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Resenha comparativa O contador de historia e contar história: uma arte sem idade

Por:   •  22/5/2015  •  Resenha  •  992 Palavras (4 Páginas)  •  687 Visualizações

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UNIVERSIDADE DE UBERABA

RESENHA COMPARATIVA: O CONTADOR DE HISTÓRIAS E CONTAR HISTÓRIAS: UMA ARTE SEM IDADE

 

UBERLÂNDIA

2015

O Contador de Histórias, a Reescrita de Uma Vida

OLIVEIRA, Adalgiza C.

O filme inspirador e autobiográfico O Contador de Histórias, do diretor Luiz Villaça, reproduz a década de 70 tendo, como pano de fundo, Belo Horizonte onde o mineiro Roberto Carlos Ramos, de 6 anos vive com a mãe e seus  irmãos, em uma favela.  A mãe, analfabeta e de classe socioeconômica beirando a miséria, acredita em uma propaganda enganosa que vê na TV e interna seu filho caçula na  FEBEM (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor, extinta em 2.006) acreditando que assim o filho teria melhores oportunidades na vida.

Ao chegar na instituição, o menino tem uma visão curiosa, fantasiosa e criativa sobre tudo. No entanto, ao tornar-se adolescente é transferido para outro pavilhão da instituição. Lá, é apresentado a uma vida ainda pior, cheia de castigos físicos e de humilhação, se distancia da infância e da família; ao invés de ser cuidado ou mesmo orientado acaba sendo “deseducado”, tornando-se um analfabeto. Inicia assim uma vida de fugas, de pequenos delitos e de uso de drogas. Por este motivo é rotulado pela instituição como irrecuperável.

Após várias fugas e prisões, se encontra com a pedagoga francesa Margherit Duvas, que está no Brasil e faz pesquisa na FEBEM. Em uma de suas fugas acabam se reencontrando, ela o leva para casa e ele a rouba mas, ao mesmo tempo, sente a atenção e o carinho que lhe é destinado. Infelizmente é enganado e estuprado por um grupo mais velho. Amargurado, tenta se matar e, não conseguindo, abriga-se no único lugar onde se sentiu seguro. Depois da experiência traumatizante, a pesquisadora o recebe com ressalvas mas não tem coragem de devolvê-lo às autoridades policiais. Assim começa a relação de confiança e de amor entre eles e que aos poucos, entremeado por muitos Coq au vin,  acaba por uní-los por muitos anos. Ela percebe seu interesse pelos livros, o alfabetiza, o adota e leva-o para viver na França.

Aos 21 anos, após a conclusão de seus estudos, Roberto Carlos retoma ao Brasil, a sua família e à FEBEM ,  como estagiário. Torna-se professor bem sucedido e contador de história, cuida de sua mãe biológica até a morte e adota vários filhos.

Ao se relacionar o filme O Contador de Histórias  à obra de Betty Coelho, percebe-se que contar história é uma atividade prazerosa e apresenta uma série de possibilidades educativas, um universo lúdico a ser explorado que é essencial à construção do conhecimento, que pode aproximar o professor dos interesses dos alunos.

Ambos são de fácil entendimento e trazem como temática a contação de história, mas enquanto o livro traz técnicas e métodos que podem ser utilizados por professores ou quem mais se interessar, o filme mostra como a fantasia e a imaginação presentes na contação de história ajudaram o narrador a sobreviver num mundo cruel. Como sua curiosidade e gosto por histórias foram trabalhados pela pedagoga e como o contato com o ambiente cheio de livros proporcionaram a Roberto novas vivências, experiências  que gradativamente foram modificando suas atitudes, construindo novas experiências de vida e como essas novas representações oportunizaram outras formas de ver e agir sobre o mundo.

Nota-se o papel importante de Marguerit que inicialmente quer apenas concluir  sua pesquisa, mas que se conecta com a história de Roberto gerando-lhe confiança. A simplicidade de sua oralidade, seu método simples, seu carinho e sua fé contribuíram significativamente com a recuperação do garoto, enquanto muitos desacreditavam. Ela foi capaz de utilizar o lúdico, o imaginário, para ressignificar a vida do adolescente, vagarosamente, enquanto o alfabetizava em um livro de histórias.  

Percebe-se que o menino descobre a  magia da literatura infantil, que lentamente ele vai construindo uma viagem pelo mundo da fantasia e da imaginação,  entrelaçando os caminhos da leitura e da construção do cidadão.  A prática da contação de histórias foi primordial  para a motivação do futuro leitor ainda enquanto analfabeto. Nestas interações proporcionadas pela contação de história ele aprendeu sobre si, sobre a dinâmica do mundo, sobre como conviver coletivamente sem a necessidade de abandonar o universo infantil, a magia, as brincadeiras e fantasias. É neste momento de deleite que acontece uma mistura de aprendizagem conciliada com  prazer.

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