DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA SALA DE AULA
Por: rencato • 28/3/2016 • Trabalho acadêmico • 5.903 Palavras (24 Páginas) • 622 Visualizações
ANTÓNIO ANDRÉ RENCA
DISCIPLINA E INDISCIPLINA NA SALA DE AULA
Métodos e Técnicas de Administração Escolar
Mestrado em Análise Social e Administração da Educação
Departamento de Ciências da Educação
Universidade de Aveiro
Fevereiro de 2007
ÍNDICE
Introdução 1- A indisciplina 1.1. Clarificação conceptual 2. A sala de aula, principal palco de interacções 2.1. Comunicação e indisciplina na sala de aula 3- Explicação causal da indisciplina na sala de aula 3.1- A indisciplina da responsabilidade do professor 4.2- A indisciplina da responsabilidade do aluno Conclusão Bibliografia | 3 5 5 6 6 9 10 12 15 17 |
INTRODUÇÃO
A escola é uma organização social onde diversos actores se relacionam no seu dia a dia. O funcionamento de qualquer organização traz implícita a questão do conflito e da indisciplina, inerente às inúmeras interacções que se processam no seu seio, porque qualquer relação, por mais pacífica que seja, pode, a qualquer momento, transformar-se numa fonte de conflitos.
Em muitas das nossas escolas, é frequente existirem comportamentos que se afastam do normal funcionamento de uma organização dotada de características específicas e onde o número de actores em interacção é muito elevado e muito diversificado. São os comportamentos desviantes ou indisciplinados.
"Indisciplina", "mau comportamento", "irreverência", "falta de respeito", são palavras e expressões que habitualmente se ouvem na sala de professores, nos corredores, enfim, no recreio, pronunciadas por professores, auxiliares da acção educativa e outros agentes do processo educativo. Elas constituem, sem dúvida, a grande preocupação de todos os que se encontram ligados ao ensino, porque condicionam e afectam o normal funcionamento da escola em geral e das aulas em particular. São problemas sentidos de forma profunda pelos principais implicados no processo ensino/aprendizagem - os professores que, certamente, já sobre eles reflectiram, mas nem sempre conseguiram explicações e respostas: problemas dos alunos? dos professores? outros? " São várias as escolas onde se fala dos vidros partidos e paredes riscadas, muitas queixam-se da "violência" dos alunos entre si e algumas relativamente aos professores e pessoal auxiliar e a maioria refere os distúrbios na sala de aula que, ainda que não em níveis preocupantes, impedem o professor de transmitir todos os seus saberes. Na referência às situações em geral e aos alunos em particular são frequentes expressões como "não têm respeito por ninguém", "falta-lhes boas maneiras", "não se sabem comportar como deve ser" ou então "não sabem aguardar sossegados pelos professores” (Vale e Costa, 1994: 256).
A indisciplina, que inequivocamente existe e provoca desequilíbrios importantes ao normal funcionamento do grupo/turma e das escolas em geral, é normalmente atribuída aos alunos que chegam à escola «marcados» por problemas familiares, económicos, sociais, raciais, étnicos, de insucessos repetidos, etc. (Estrela, 1991). Contudo, as causas da indisciplina ultrapassam o universo dos alunos e centram-se, por vezes, na actuação dos próprios professores, funcionários e outros agentes responsáveis pelas escolas. Este problema leva a uma análise sobre a formação dos agentes educativos, sobretudo os que contactam directamente com os alunos - professores dentro e fora da sala de aula e auxiliares da acção educativa em toda a escola. Também as carências materiais dos estabelecimentos de ensino, nomeadamente equipamentos didácticos, poderão contribuir para gerar ou agravar situações de indisciplina.
Num grupo/turma indisciplinado todos os alunos, bem comportados ou não, têm a perder: não conseguem apreender os conhecimentos que o professor pretende transmitir o que se reflectirá, indubitavelmente, no sucesso ou insucesso da aprendizagem. Neste contexto, alunos que no seu percurso instrutivo não consigam adquirir uma sólida formação escolar, técnica ou profissional, dificilmente conseguirão integrar-se, sem problemas, no mundo do trabalho ou na sociedade em geral. A sua socialização pode ficar irremediavelmente afectada. Casos haverá, certamente, em que alunos com graves problemas de indisciplina, na escola, poderão enveredar pelo caminho da delinquência, fora dela (Estrela, 1991).
A indisciplina na sala de aula afecta também o desempenho dos professores. Em turmas indisciplinadas os docentes vêem-se obrigados a adoptar atitudes pouco consentâneas com a sua função de formadores/educadores, o que, por vezes, lhes provoca situações de mal-estar, «stress» e os deixa psicologicamente afectados: são os conteúdos programáticos que não são integralmente cumpridos, é a relação pedagógica que não funciona, é a sua própria autoridade como professor e como adulto que é posta em causa por «miúdos» irreverentes e desafiadores (Estrela, 1991).
Da experiência profissional como professor, onde os contactos com os problemas disciplinares são muito sentidos, nasceu o interesse pelas questões da disciplina/indisciplina, a vontade de as aprofundar, tendo consciência de que muito há para descobrir e aprender no que diz respeito aos comportamentos ditos indisciplinados. Procurar-se-á, assim, responder a algumas inquietações pessoais e, eventualmente, contribuir para esclarecer alguns aspectos da indisciplina na escola.
Em termos de organização o trabalho começa com uma clarificação conceptual de indisciplina. No segundo ponto, e porque a comunicação assume um papel fundamental no processo de ensino aprendizagem, alongamo-nos um pouco na relação entre a comunicação e a indisciplina na sala de aula. No terceiro ponto analisam-se as possíveis causas da indisciplina na sala de aula, tendo apenas como intervenientes os professores e os alunos. Na conclusão, para reflexão, apontam-se alguns aspectos que poderão servir para prevenir a indisciplina na sala de aula ou, pelo menos, para a suavizar.
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