HIPERATIVIDADE OU FALTA DE LIMITES ?
Por: simoneolvieira • 7/5/2018 • Dissertação • 531 Palavras (3 Páginas) • 245 Visualizações
EM FOCO: HIPERATIVIDADE OU FALTA DE LIMITES ?
Que o mundo escolar passa por grandes dificuldades em nossos dias, disso não resta a menor dúvida. Preocupam-nos a falta de estrutura (material, humana e salarial), a insegurança, os altos índices de violência, a baixa qualidade dos encontros presenciais entre professor e aluno... tudo isso é bem mais do que conhecido da população. Mas o que vem reduzindo as minhas horas de sono habituais é a verdadeira pandemia de crianças e adolescentes rotulados como “hiperativos”. Já na Educação Infantil, os pais justificam a inquietação e o mau comportamento de seus bebês: “Ah, ele é hiperativo, professora. Não gosta de regras. Não consegue ficar quieto. Não gosta de ser contrariado.” Chegando nas séries iniciais, novas justificativas para as tarefas não cumpridas: “Ela é hiperativa, não gosta de copiar do quadro.” Ou então, uma explicação simples para os conflitos e brigas com colegas: “Ele é hiperativo, não consegue se controlar.”
Ora, cabe salientar alguns pontos essenciais nesta questão. Primeiro: nem toda a criança agitada ou mal comportada sofre de hiperatividade ou TDA – transtorno do déficit de atenção. Esses distúrbios são descritos como doenças e podem ser passíveis de medicação. Segundo: a hiperatividade e o TDA só podem ser diagnosticados a partir dos 6-7 anos, prazo mínimo para que o cérebro infantil possa adquirir maior/melhor organização. Terceiro: somente um especialista (neurologista/psiquiatra/médico) pode diagnosticar uma criança ou adolescente como portador de hiperatividade ou transtorno do déficit de atenção, a partir da realização de exames complementares à sua observação. A partir do resultado desses exames, o laudo deverá ser elaborado e apresentado à escola. A adaptação curricular só poderá ser feita a partir desse documento. Uma criança não pode ser rotulada de hiperativa por seus pais ou familiares, nem por seus professores.
Ocorre que o país mudou, a sociedade e a economia também. Hoje temos crianças que passam pouco ou quase nenhum tempo com seus pais. Resta aos progenitores uma difícil escolha: exercer a função de educar seu filho nas poucas horas disponíveis ou conquistar um bom comportamento a partir dos mimos e evitando confrontos ? “Ah, ele não quer dormir agora, tudo bem. A gente coloca uma tv no quarto e ele fica assistindo quietinho.” “Não quer jantar e prefere comer uma pizza ? Tudo bem, melhor do que ficar chorando nos nossos ouvidos.” “Não entendeu o tema ? Amanhã pede para a professora explicar de novo. Agora a mãe tá cansada.” E assim contribuímos, mesmo que indiretamente, para a geração do “tudo-pode-desde-que-fique-quietinho-e-não-incomode-o-papai-ou-a-mamãe”. Educar pode ser uma tarefa árdua... construir limites cansa. Então torna-se mais fácil colocar um crachá de identificação no filho: “Sou hiperativo. Meus pais não tem culpa”.
É hora de acordar, família ! Vamos parar de justificar nossa inércia diante da falta de limites dos nossos filhos com rótulos: genioso, hiperativo, personalidade forte... Construir limites é saudável e essencial para um bom exercício da cidadania. Pensem nisso.
Claudia Figueiró Souza
Orientadora Educacional – AOERGS 4843
Psicopedagoga – ABPp/RS 050210
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