PROJETO DE EXTENSÃO EU SOU NEGRO
Por: GENERO • 23/10/2018 • Trabalho acadêmico • 1.606 Palavras (7 Páginas) • 177 Visualizações
PROJETO DE EXTENSÃO EU SOU NEGRO. E VOCÊ? UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
CLEIDE DOS SANTOS SOUSA**
c-leidesousa@hotmail.com
DANIELLE MÉRCIA LUZ FERREIRA**
daniellemercia@hotmail.com
JOELMA ALMEIDA DOS SANTOS**
joelma_almeida19@hotmail.com
RESUMO:
A abordagem do negro nos currículos escolares é um desafio na área educacional. Por isso, os profissionais da educação precisam inicialmente conhecer sua historia e sentir pertencente no que esta sendo ensinada, para poder alterar o currículo, planejar, organizar os projetos para trabalhar com as diferenças sócias culturais dos alunos e ter apropriação do conteúdo a ser discutido. Infelizmente, são poucas as escolas que estão preparadas para trabalhar com a diversidade e valorização das diferenças, e acabam reproduzindo um ensino precário, conteudista se esquecendo que estão trabalhando com pessoas, que estão em formação e precisa aprender as habilidades do ser e pertencer. Logo, o presente trabalho discute o relato de experiência do Projeto de extensão: Eu sou negro? E você?. Realizado na escola Municipal do Tento, turma do 2° ano, localizada no bairro do Tento, município de Valença-Ba. Este projeto propõe uma abordagem, em sala de aula, sobre as questões étnicas de forma lúdica auxiliando no processo da formação da identidade racial, pertencimento, empoderamento e autoafirmação. Sendo o seu objetivo geral: possibilitar aos alunos aprender ou compreender a história do povo africano e afro-brasileiro e as origens de seus antepassados relacionando ao seu contexto, bem como a influência do povo africano na construção do Brasil. E os objetivos específicos conhecer a cultura do povo africano através da história; Identificar os aspectos comuns da cultura africana e a cultura brasileira; Estimular a aprendizagem significativa nos educandos com materiais concretos; Promover atividade que estimule o respeito pela diversidade; Proporcionar momentos lúdicos, com foco na aprendizagem, com trabalhos em equipe, dança música brincadeira africana e afrobrasileira; Reconhecer a importância do povo africano na formação do Brasil. Sabe-se que com a implementação da Lei 10.639/03 tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura afrobrasileira e africana no contexto do sistema de ensino da educação nacional, para que assim ocorra uma modificação no currículo escolar e em seus conteúdos programáticos. Entretanto, esses conteúdos ainda são vistos de formas superficiais dentro da sala de aula, pois observasse que ainda rege um currículo que não nos representa já que não houve mudança no sistema educacional. Notasse que se algo mudou nesse currículo foi em função da militância de alguns professores dentro desses espaços escolares. Notasse que a Lei 10.639/03 busca resgatar a historicidade e fortalecer a identidade dos educandos, por isso, constituímos um projeto para aplicar em escola pública. Sabendo que a maior parte da população brasileira é negra, de baixa renda e, consequentemente, a maioria dos alunos que frequentam a escola pública são negros também, foi idealizado um projeto de extensão, sob a orientação da Professora Mestre: Cristiane Soares Mendes, discente no Campus XV da UNEB. Este projeto tem por objetivo possibilitar aos alunos aprender ou compreender a história do povo africano e afro-brasileiro, as origens de seus antepassados relacionando ao seu contexto, bem como a influência do povo africano na construção do Brasil. Desta forma, busca-se a sensibilização da comunidade escolar no que se refere às abordagens das questões étnica/raciais corroborando com o cumprimento da lei. Por esse motivo, foram realizadas oficinas, sendo que cada semana tinha uma temática relacionada o papel do povo negro na construção do Brasil, foram proporcionados momentos de reflexão com roda de conversa, filmes, contação de histórias e dentre outros, na qual foram discutidas questões étnicas e a diversidade na escola, desta forma resultou o conhecimento do educando para com a sua história A aplicação do projeto foi realizada semanalmente na sala multisseriada 1º e 2º ano do Ensino Fundamental e contou com a frequência de 15 crianças com idade entre 07 e 09 anos, regularmente matriculados na Escola Municipal do Tento, localizada na Rua do Juvenil Braga, S/Nº no bairro do Tento em Valença/BA. Auxiliando na construção da identidade elevando sua autoestima, utilizamos durante esse processo atividades lúdicas que evidenciaram como o povo africano influenciou na formação do município de Valença, as qualidades da cultura africana, proporcionando enaltação da diversidade Foram utilizadas, durante esse processo, atividades lúdicas que evidenciaram como o povo africano influenciou na formação do município de Valença, importância da cultura africana, proporcionando enaltação da diversidade. Este projeto teve duração de 8 semanas e foi aplicado todas as sextas-feiras no período vespertino. Abordamos as seguintes temáticas: A diversidade e pluralidade da África, Escravidão, A resistência do povo negro contra a escravidão, Contribuição do povo Africano parte I: Samba e música, Contribuição do povo Africano parte II: Capoeira e vocabulário e, Empoderamento, o Lugar do Negro, cabelo e traços físicos. A participação das crianças e seu envolvimento nas atividades, inicialmente, não foram satisfatórios, pois, elas perguntavam a todo instante: “que horas vai ser o dever?, não vai ter tarefa não, pró?”. Porém, com o passar dos dias e as propostas lúdicas que desenvolvemos na sala de aula as crianças começaram a se interessar pelo tema e participar das atividades que desenvolvemos. A cada encontro as crianças nos revelavam suas experiências em casa e os comentários que as pessoas de seu convívio estra escola faziam quando elas falavam o que trabalhavam na escola. Alguns comentários, como não podiam deixar de ser, eram desagradáveis, mas, muitos eram de encorajamento e afirmação, principalmente quando trabalhamos o lugar do negro e a beleza da etnia negra. O que percebemos com o passar dos dias é que algumas crianças entenderam o trabalho realizado por nós ali e passaram a falar sobre si com mais entusiasmo, não se abalando mais com apelidos que os outros colegas insistiam em colar nelas. Porém, outros, ou não se identificaram com a temática trabalhada ou, ainda não estavam preparados para entender que o racismo no Brasil existe, é perverso e que todos nós podemos passar por situações de discriminação, preconceito ou racismo algum dia. Em suma, o que nos deixa feliz e nos impulsiona a seguir em frente é saber que a transformação da sociedade, e a construção de um futuro mais digno e igualitário deve partir de nós e, pequenas ações, como o Projeto de Extensão Eu sou Negro. E Você? Podem colaborar para a formação de seres humanos mais tolerantes, capazes de olhar o outro como a si e não fazer da cor da pele, ou das texturas dos cabelos, dos traços físicos, ou da condição social uma razão para propagar o racismo, ou qualquer outro tipo de discriminação. A pesquisa está baseada numa abordagem qualitativa. As técnicas utilizadas para coletas de dados que subsidiaram esta pesquisa foram entrevista, pesquisas bibliográficas, estudo dos livros didáticos de história adotados na rede municipal de ensino, o questionário de pesquisa e aplicação do projeto. Os elementos da pesquisa apontam que os materiais didáticos e os insumos de ensino são insuficientes para aplicação de fato da obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afrobrasileira nas instituições de ensino da rede pública municipal de Valença-BA, pois os livros adotados abordam o tema superficialmente, os professores não são capacitados para trabalhar a temática em sala de aula e a Secretaria Municipal de Educação se exime do seu papel de órgão gestor que deveria primar pelo cumprimento dos artigos da Lei 10.639/03. A partir de nossas pesquisas e do olhar sensível que ante as questões étnicas raciais entendemos que no período colonial o povo negro foi retirado das suas terras, trazidos e tratados de forma desumana aqui no Brasil, demonizavam sua religião, discriminavam a sua cor de pele, seus traços físicos e tiveram sua história distorcida e estereotipada. Desta forma a construção histórica da instituição escola é o reflexo de uma sociedade racista que até os dias de hoje insiste em negar as lutas e afirmação do povo negro como autor de sua própria história velando suas conquistas e atribuindo a outrem as suas glórias, sempre os colocando como seres inferiores. Enfim, percebemos que o currículo da escola precisa descolonizar o olhar, para perceber que a historias dos colonizados são tão/quanto importantes do que a do colonizador. Por isso é importante que os professores, busquem refletir sobre suas praticas para trabalhar com o respeito, a diversidade e a desconstrução de estereótipos da imagem do outro, mesmo estes sendo assuntos difíceis de serem abordados e trabalhados em sala de aula, pois, a bagagem familiar, comunitária e cultural que as crianças trazem de suas vivências fora da escola é muito complicada de ser modificados ou adequados para uma boa convivência social. Porém, este deve ser um exercício diário e coletivo, que gere frutos que se solidifiquem em uma sociedade mais justa e igualitária, onde imperem o respeito, a generosidade, o amor e a cidadania plena. Por fim a experiência do projeto de extensão ampliou os nossos conhecimentos e será de grande valia para nossa prática educacional e pedagógica. Através dessa experiência refletimos sobre o papel de um educador como mediador do conhecimento e compreendemos que o professor deve sempre se atualizar e ter um olhar sensível para entender a realidade do seu aluno, contribuindo para a formação integral do ser humano. As questões aqui discutidas não se encerram e não se resumem a um caso isolado de uma determinada unidade escolar. Desta maneira, ressaltamos que a importância de experiências e estudos acerca desta temática devem ser fomentados para a promoção de uma educação crítica, reflexiva e que tenha como objetivo a formar seres pensantes e atuantes na sociedade com o intuito de transformar a realidade de seu contexto social.
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