QUESTÕES RACIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Memorial Acadêmico
Por: anpaulassa • 18/8/2015 • Projeto de pesquisa • 2.165 Palavras (9 Páginas) • 379 Visualizações
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO DE ESPECIALIZAÇÃO DOCÊNCIA EM EDUCAÇÃO INFANTIL
ANA PAULA SILVA SANTOS – Turma A
QUESTÕES RACIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Memorial Acadêmico
Sorocaba
2015
ANA PAULA SILVA SANTOS
QUESTÕES RACIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL: Memorial Acadêmico
Diário de Campo apresentado ao Curso de Pós-Graduação de Especialização Docência em Educação Infantil, da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR, pólo de Sorocaba, como um dos pré-requisitos para conclusão da Pós-Graduação.
Sorocaba
2015
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
INFÂNCIA
ADOLESCÊNCIA
FASE ADULTA E VIDA PROFISSIONAL
3.1 Breve relato da mãe de um casal de filhos negros
CONSIDERAÇÕES FINAIS
INTRODUÇÃO
Confesso que, puxar da memória fatos do passado não é algo tão simples, pois além de perceber que nossa memória como se fala no dito popular “é curta” começamos a perceber e resgatar detalhes que pareciam mortos em nosso subconsciente, porém, em certas situações elas são além de tudo episódios que resgatam também a dor do momento, sentimentos que muitas vezes não são bons de se lembrar, no entanto, se não fossem por eles talvez neste momento eu não estaria aqui buscando ao menos fazer a minha parte para amenizar ou até extinguir entre os meus alunos de educação infantil tal sofrimento, fazendo quem sabe, a diferença na vida desses pequenos que estará inserido na formação da personalidade de cada criança que irá exercer no decorrer de suas vidas o respeito e a valorização do próximo independente de sua cor, classe social e religião.
Assim almejo.
INFÂNCIA
A diferenciação entre a cor negra e a branca só foi por mim percebida quando eu iniciei minha vida escolar no antigo “jardim de infância”, mais ou menos entre meus 03 e 04 anos de idade, época está em que as crianças da escola me ofendiam chamando de “cabelo de Bombril, macaca, preta fedida, cantando músicas ofensivas do tipo Negra seu sovaco tem manteiga... e assim por diante.
Foi então quando eu percebi que eu era diferente dos outros alunos pois eu era a única negra de uma escola particular no centro da cidade misturada aos alunos brancos e loiros de um nível social conhecido como classe média.
O mesmo acontecia na antiga escola de idiomas Pink and Blue, atual PBF onde eu na mesma época cursava aulas de inglês, escola está que também eu era a única aluna negra inserida com crianças provenientes de bairros de níveis sociais elevados.
Confesso que as ofensas eram pesadas e marcaram muito minha infância no âmbito educacional e pessoal visto que muitas vezes eu nem queria ir à escola principalmente de perua escolar onde o preconceito ficava mais evidente e penoso com falas cruéis das outras crianças que interagiam comigo só pelo prazer de me ofender.
Muitas vezes eu chegava em casa chorando e contava o ocorrido para minha mãe que sempre me orientava a não dar importância ao que os outros falavam, como se isso somente resolvesse o problema de uma criança que sofre!
No entanto, muitas vezes minha mãe ia conversar na escola e com o condutor da perua escolar creio eu que acreditando que isso parasse, pura ilusão, pois de fato nada era feito pelos responsáveis adultos para que a situação fosse de fato sanada ou amenizada.
O mais interessante é que dentro da escola o preconceito se tornava evidente até mesmo pela professora que sempre me acusava quando algo acontecia de errado em sala de aula mesmo quando eu não estava participando daquele grupo que estava “aprontando”, enfim, embora eu fosse uma criança que tinha os melhores brinquedos do bairro, uma vida social e financeira muito bem para a época proporcionada claro pelos meus pais e minha avó, nada apagou o sofrimento que eu passava durante os dias letivos escolares dentro de um ambiente que deveria justamente agir contra o preconceito.
Porém, parando para analisar nos muros da escola, nos painéis decorativos de sala ou até mesmo nas atividades propostas pela professora, os personagens nunca em nenhuma ocasião eram negros, morenos ou mulatos, muito pelo contrário eles sempre eram representados pelos loiros de olhos verdes ou azuis como se toda a sociedade fosse padronizada, eu não existia, minha raça, minha história não estava inserida no contexto escolar da educação infantil.
ADOLESCÊNCIA
Confesso que bloqueei muitas das informações que deveriam ser relevantes a esse momento, pois em minha fase adolescente o preconceito bateu de forma muito mais ofensiva e clara, bem pior do que em minha infância, me lembro de uma amiga minha que eu gostava demais e sua mãe não queria que ela andasse com uma negra macaca grudada nela, também me lembro de em uma certa ocasião quando eu fui pegar o ônibus ao me sentar no banco uma senhora de idade que estava sentada ao meu lado se levantou e disse: “Não gosto desse tipo de gente, deveria respeitar e não encostar em pessoas de bem”, foi algo muito constrangedor, nesta época eu estudava Espanhol logo nas minhas primeiras aulas e eu fiquei embora de corpo presente totalmente ausente dentro da sala de aula com aquela situação em mente, fiquei calada, vergonhosamente eu não contei para ninguém o fato ocorrido.
Também me recordo que muitas vezes quando eu era chamada por mãe de alguma colega minha para ir ao mercado ou a cidade eu sempre acabava empurrando o carrinho de compra ou segurando sacolas, engraçado, até o momento eu não havia parado para pensar nisso, somente escrevendo esse memorial que me dei conta de quanto preconceito estava inserido naquela atitude e mascarada por um sentimento falso de amizade!
Porém o preconceito racial nunca vem sozinho, de uma pessoa só, outras se juntam para se dizer inseridos no meio, pois adolescente não gostam de ser excluídos do meio, então novamente eu era alvo de piadas de mal gosto, de brincadeiras irônicas envolvendo minha cor, meu cabelo, minha fisionomia como um todo, até que um determinado dia, eu já com 14 anos de idade próximo aos 15 anos, resolvi que não deixaria mais me atingirem ofensivamente anulando essas agressividades de forma que eu ria também das piadas, aprendi a fazer gracinhas e acompanhar o ritmo do grupo como se não fosse comigo, até que eles pararam, simplesmente foram aos poucos parando com as brincadeiras, pois se a intenção era me atingir e eu não mais me sentia atingida, era hora do meu grupo procurar outra coisa ou pessoa para perturbar.
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