A educação especial e a educação inclusiva
Relatório de pesquisa: A educação especial e a educação inclusiva. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: 159951 • 23/4/2014 • Relatório de pesquisa • 4.893 Palavras (20 Páginas) • 670 Visualizações
A EDUCAÇÃO ESPECIAL E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA:
COMPREENSÕES NECESSÁRIAS
Marlene ROZEK
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Resumo
Este artigo busca refletir sobre a Educação Especial no contexto da Modernidade e
problematizar a Educação chamada Inclusiva. Considera que as promessas de emancipação
pretendidas pela razão iluminista, desembocam na incorporação de concepções e práticas
educativas fortemente influenciadas pelo modelo de racionalidade derivado das ciências
empírico-matemáticas, revestindo-se de um caráter classificatório e excludente, ao não
considerar as contingências do processo educativo e, em particular, dos diferentes sujeitos
envolvidos neste processo.
Palavras-chave:
Educação especial; Educação inclusiva; Exclusão; Inclusão;
Diferença.
O mundo moderno, ao separar a natureza da cultura, ou da sociedade, estabeleceu,
acima de tudo, uma forma de raciocinar e de compreender o mundo, ou melhor, os mundos
natural, de um lado, e social, do outro. Para Santos:
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Doutoranda em Educação pela UFRGS. Professora da Faculdade de Educação da PUCRS. Coordenadora do
curso de Pedagogia da Instituição Educacional São Judas Tadeu, Porto Alegre/RS. E-mail:
rozek@cpovo.net
;
marlene.rozek@pucrs.br
.
O paradigma da ciência moderna, sobretudo na sua construção positivista, procura
suprimir do processo de conhecimento todo elemento não-cognitivo (emoção, paixão,
desejo, ambição, etc.) por entender que se trata de um fator de perturbação da
racionalidade da ciência. Tal elemento só é admitido enquanto objeto da investigação
científica, pois se crê que dessa forma será possível prever e logo neutralizar os seus
efeitos. A verdade, enquanto representação da realidade, impõe-se por si ao espírito
racional e desinteressado. Mesmo a paixão da verdade, que, em si, representa a fusão
de elementos cognitivos e não-cognitivos, é avaliada apenas pela sua dimensão
cognitiva. A paixão é incompatível com o conhecimento científico, precisamente
porque a sua presença na natureza humana representa a exata medida da incapacidade
do homem para agir e pensar racionalmente (1989, p. 117).
Esse modo de pensar a relação homem/natureza contribuiu para a afirmação do
homem como existência, ao proporcionar-lhe a sensação de dominação sobre a natureza e o
mundo. O estatuto científico das ciências físicas e naturais foi o instrumento utilizado para
garantir ao homem seu novo lugar perante o universo, “desvencilhado do cárcere doutrinário
da Igreja, que buscava controlar não só a ação humana, mas, acima de tudo, o seu
pensamento” (MARQUES; MARQUES, 2003, p. 224).
No entanto, para Santos:
Na fase de emergência social da ciência moderna, entre o século XVII e meados do
século XIX, a reflexão epistemológica representou uma tentativa genuinamente
frustrada de investigar as causas da certeza e da objetividade do conhecimento
científico, para daí deduzir a justificação do privilégio teórico e social dessa forma de
conhecimento. Tratou-se de uma tentativa genuinamente frustrada porque se frustrou
enquanto realização do que efetivamente se propunha: a investigação das causas como
base de justificação. A necessidade da epistemologia nesta fase foi a de criar uma
consciência científica, a consolidação, no interior da emergente comunidade científica,
da idéia de um saber privilegiado a que se submetia a própria filosofia quando dele
não se defendia em posição de fraqueza (1989, p. 224).
Para o autor, trata-se de um movimento frustrado, em que o equívoco encontra-se na
sua própria concepção, ao pretender reduzir o conhecimento científico às possíveis causas dos
fenômenos naturais observados. Essa pretensa “explicação de tudo” pelo saber científico deu
ao homem, em nome da ciência, o poder sobre o outro, principalmente daquele colocado na
condição de desviante do padrão absoluto de normalidade. Neste contexto, se formulou e se
impôs um discurso de incapacidade produtiva e de inferioridade existencial do sujeito
deficiente.
A Modernidade, descrita por Foucault (1989) e Bauman (1998) como sociedade
disciplinar ou normalizadora pode ser compreendida como um ambiente de sucessivos
confinamentos, cada qual com suas próprias leis e sanções disciplinadoras. A
instituição da norma absolutiza atitudes e pensamentos e o controle passa a ser uma
questão de estar “dentro” ou “fora” dos padrões estabelecidos como normas. Assim,
no cenário do mundo moderno, “a exclusão social se manifesta como formação
ideológica
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