Analise Doze Homens e Uma Sentença
Por: RaquelIzu • 14/5/2019 • Trabalho acadêmico • 3.333 Palavras (14 Páginas) • 781 Visualizações
1. INTRODUÇÃO
Observaremos neste trabalho a evolução e a dinâmica de um trabalho grupal que se desenvolve no filme: Doze homens e uma sentença, e analisado a partir da teoria de Enrique Pichon-Riviére.
Muitas vezes somos agrupados com pessoas que não tínhamos nenhum contato anteriormente, um exemplo pode ser a universidade, de repente nos unimos a um grupo de 80 ou 90 pessoas numa sala de aula que são até então desconhecidas e temos que realizar atividades em grupos pequenos, esse tipo de convívio chamamos de solidariedade mecânica porque a filiação a esses grupos independe de nossa vontade.
O conceito de solidariedade orgânica consiste no convívio em pares, pessoas que escolhemos pra fazer parte de nossa “panelinha”, porém quando surgem os fenômenos grupais passamos a chamar isso de processo grupal, que é a coesão grupal ou seja uma forma que os indivíduos tem para que seus membros sigam as regras e tenha fidelidade dos mesmos, esses grupos podem apresentar maior ou menor coesão, isso dependerá de suas características, bem como a fidelidade ao grupo vai depender do tipo de pressão exercida (BOCK,1999).
Ao analisar o filme “Doze homens e uma sentença” a partir da teoria de Pichon-Rivere sobre como se dá os grupos operativos, em que sempre há uma ação que pode ser do ponto de vista terapêutico ou da execução de uma tarefa comum, vamos identificando esses conceitos nas cenas do filme, na medida em que vão surgindo os papéis vamos esclarecendo e entendendo como se dá o processo grupal a partir da teoria de Pichon, os papéis vão surgindo e sugerem os papéis por eles desenvolvidos como: líder, bode expiatório, sabotador, porta voz e expectador.
Como se constituiu o caso: um jovem de 18 anos é acusado de assassinar o próprio pai, as evidências indicam sua condenação, na primeira votação somente um jurado, o arquiteto Davis, vota por sua inocência, ele tem dúvidas quanto a culpa do rapaz e coloca entre os jurados a dúvida, isso na primeira votação, e todos os demais votam pela condenação.
Praticamente todo o filme se passa na sala onde o júri está, durante todo o tempo discutem sobre o crime, mas Davis, começa levantando hipóteses que devem ser analisadas, e durante as discussões vão sendo demonstradas as características da personalidade de cada um, suas experiências e percepções individuais se revelam sempre que apresentam suas opiniões, contradições de pensamentos e ideias acerca do crime.
A partir do questionamento de Davis sobre os fatos apresentados, os jurados começam a mudar de opinião, a cada prova discutida individualmente os jurados vão mudando seus votos, passam por várias fases, onde vamos conhecendo mais de cada um, sua história de vida, indiferença ao outro e orgulho.
E para compreender melhor o funcionamento dos grupos é essencial entender a natureza da influência social:
“As pressões para uniformidade se exercem mediante a interação social na qual os membros tentam modificar suas crenças, atitudes e ações de forma mútua (...). Surgem processos similares sempre que um grupo tenta tomar uma decisão sobre metas a escolher ou sobre a maneira de alcançá-las. Coordenar as atividades de grupo exige que a conduta de cada membro se ajuste a dos outros, e se efetue a liderança mediante o processo de influência sobre os demais. (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004, p.53)”
Na grande maioria os grupos se formam de acordo com as afinidades no que as pessoas fazem ou produzem, podem ser agrupadas também de acordo com as tarefas que executarão, nesse caso houve um agrupamento por função, que tem início, meio e conclusão, ou seja foi agrupamento por fluxo de trabalho, neste contexto, (Bergamini (2006) distingue esse grupo de júri como sóciogrupo, que se organiza para trabalhar em função da execução de uma tarefa.
2. DESENVOLVIMENTO
Apresentaremos o desenvolvimento e análise deste filme a partir das contribuições teóricas de Pichón-Revière que nasceu em Genebra em 1907, migrou para Buenos Aires em 1977, foi um médico psiquiatra e psicanalista suíço, que se naturalizou argentino.
Começou a ser sistematizada por Enrique Pichon-Rivière, a técnica grupo operativo, através de uma experiência no hospital de Las Mercedes, em Buenos Aires, quando na época houve uma greve de enfermeiras, a greve inviabilizaria o atendimento aos pacientes portadores de doenças mentais, os pacientes ficaram sem ter assistência para tomar a medicação e aos cuidados de uma maneira geral.
Diante da falta do pessoal de enfermagem, Pichon-Rivière propõe, para os pacientes com menor comprometimento, uma assistência para com os que estivessem mais comprometidos, essa experiência foi bastante produtiva para ambos os pacientes, os cuidadores e os cuidados, por ter tido maior identificação entre eles, estabelecendo uma parceria de trabalho e uma troca de posições e lugares, o que ocasionou melhor integração.
Pichon-Rivière iniciou seus trabalhos com os grupos na medida em que observava a influência do grupo familiar nos seus pacientes. Sua prática psiquiátrica permaneceu ligada a psicanálise e também pela psicologia social, fundando então a Escola Psicanalítica Argentina (1940) e o Instituto Argentino de Estudos Sociais (1953).
O autor defende que o objeto da formação de um profissional deve capacita-lo para uma prática de transformação de si, dos outros e do contexto em que estão, trazendo consigo a ideia de que aprendizagem também é sinônimo de mudança, no decorrer do processo deve acontecer uma relação dialética entre sujeito e objeto e não somente um ponto de vista único, estereotipado e mesmo cristalizado.
Essa forma de aprendizagem que coloca em foco os processos grupais, põe em cheque a possibilidade de uma nova elaboração dos conhecimentos, das integrações e de questionamentos que devemos fazer a nós mesmos bem como aos outros, a aprendizagem precisa ser um processo contínuo em que comunicação e interação são indivisíveis, aprendemos isso na medida dos relacionamentos que temos uns com os outros.
A técnica de grupo operativo fundamenta-se nos trabalhos com grupos, em que o principal objetivo é sempre de promover um processo de aprendizagem para os indivíduos envolvidos, através de uma leitura crítica de sua realidade, uma atitude investigadora dos acontecimentos, uma abertura para as dúvidas e para as novas inquietações neste conceito, a constituição do sujeito é marcada por uma contradição interna: para satisfazer as suas necessidades ele precisa entrar em contato com o outro, vincular-se a ele de alguma forma e interagir com o mundo externo.
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