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O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE E FORMAÇÃO INTEGRAL DO EDUCANDO

Por:   •  16/4/2022  •  Trabalho acadêmico  •  7.550 Palavras (31 Páginas)  •  98 Visualizações

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O PARADIGMA DA COMPLEXIDADE E

A FORMAÇÃO INTEGRAL DA CRIANÇA

Vivemos na era da globalização, um fenômeno com dimensões sociais, políticas, culturais, onde diversos aspectos da vida humana são interligados de forma complexa. Como consequência, verifica-se que um novo mundo se forma. Mais do que tecnologias, é mudança de cultura, de práticas de vida e as modificações na esfera do trabalho, em nível global refletem-se no redimensionamento do trabalho pedagógico. Nesse contexto, o sociólogo e filósofo francês Edgar Morin chama a atenção para a natureza complexa do ser humano e do conhecimento:

O que é a complexidade? A um primeiro olhar, a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. (MORIN, 2015, p. 13)

O pensamento complexo, postulado por Morin, é um paradigma que tenta mostrar o “tecido comum” que une todos os saberes. Em seus escritos, o estudioso apresenta o educando como um indivíduo multidimensional, natural, político, moral, físico e social, que traz consigo uma complexidade que vem tanto de suas características biológicas, quanto histórico-culturais.

Assim, recomenda que a educação das futuras gerações seja capaz de formar cidadãos aptos a contextualizar e religar diversas dimensões da vida e propõe a prática educativa como um processo transformador, permanentemente movido a um saber não fragmentado, não dividido e não reducionista.

É notório que o sociólogo vê o mundo como um todo indissociável ao evidenciar a importância de desenvolver uma nova concepção de teorias abertas, racionais, críticas, reflexivas, autocríticas, aptas a auto reformar-se, que permitam desenvolver o pensamento complexo, capaz de abordar problemas globais que contextualizam suas informações parciais e locais, pois, para o estudioso, a dificuldade de compreender o mundo reside na ausência de capacidade de contextualizar e globalizar. Entretanto, como isso se dá em um sistema educativo que privilegia a separação, em vez de praticar a ligação, e que repassa o conhecimento adquirido como verdade conclusa e absoluta?

O ensino tradicional há muito não corresponde às suas reais necessidades e problemas. A escola concebida como um negócio, a inteligência reduzida a instrumento para alcance de um dado fim e o conhecimento transmitido restrito ao conteúdo empregável no mundo do trabalho, são questões a serem repensadas.  Por ser um sistema de ensino compartimentado, desde os anos iniciais, onde se privilegia o verbal, o escrito, o oral, em detrimento das outras formas de expressão e, o desempenho intelectual em detrimento de outras atividades, estabelece que o aluno receba, memorize e arquive conhecimentos que pouco ou nada têm a ver com suas experiências, necessidades e interesses, fazendo com que a compartimentação do ensino corresponda a compartimentação entre a vida e a escola. Segundo Morin:

A inteligência parcelada, compartimentada, mecanicista e reducionista rompe o complexo do mundo em fragmentos, fraciona os problemas, separa o que está unido, torna unidimensional o multidimensional. É uma inteligência míope que acaba por ser normalmente cega. Destrói no embrião as possibilidades de compreensão e de reflexão, reduz as possibilidades de julgamento corretivo ou de visão em longo prazo. [...] Incapaz de considerar o contexto e o complexo planetário, a inteligência cega torna-se inconsciente e irresponsável. (MORIN, 2011, p. 40)

Essa é a educação que, por um longo tempo, nos ensinou a separar, isolar e dissociar conhecimentos, a fim de produzir uma mão de obra qualificada e melhoria técnica. É a educação que acompanha e consagra, não só a evolução social e política, como também, a evolução técnica e econômica. E, esta dupla evolução tem se repetido ao longo da história, fazendo com que os grandes problemas humanos sejam ignorados em benefício dos problemas técnicos.

Entretanto, o processo de mundialização impulsiona transformações que promovem questionamentos na forma de ver e conceber a escola e o ensino. A instituição escolar passa a configurar-se como um espaço de encontro humano, onde várias situações sociais são oportunidades para a construção do conhecimento. Da mesma forma, o ambiente escolar não é mais o limite para a educação numa sociedade complexa e globalizada.

Isso se traduz na necessidade de se redimensionar o espaço e a função social da escola, ou seja, organizar os processos de aprendizagem dos alunos, de forma que eles desenvolvam competências necessárias para serem cidadãos plenos, uma vez que, o acesso à educação é um direito e a escola deve ser o local que possibilite a capacidade de construção de conhecimento, proporcionando oportunidade para discussão em direção à sociedade, nos níveis econômico, político e social.

        Nessa direção, a partir da BNCC (2017), podemos observar uma mudança estrutural na forma de compreender a educação e o estudante. O documento entende o educando como um ser humano integral, complexo e único, com características físicas e emocionais, que precisam ser consideradas e valorizadas em todo o processo de aprendizagem:

[...] A Educação Básica deve visar à formação e ao desenvolvimento humano global, o que implica compreender a complexidade e a não linearidade desse desenvolvimento, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Significa, ainda, assumir uma visão plural, singular e integral da criança, do adolescente, do jovem e do adulto – considerando-os como sujeitos de aprendizagem – e promover uma educação voltada ao seu acolhimento, reconhecimento e desenvolvimento pleno, nas suas singularidades e diversidades. (BNCC, 2017, p. 14).

         Vale ressaltar que a visão da criança como um ser integral e singular,  apresentada na BNCC, não é nova e tem suas bases apresentadas em importantes documentos internacionais que propõem uma educação melhor para a humanidade, dos quais dois que se destacam: o Relatório da Primeira Comissão Internacional para o Desenvolvimento da Educação, denominado Relatório Faure (UNESCO, 1972) e o Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, Relatório Delors, intitulado “Educação um tesouro a descobrir” (UNESCO, 1996).

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