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Educação e correntes pedagógicas no Brasil: um estudo a partir da formação dos trabalhadores técnicos da saúde. Rio de Janeiro

Por:   •  24/4/2019  •  Resenha  •  1.948 Palavras (8 Páginas)  •  402 Visualizações

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O capítulo 4 da obra traz um panorama sobre as correntes pedagógicas que influenciaram a educação brasileira, que Saviani (1985) classifica em críticas e não críticas. Iniciando pelas teorias não críticas, a primeira a ser vista é a pedagogia tradicional, onde Saviani lembra que a constituição do chamado sistema de ensino, com o princípio que a educação é um direito de todos, iniciou no século XIX. No entanto, para a massa proletária (trabalhadores), embora se defendesse esse direito, deveria ser uma educação mais elementar, apenas para evitar a completa brutalização do homem.

Nesse cenário, e baseado em predecessores como Locke, Comênio, Rousseau, Pestalozzi e Kant, Hebart conferiu a pedagogia um caráter científico e elaborou uma teoria da instrução formal onde o aluno é receptor passivo e o professor é o detentor do saber e deve seguir cinco passos para aprendizagem: preparação, apresentação, assimilação, generalização e aplicação. Como crítica a este processo que ignora a ação do aluno em sua aprendizagem, John Dewey traz uma nova teoria da educação denominada pedagogia nova cuja a maior diferença reside em como explicavam a marginalidade do ser.

Enquanto para a pedagogia tradicional a marginalidade reside na ignorância, para a pedagogia nova o ser marginalizado não é ignorante, mas sim rejeitado. Nesse sentido, a pedagogia nova propõe um tratamento diferenciado dos alunos a partir de suas diferenças individuais. Saviani aponta que se foi de uma pedagogia centrada na ciência lógica para uma pedagogia de inspiração experimental, onde o importante é aprender a aprender. Dewey diz que a informação só se constitui em conhecimento quando se compreende a utilidade de diversas partes da informação adquirida em suas relações recíprocas. "O papel do currículo escolar não seria predeterminar experiências e sim o de transformar experiências vividas". Ou seja, aprendizagem significativa. Este método de ensino também se desenvolveria em cinco fases: percepção, intelectualização da dificuldade, hipótese, experimentação e comprovação da hipótese. O caráter não critico da pedagogia nova fica explícito na ausência da perspectiva historicizadora, faltam-lhe os condicionantes histórico-sociais da educação.

Gramsci afirmou não ser suficiente que a escola fosse ativa, precisava ser unitária e criadora. A escola nova criticou a escola tradicional por seu método mecânico e repetitivo, porém anulou o caráter científico do conhecimento já produzido.

Já sobre o tecnicismo, pode-se dizer que como teoria pedagógica, advém da concepção produtiva da educação. Sob a hegemonia do capital, a política educacional foi submetida ao rígido planejamento da relação custo-benefício promovida pela educação, associada às demandas do setor produtivo. A grosso modo, pode-se dizer que a pedagogia tecnicista se apoia em três referências principais: administração científica do trabalho, a teoria dos sistemas e a psicologia comportamental. Esses princípios do trabalho (Taylor) foram a escola baseado no isomorfismo entre o processo produtivo e o educativo, que no processo escolar materializou-se na forma do currículo. Segundo Doll Jr (1997), o currículo tornou-se uma preocupação nacional nos Estados Unidos, um currículo baseado na eficiência e na padronização, com base em observações dos processos de trabalho. Visão esta que foi respaldada pela psicologia de Skinner e pela pedagogia de Bloom. Esta visão também foi observada no Brasil, nas reformas educacionais de 1968. O planejamento curricular determinava os fins educacionais antes de qualquer experiência que na lógica capitalista visava a profissionalização e condução ao emprego.

A operacionalização dos objetivos e a mecanização do processo de ensino-aprendizagem são características fundamentais do tecnicismo. Nessa teoria pedagógica professor e aluno ocupam posição secundária, pois o elemento principal passa a ser a organização racional do meio. O tecnicismo pedagógico considera a equalização social como equilíbrio do sistema.

Em seguida vem a pedagogia das competências e o (neo) pragmatismo onde as competências seriam as estruturas ou esquemas mentais responsáveis pela interação dinâmica entre os saberes prévios dos indivíduos e os saberes formalizados. Faz-se necessário reconhecer o construtivismo piagetiano como parte da pedagogia das competências. Para compreender a pedagogia das competências é preciso reconhecer o construtivismo piagetiano, uma vez que para Piaget o conhecimento seria um instrumento mental empregado no processo de adaptação do indivíduo ao meio.

Neste sentido o significado do lema aprender a aprender, que nasce com o pragmatismo, tem a finalidade da intervenção pedagógica contribuindo para que o aluno desenvolva a capacidade de realizar aprendizagens significativas por si mesmo. É mais importante o aluno desenvolver um método de aquisição do conhecimento do que aprender conhecimentos descobertos e elaborados por outras pessoas.

Carvalho (2001), faz uma crítica a esta concepção por centrar-se nos aspectos psicológicos da representação mental do sujeito desprezando que o conhecimento é formulado em uma linguagem pública e compartilhável. Na pedagogia das competências, os saberes são construídos pela ação, quando as estruturas mentais são desequilibradas diante de uma situação desafiadora, mobilizando a inteligência prática.

O modelo de competências aplicado a uma educação profissional adequa-se plenamente aos princípios taylorista-fordista de trabalho. Como visto anteriormente, a pedagogia nova e o tecnicismo tem aporte psicológico importante. Na pedagogia nova encontramos o construtivismo piagetiano enquanto o tecnicismo valeu-se da teoria condutivista de Skynner e Bloom. As competências profissionais são reduzidas a desempenhos observáveis, a natureza do conhecimento é reduzida ao desempenho que ele pode desencadear.

Perrenould, mesmo considerando o desenvolvimento mais metódico das competências como uma via para a escola sair da crise do sistema educacional, lembra que na escola sempre se tratou de desenvolver as faculdades gerais ou pensamento, além da assimilação dos conhecimentos. Portanto, na visão de Perrenoud, a abordagem por competências, não faria mais que acentuar essa orientação.

A mudança fundamental se dá em relação ao referencial a partir do qual se selecionam os conteúdos, que não são mais a partir das ciências, mas da prática ou condutas esperadas. Na análise de Perrenoud sobre a relação entre competências, objetivos e desempenhos, os objetivos são as metas explícitas e comunicáveis aos estudantes. O desempenho observado seria um indicador mais ou menos confiável de uma competência, que é medido indiretamente.

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