Aquisição de leitura e escrita numa abordagem construtivista
Por: HelOo Cristina • 24/4/2019 • Trabalho acadêmico • 2.473 Palavras (10 Páginas) • 410 Visualizações
Aquisição de leitura e escrita numa abordagem construtivista.
Introdução
O texto aborda uma das grandes referências para o ensino brasileiro no que tange a alfabetização. Emília Beatriz Maria Ferreiro Shavi, pesquisadora e psicóloga argentina, se tornou doutora sob a orientação do biólogo suíço Jean Piaget, a qual buscou compreender os mecanismos cognitivos da criança voltados para o processo de aprendizagem da leitura e escrita. Ela procurou investigar não só os meios de como a criança aprende, mas o modo em que ela aprende. Tal pesquisa fora realizada de forma unicamente 2 bibliográficas pautadas principalmente na obra Psicogênese da Língua escrita desenvolvida por Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Juntas, conseguiram evoluir conceitos predominantes da aprendizagem da leitura e da escrita no processo de alfabetização. A proposta buscou identificar os pressupostos teóricos do construtivismo, bem como contribuir na práxis pedagógica dos professores alfabetizadores; além de repensar a aprendizagem numa abordagem construtiva, visando o sujeito construtor de sua aprendizagem. O trabalho traz grande relevância sobre como a escola e os professores têm aproveitado os conhecimentos que as crianças trazem consigo ao chegar à instituição educativa, mostrando o quão é necessário se fazer presente na vida do educando de forma a entender, contribuir e respeitar as etapas de alfabetização de cada um. Os conceitos e contribuições abordados por Emília Ferreiro a respeito da alfabetização, ressaltam uma das principais teorias da autora, o construtivismo, que enfatiza o desenvolvimento ao longo do processo de alfabetização, tais como: pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e alfabética, destacando as características de cada fase e como a criança as desenvolve durante o processo de alfabetização.
O Conceito de Alfabetização segundo Emília Ferreiro
Emília Ferreiro revolucionou o conceito de alfabetização por meio de pesquisas e investigações realizadas juntamente com Ana Teberosky, sobre o processo de aquisição da língua escrita na criança à luz da epistemologia psicogenética de Jean Piaget que resultou na obra intitulada Psicogênese da Língua escrita que se tornou referência teórica relacionada à alfabetização para a década de 80. Revelando o modo com que a criança constrói diferentes hipóteses sobre o sistema de escrita, antes mesmo de chegar a compreender o sistema alfabético. Ferreiro não indagava como se devia ensinar a escrever, mas sim, como alguém aprende a ler e a escrever, independentemente da metodologia de ensino, ressaltando a importância do deslocamento da ênfase do método em si mesmo para o educando e seu processo de construção do conhecimento. No princípio em que suas ideias chegaram ao Brasil na década de 80, houveram alguns equívocos por grande parte da população docente, interpretando que seria mais um método de alfabetização. Porém, o que Ferreiro e Taberosky trouxeram foi uma nova visão de como alfabetizar a criança, apresentando descrições fundamentais desse processo por meio da psicogênese da língua escrita. Segundo Leão (2011), Ferreiro e Teberosky evitaram sugestões para propostas didáticas de alfabetização, deixando essa tarefa a cargo de especialistas. Com isso, muitos alfabetizadores se sentiram perdidos, sem saber como conduzir os trabalhos em sala de aula, pois estava acostumado s seguir etapas, a realizar atividades preestabelecidas pelos métodos tradicionais, sem levar em consideração a realidade dos educandos (LEÃO, 2011, p. 31). Interpretações como essas em que o educador e a escola não levavam em consideração os conhecimentos já adquiridos pela criança ao chegar à escola e em que as atividades ensinadas baseavam-se apenas em seguir modelos já estabelecidos ao longo do tempo, incomodaram muitos alfabetizadores a partir desse novo olhar. Emília Ferreiro traz concepções de que todos os conhecimentos têm uma gênese (origem) e que a aprendizagem da escrita não está vinculada à fala, e mesmo quando a criança já estabelece a relação entre fala e escrita, esta relação ainda não é do tipo fonema (fala, som) e grafema (escrita, grafia). O processo de construção, nesse aspecto, significa permitir ao educando refletir sobre suas descobertas, seus conceitos e conhecimentos. Assim, de acordo com Leão (2011), quanto mais à criança tiver contato com a linguagem e a escrita, mais capacitada está a se aprofundar de sua estrutura e finalidades. Adquirir a linguagem, ter domínio da escrita e saber interpretar o que se leu exige bastante, mas a criança precisa passar por cada fase gradativamente, assimilando, conhecendo e reconhecendo, descobrindo e construindo suas próprias experiências sabendo que sua individualidade está sendo respeitada.
As descobertas de Emília Ferreiro ao longo de suas pesquisas sobre a psicogênese da língua escrita e embasamentos nos conceitos de Piaget implicaram bastante no contexto geral da alfabetização. Leão (2011) evidencia que: A prática de ensino, desde então, por meio da palavra ‘construtivismo’, ganha uma nova roupagem, novo olhar, nova interpretação; pois o processo de aquisição da língua escrita, contrapondo-se ao ensino tradicional de antes, que buscava métodos de como ensinar que desconsideravam o conhecimento e a experiência de ‘mundo’ que a criança possuía (LEÃO, 2011, p. 21). Dessa maneira, o construtivismo passa a ser visto como uma teoria fundamental da aprendizagem em que as crianças têm papel ativo no seu aprendizado, ou seja, elas constroem seu próprio conhecimento a partir da sua interação com a leitura e escrita, da valorização de seus conhecimentos prévios e da importância que exerce na obtenção de seu aprendizado. Segundo Emília Ferreiro (1986), a construção do conhecimento da leitura e da escrita tem uma lógica individual, tanto na escola quanto fora dela. Nesse contexto, não é a escola quem provoca a aprendizagem, mas a própria mente da criança que aprende. Para Ferreiro (1996) a leitura e escrita são sistemas construídos paulatinamente. As primeiras escritas feitas pelos educandos no início da aprendizagem devem ser consideradas como produções de grande valor, porque de alguma forma os seus esforços foram colocados no papel para representar algo. Essas escritas são conquistas importantíssimas para o indivíduo que aprende, pois ele vai descobrindo a sua maneira, reinventando a escrita. A construção do conhecimento por parte da criança precisa ser gradual correspondente ao seu nível de aprendizagem, pois nessa construção há superação de etapas. Nesse sentido, os erros cometidos pela criança devem ser considerados aspectos de grande valor, porque é a 7 partir dos erros que se pode evidenciar o que a ela “releu” e/ou como aprendeu o que lhe foi ensinado. Por pensar no processo de construção que a criança desenvolve ao longo de sua aprendizagem, que o construtivismo assume a relevância não de ser um método de ensino, voltado estritamente para como o professor deve ensinar, mas por ser uma teoria relacionada aos processos psicológicos da aprendizagem da criança tendo como foco a psicogênese, a origem da inteligência e dos conhecimentos, voltada exclusivamente para como o sujeito aprende. Dentro da perspectiva construtivista, a alfabetização é concebida como um processo de construção contínua e conceitual, tendo início bem antes da criança entrar na instituição escolar. Alfabetizar, nessa visão, significa construir conhecimentos. Desse modo, para ensinar a ler e escrever é necessário ter a compreensão de que as crianças passarão por processos distintos, paralelos e interligados, caracterizando o sistema de escrita e o uso da linguagem. Ferreiro (1996) mostra que a criança elabora uma série de hipóteses, trabalhadas por meio da construção de princípios organizadores, que é o resultado não só das vivências externas, mas também de um processo interno. Isso evidencia que a criança assimila, de forma seletiva, as informações que lhe é disponível e faz interpretações antes mesmo de compreender a relação entre os sons da linguagem e as letras. Nesse momento, a criança começa a perceber que essa escrita não é somente um traçado que define palavras, mas já tenta compreender o que essa escrita representa para o meio social. Ela já começa a conscientizar a distinção entre desenhos e escrita, entre o que é uma imagem e o que é um texto. Após perceber isso, a criança procura meios, formulando hipóteses para adquirir e internalizar todos esses conceitos. Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1986) ressaltam que essas soluções são baseadas nos conhecimentos prévios da criança, mas que para alcançar os conhecimentos reais da leitura e escrita, as crianças passarão por hipóteses até se apropriarem definitivamente do conhecimento e complexidade da língua escrita. De acordo com a Teoria da Psicogênese, toda criança passa por níveis e/ou hipóteses estruturais e gradativas. São elas: pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e alfabética. Dessa forma, é importante entender as definições de cada hipótese, para compreender o que cada uma delas representa dentro do processo de alfabetização da criança. A hipótese pré-silábica é um dos primeiros momentos da alfabetização escolar, na qual a criança supõe que pode escrever através de desenhos, rabiscos, letras ou outros sinais 8 gráficos, e que a escrita é outra forma de desenhar ou de representar as coisas, por isso ela usa os desenhos, chamados nessa etapa de garatujas3. Nesse momento, a criança ainda não estabelece vínculo entre fala (sonorização) e escrita (grafia). Caracteriza uma palavra como apenas a letra inicial e tem uma leitura global e individual do que escreve, ou seja, somente ela sabe o que quis escrever. É nessa etapa que a criança passa pelo realismo nominal, quando supõe que a escrita representa o nome dos objetos, que as coisas grandes devem ter nomes grandes e as coisas pequenas devem ter nomes pequenos. Desse modo, Morais (2012, p. 56) exemplificam que “o aprendiz pensa que formiga deve ser escrita com poucas letras, porque ‘ela é pequeninha’, ao passo que boi deve ter muitas letras, já que ‘é um animal muito grande’”. Esse fato justifica as possíveis hipóteses que a criança formula ao ir aprendendo o processo da escrita. Portanto, nessa fase a criança precisa saber distinguir o desenho da escrita, reconhecer que usamos letras para escrever e não apenas o desenho, identificar e escrever o próprio nome, atribuir valor sonoro às letras, aceitar que não é preciso muitas letras para se escrever apenas o necessário para representar a fala, perceber que palavras diferentes são escritas com letras em ordens ou posições diferentes que costuma não se repetirem, entre inúmeros outros fatores que a criança precisa ir aprendendo para se tornar alfabetizada. Na hipótese silábica, a criança já supõe que a escrita representa a fala e tenta fonetizar a escrita dando valor sonoro às letras “compreendendo que as diferenças na representação escrita estão relacionadas com o “som” das palavras” (LEÃO, 2011, p. 35). Também já supõe que a menor unidade de língua seja a sílaba, porém em algumas frases, pode escrever uma letra para representar cada palavra. Essa hipótese é considerada um avanço de qualidade na aprendizagem da criança, pois ela permite à criança encontrar um meio de compreender a relação entre a totalidade e as partes que compõem uma palavra conforme afirmam Ferreiro e Teberosky (1985). Entretanto, a criança ainda precisa saber atribuir valor sonoro a todas as letras, aceitar que não é preciso muitas letras para se escrever, apenas o necessário para representar a fala e perceber que palavras diferentes são escritas com letras em ordens diferentes, entre outras coisas. A criança inicia na hipótese silábico-alfabético, a superação da hipótese silábica. Passa a compreender que a escrita representa o som da fala, a fazer uma leitura termo a termo e não mais global, consegue combinar vogais e consoantes numa mesma palavra, na tentativa de 3 Rabiscos, desenhos, letras mal feitas, ainda em processo (BUENO, 2007, p. 381). 9 combinar sons, mas sua escrita ainda não é socializável. Porém, a criança já percebe a necessidade de mais de uma letra para a maioria das sílabas e reconhece o som das letras. De acordo com a afirmação de Morais (2012): A criança que já descobriu o que a escrita alfabética nota (a pauta sonora, ou seja, as partes orais das palavras que falamos), em lugar de achar que se escreve colocando uma letra para cada sílaba, descobre que é preciso “pôr mais letras” (MORAIS, 2012, p. 62). Para isso, é necessário que a criança reflita cuidadosamente sobre as sílabas orais, de modo a tentar notificar os pequenos sons em que elas são formadas, ao invés de tentar colocar uma única letra para cada sílaba. A criança precisa saber usar mais de uma letra para representar o fonema quando necessário e atribuir o valor sonoro a todas as letras particularmente. Isso depende do ensino, dos recursos utilizados e de como o professor alfabetizador encaminha suas metodologias para alfabetizar conforme a necessidade de cada alfabetizando. Na etapa da alfabetização chamada de hipótese alfabética, a criança já compreende que a escrita tem uma função social muito importante, que é o da comunicação. Compreende o modo de construção e formação do código da escrita, entretanto, pode omitir as letras quando mistura as hipóteses alfabética e silábica, mas não tem problemas de escrita no que se refere a conceito. A criança já conhece o valor sonoro de todas ou quase todas as letras, apresenta estabilidade na escrita das palavras, procura adequar a escrita à fala, faz leitura com ou sem imagem. Nesse momento, ela também já inicia a preocupação com as questões ortográficas, separa as palavras quando escreve frases, produz textos de forma convencional, mas ainda precisa adquirir coerência com as questões ortográficas e textuais (parágrafo e pontuação) e aprender a usar a letra cursiva. Segundo Leão (2011, p. 36) nessa hipótese, “constata-se a estruturação dos vários elementos que compõem o sistema de escrita e a criança começa a diferenciar algumas unidades linguísticas, como letras, sílabas e frases”. Nesse momento a criança passa a compreender o verdadeiro sentido que as letras, sílabas e frases exercem para sua formação social. Todas essas hipóteses supostas que a criança desenvolve, são de extrema relevância para o aprimoramento de seu aprendizado. Nesse aspecto, o professor e a escola precisam adquirir meios eficazes para auxiliar e contribuir no processo de ensino e de aprendizagem do alfabetizando, a fim de garantir a melhoria constante do processo construtivo.
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