 Palavras (18 Páginas)  •  246 Visualizações

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INTERDISCIPLINARIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA

Ana Carla Arruda de Oliveira[1]

Edelberto Ferreira Coura [2]

RESUMO

Na perspectiva das mudanças socioculturais do século XXI e da necessidade de adaptação da escola a esta nova realidade é proposto um estudo sobre a relação entre a prática interdisciplinar e a gestão democrática. O presente artigo tem como objetivo analisar a aplicação destas práticas e como podem se articular e se complementar na construção de uma escola que corresponda às demandas da sociedade. Tendo em vista a necessidade de clareza sobre a definição, os itens são abordados e descritos com base na bibliografia que trata sobre o assunto, com destaque para os trabalhos de Ivani Fazenda, Hilton Japiassu, José Carlos Libâneo. Posteriormente, é realizada uma análise qualitativa de uma experiência de uma escola da rede pública que integra as duas práticas. É realizada, ainda, uma descrição de ações positivas e suas deficiências, buscando compreender os desafios práticos que o cotidiano escolar impõe. Diante disto, foi possível concluir que a gestão democrática e a interdisciplinaridade escolar possuem similaridades em sua base que podem atuar integradas.

Palavras-chave: gestão democrática, interdisciplinaridade, educação.

1 INTRODUÇÃO

A educação brasileira vem passando por demandas por um cenário de baixo interesse dos estudantes pelo conteúdo, altos níveis de reprovação, baixo desempenho em avaliações externas, entre outros.   É importante colocar que a escola está envolvida nas transformações socioculturais alavancadas pelo surgimento de novas tecnologias que ampliaram e dinamizaram a comunicação e a busca de informação.  São novas demandas que requerem um novo modelo de escola.

Tendo em vista este cenário e considerando que cabe à educação fornecer as bases culturais aos indivíduos para que possam decifrar as mudanças em curso (UNESCO, 2010, p. 68), apontamos a estratégia de aplicação da gestão democrática impulsionada pela prática interdisciplinar como opção de enfrentamento destes problemas e de criação de novos caminhos para a aprendizagem e para a formação humana. Logo, é necessário que se analise como, através da prática interdisciplinar, podemos transformar os métodos e práticas da gestão escolar para tornar a escola um ambiente democrático.

A gestão democrática é capaz de levar os estudantes “a compreender, a partir de problemas concretos, quais são os seus direitos e deveres, e como o exercício da sua liberdade é limitado pelo exercício dos direitos e da liberdade dos outros.” (UNESCO, 2010, p. 61). Desta forma, a escola é concebida como ambiente formativo, ou seja, capaz de educar através das práticas de gestão. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 414). Já a prática interdisciplinar é entendida como uma forma de integrar conceitos como o diálogo e a cooperação com os conteúdos e contextualizá-los na realidade atual, possibilitando a aprendizagem efetiva. Desta forma, a gestão democrática e a interdisciplinaridade possuem pontos congruentes que juntos fortalecem a concepção de escola democrática e de qualidade.

2 DESENVOLVIMENTO

INTERDISCIPLINARIDADE E PROJETO INTERDISCIPLINAR

Quando o conceito de interdisciplinaridade chega ao Brasil por volta dos anos de 1960 ainda não havia uma compreensão do significado do termo e de uma forma de aplicação prática. Foi considerada uma palavra de ordem a ser explorada, usada e consumida por aqueles que se lançam ao novo em avaliar a aventura (FAZENDA, 1991, p. 78). Dentro do contexto educacional brasileiro, a interdisciplinaridade ganhou espaço nas pesquisas acadêmicas e, com o passar dos anos, vem sendo explorada também nas salas de aula do ensino básico.

A interdisciplinaridade, segundo Japiassu (1976, p. 43), surge como protesto contra um saber fragmentado, contra a superespecialização e setorização das universidades; e “contra o conformismo das situações adquiridas e das ‘ideias recebidas’ ou impostas”. De acordo com o autor, a interdisciplinaridade busca uma aproximação da vida real, correspondendo ao complexo dinamismo das questões que surgem da sociedade, fundamentando-se na negação e na superação das fronteiras disciplinares (JAPIASSU, 1976, p. 75). Neste sentido, a fragmentação do conhecimento por disciplinas torna impossível encontrar respostas que correspondam às demandas reais, visto que delimitam o campo de busca a uma gama específica de saberes e métodos. Fazenda (1991) afirma que a interdisciplinaridade se torna possível

por sua capacidade de adaptar-se ao contexto vivido, reafirmando o respeito às questões do que se apresenta como realidade contextual, seja no aspecto político, econômico, cultural. A interdisciplinaridade se sustenta na base da leitura da realidade tal como ela é, assumindo suas nuances e singularidades, bem como a diversidade presente. Assim, age como transgressora, abrindo brechas às formas estabelecidas e enraizadas, colocando as certezas no cenário da temporalidade e da dúvida. (FAZENDA, 1991, p. 118)

Desta forma, a interdisciplinaridade pode ser compreendida como um complexo de interações entre diferentes disciplinas ou entre setores heterogêneos de uma mesma ciência caracterizado pela reciprocidade nos intercâmbios. Isto fortalece todas as disciplinas envolvidas, que no processo incorporam resultados, tomam de empréstimo a outras disciplinas “instrumentos e técnicas metodológicos, fazendo uso dos esquemas conceituais e das análises que se encontram nos diversos ramos do saber, a fim de fazê-los integrarem e convergirem, depois de terem sido comparados e julgados” (JAPIASSU, 1976, p. 75).

Sabemos, então, que a interdisciplinaridade ganha novos contornos fora das denominações acadêmicas, dentro do cotidiano da educação básica brasileira. Com uma demanda crescente de mudanças no ambiente educacional, a interdisciplinaridade ganha espaço ao ser capaz de contextualizar os conteúdos curriculares sob uma perspectiva mais próxima da realidade dos educandos e educadores. Sobre este aspecto, Fazenda (1991, p. 20) destaca que na interdisciplinaridade escolar, as noções, finalidades, habilidades e técnicas visam favorecer sobretudo o processo de aprendizagem, respeitando os saberes dos alunos e sua integração. Através de uma situação-problema é feito um esforço conjunto, no qual são possíveis novos questionamentos sobre aspectos já estudados e a percepção de aspectos ainda não explorados, criando uma relação de troca recíproca que abre caminho para novas descobertas e novas perspectivas.  

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