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Fundamentação Teórica – Educação Infantil

Por:   •  22/11/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.948 Palavras (8 Páginas)  •  374 Visualizações

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Fundamentação Teórica – Educação Infantil

O termo “infância”, assim como sua concepção e/ou conceito foram construídos historicamente, porém, como se sabe, nem sempre essa palavra fez parte do vocábulo humano. Isso se explica pelo fato de que as crianças não eram consideradas cidadãs, pois eram vistas como “adultos em miniaturas” que não precisavam de carinho ou atenção, já que eram julgadas como seres inferiores aos adultos.  Ariés (2012) retrata que, no período medieval, a partir do momento em que a criança começava a agir sem que fosse necessária a intervenção e a ajuda da mãe, ela poderia ser considerada adulta, sem haver, portanto, distinção dela com os mais velhos. Ressalta-se, também, que “elas não tinham um tratamento diferenciado, nem um mundo próprio, não existia neste período, o chamado sentimento de infância” (NIEHUES; COSTA, 2012, p. 284). Assim, também é possível observar que a criança se desenvolvia por meio das suas relações e imitações das atitudes dos adultos.

Na sociedade medieval, a infância era completamente ignorada e, por isso, as condições de tratamento que as crianças recebiam eram precárias, fazendo com que o índice de mortalidade infantil fosse muito alto, mas isso não preocupava aos adultos, já que poderiam ser facilmente substituídas por outras. Além disso, segundo Ariès (2012, p. 22), “não se pensava, como normalmente acreditamos hoje, que a criança já contivesse a personalidade de um homem” e, por isso, quando ocorria a morte de uma, essa falta logo poderia ser suprida com o nascimento de outra.

É imprescindível enfatizar, ainda, que a criança era uma projeção da vida adulta, isto é, não se pensava no presente momento da vida dela – a infância, mas no que era necessário fazer e priorizar para que ela fosse uma boa cidadã no futuro. Dessa maneira, destaca-se que

o sentimento de infância não existia na Idade Média, a ela não se dispensava um tratamento específico correspondente à consciência infantil e as suas particularidades que a diferenciasse dos adultos. Tão logo a criança não necessitasse mais da mãe ou da ama ela já era inserida na sociedade dos adultos e assim participava de jogos, de afazeres domésticos ou trabalhava como aprendizes. Suas roupas eram incômodas e similares à do adulto. Essas vestimentas impossibilitavam a criança à liberdade de movimento, tirando-lhe o prazer em correr, sujar-se, subir em árvores, podando-lhe de tudo aquilo que faz parte do mundo infantil descaracterizando-a daquilo que realmente é. (LUSTIG et al, s/a, p. 05)

Outro ponto interessante a se destacar é que a criança, assim como a infância, não era representada pela arte medieval. Percebe-se, portanto que, “até por volta do século XII, a arte medieval desconhecia a infância ou não tentava representa-la”. Assim, é possível afirmar que “é difícil crer que essa ausência se devesse à incompetência ou à falta de habilidade. É mais provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo” (ARIÈS, 2012, p. 17). Nesse sentido, através das produções artísticas, é possível compreender o espaço que a criança ocupava na sociedade da época, uma vez que as obras representavam apenas os adultos e, em alguns casos, pessoas um pouco menores.

De acordo com Ariès (2012), somente a partir do século XVIII que a concepção ou, então, a ideia de criança/infância foi se modificando e tornando-se parte da sociedade. Na perspectiva do autor, os novos pensamentos e condutas da Igreja Católica fizeram com que surgissem novos modelos de família, quer dizer que a criança passou a ser, de certa forma, estimada por seus familiares, já que os laços de sangue começaram a ter importância.

A infância passa a ser reconhecida, de acordo com Heywood (2004) a partir do discurso cristão do “culto ao menino Jesus” e do “massacre dos inocentes” praticado por Herodes. Segundo o autor, passa a se difundir a idéia de que a criança é um mediador do céu e da terra, e que destes vêm falas de sabedoria. Foi neste cenário, que se emerge o sentimento de infância. (NIEHUES; COSTA, 2012, p. 285).

O sentimento de infância passou a fazer parte da sociedade apenas a partir do século XVIII, pois se reconhecera que a criança necessitava de uma atenção especial e, dessa forma, “a concepção de infância se efetivou. A partir daí elas passam, do ponto de vista biológico, a ser tratadas com particularidades, a serem percebidas na sua singularidade por possuírem sentimentos próprios” (NIEHUES; COSTA, 2012, p. 285). Foi a partir disso que as famílias começaram a ter interesse pelos estudos dos filhos e a criança saiu, então, do anonimato. De acordo com Niehues e Costa (2012, p. 286), “nessa circunstância, os pais começaram a preocupar-se com a educação das crianças e proporcionar a elas seu mundo próprio”. Nesse sentido, a criança é considerada como um ser competente, que possui necessidades, capaz de pensar e agir, isto é, são caracterizadas como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito próprio. Além disso, utilizam-se das mais variadas linguagens, exercendo, assim, capacidades de terem ideias originais sobre o que pretendem desvendar.

Desse modo podemos considerar a infância como uma classe psicobiológica e sócio-histórica, pois são levados em consideração suas capacidades sensoriais e intelectuais, de gênero, raça, e também quais instituições possuem poder de discurso moral sobre as crianças, seja ela o estado, a igreja ou a família. (NIEHUES; COSTA, 2012, p. 288).

Nesse ínterim, pensando no exposto até aqui, é possível descrever e entender a infância como a fase inicial da vida da criança, sendo, portanto, primordial que ela se desenvolva através do afeto e da atenção, principalmente, dos seus familiares. É importante, além disso, que haja, nesta fase, estímulos e incentivos à aprendizagem para que ela possa explorar o mundo que a permeia de maneira criativa e significativa. Assim, constata-se que, na infância, a criança requer cuidados e proteção.

Nesse sentido, também faz-se necessário pensar a infância no âmbito educacional, uma vez que a criança é um sujeito histórico, social e cultural. De acordo com Kramer (2000), há grandes desafios que são enfrentados pelos profissionais que atuam na educação e com as políticas sociais voltadas para a infância.

Segundo a autora, esses desafios são relacionados à

Questões relativas à situação política e econômica e à pobreza das nossas populações, questões de natureza urbana e social, problemas específicos do campo educacional que, cada vez mais, assumem proporções graves e tem implicações sérias, exigindo respostas firmes e rápidas, nunca fáceis. Vivemos o paradoxo de possuir um conhecimento teórico complexo sobre a infância e de ter muita dificuldade de lidar com populações infantis e juvenis. Refletir sobre esses paradoxos e sobre a infância, hoje, é condição para planejar o trabalho na creche e na escola e para implementar o currículo (KRAMER, 2000, p. 14). 

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