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Globalização e interdisciplinaridade: o Currículo Integrado (Jurjo Torres Santomé)

Por:   •  1/11/2016  •  Resenha  •  2.045 Palavras (9 Páginas)  •  2.843 Visualizações

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O presente texto trata de uma resenha analítica dos capítulos quatro, cinco e seis do livro “Globalização e Interdisciplinaridade: o currículo integrado”, de Jurjo Torres Santomé. Santomé é professor catedrático da disciplina de Didática e Organização Escolar na Universidade da Corunha, além de estudar temas referentes ao currículo e currículo integrado. Neste livro, o autor oferece várias sugestões para a elaboração de propostas para trabalhos interdisciplinares, sempre apresentando aspectos históricos e culturais para enriquecer as discussões.

No quarto capítulo do seu livro, Santomé discorre sobre a necessidade de se trabalhar um currículo voltado para a diversidade, partindo do princípio de que se deve estudar todas as culturas, sem julgamento de valores ou hierarquização. Para ele, a concretização das finalidades educacionais se constitui como o elemento central que permeia a análise das diferentes propostas de ação docente. Um exemplo de finalidade é a formação de sujeitos críticos e ativos socialmente. Para isso, o currículo escolar deve propor situações que façam os alunos pensarem e se posicionarem de maneira, muitas vezes, antagônica a do professor. Desta forma, a educação se distancia do modo tradicional e bancário. Nesse processo de constituição de sujeitos, a atenção aos conteúdos culturais assume fundamental importância.

De modo geral, Santomé aponta como comum nos livros didáticos e práticas docentes a reprodução de uma cultura hegemônica, excluindo ou estereotipando a cultura das minorias. Como exemplo destas, o autor traz a cultura das nações do Estado espanhol; culturas da infância, juventude e velhice, cultura dos trabalhadores pobres, especialmente ribeirinhos e rurais, além da cultura das mulheres, lésbicas e homossexuais.

Segundo o texto, ao considerarmos a educação como uma atividade ética e política, só serão obtidos resultados positivos caso educadores e escola tenham o compromisso de servir a atender cuidadosamente a comunidade a qual integram. Se a sala de aula for espaço de debate, os estudantes serão capazes de transpor as discussões, refletindo sobre o mundo que ajudam a construir. Assim, evita-se a criação de imagens deformadas sobre as culturas das minorias, bem como a reprodução dos estereótipos.

O autor critica fortemente o que chama de “currículo de turistas”, que é a abordagem das culturas minoritárias com a mesma visão que um turista visita um local desconhecido: procurando levantar aspectos alimentares, o folclore e etc. Nesse currículo, desliga-se as condições de cada cultura das situações cotidianas de sala de aula e do dia a dia dos alunos, trata-as como exóticas ou como recordações repletas de estereotipia e tergiversação, que torna natural a opressão e a marginalização sofridas pelos representantes das mesmas. Reproduz-se também ideias de cunho paternalista e hierárquico em relação às diversas culturas.

Como resposta a esse padrão repleto de pré-conceitos, aponta-se a educação pautada na antimarginalização. Esta tem por base a reconstrução dos conhecimentos e saberes dos diferentes grupos sociais do mundo, descontruindo dinâmicas políticas, históricas e semióticas que reproduzem os pensamentos já elencados. Para isso é necessário considerar os conhecimentos prévios dos alunos, já que muitos pré-conceitos se formam em instituições como a família. Esses conceitos formados com base em reproduções do senso comum devem ser refletidos criticamente, a fim de ressignificar conceitos e concepções. Dessa forma, um currículo com tal perspectiva parte da reconstrução da história e da cultura dos povos excluídos e estanciados.

Como educadores, particularmente, consideramos inconcebível que ainda mantenhamos um olhar voltado para a cultura da maioria, quando, ao observarmos nossa própria sala de aula, percebemos que não é possível que haja heterogeneidade: o grupo, assim como a sociedade, constitui-se nas diferenças. Pensamos que, para estudarmos de maneira igualitária todas as culturas, devemos partir do que cada aluno tem a nos oferecer. A diversidade não mora longe, ela nos acompanha, nos constitui e, por isso, deve ser estudada sem pré-conceitos ou estigmas, trazendo os estudantes para voz ativa e protagonizando seus próprios processos de aprendizagem. Considero de indispensável importância, também, que processos históricos sejam levantados com os alunos, pois, somente assim, eles se tornarão capazes de entender o porquê das desigualdades e da submissão a que são submetidas algumas culturas.

No quinto capítulo do livro Globalização e Interdisciplinaridade, Santomé discorre sobre os livros didáticos. Ele inicia explicitando que durante muitos séculos a educação se baseou em exposições orais, no armazenamento e reprodução memorístico, somente tendo modificado seus métodos quando a imprensa se desenvolveu. O surgimento dos livros-texto ocorreu de modo simultâneo à difusão dos catecismos: e educação era vista como modo de evangelização e de cristianização e, de forma alguma, como modo de emancipar o homem.

Segundo o texto, outro movimento proeminente na história da utilização dos livros-texto foi o enciclopedista, que objetivava compilar em um só livro tudo o que era necessário para fazer uma pessoa deixar de ser analfabeta. Estes sofreram duras críticas, ao serem considerados medíocres insossos e atrasados, apresentando uma imensa pobreza de conteúdo. Somente com a Revolução Francesa, um marco na história dos livros-texto, que se passou a aceitar apenas os escritos de pessoas sábias, com elevado conhecimento em uma ciência. Aqui nós temos o embrião do livro utilizado até hoje nas salas de aula, cuja finalidade é essencialmente educativa.

Santomé elenca, considerando o elemento histórico, dois fatores que diferenciam os livros-texto dos livros comuns: o direcionamento aos alunos e alunas e a finalidade de ser utilizado em escolas. Contudo, acrescenta um terceiro elemento que permeia as práticas adotadas atualmente: o direcionamento aos professores, que possuem poder de decidir qual livro será utilizado ou não. Contudo, um livro-texto não chega ao professor sem antes ter o aval do Ministério da Educação, que verifica se o material atende aos requisitos para formar uma “pessoa educada”, ou seja, a definição institucional de “cultura”. Essa não é uma realidade apenas do Brasil: assim que esse recurso surgiu nas instituições escolares, os governos passaram a realizar um controle dos mesmos. Ele se torna um reprodutor de ideologia do governo, disseminando e legitimando determinada visão de sociedade, história e cultura. Um exemplo disso é a Alemanha nazista em que os livros-texto pregavam o antissemitismo, ajudando a fortalecer o regime de Hitler.

Assim,

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