Análise Coraline através da Ótica de Melanie Klein
Por: Eduardo Nogueira • 29/9/2019 • Trabalho acadêmico • 2.388 Palavras (10 Páginas) • 1.171 Visualizações
1 INTRODUÇÃO TEÓRICA
Melanie Klein fez avanços consideráveis no campo da teoria psicanalítica criando sua própria linha de pensamento que segue influenciando psicanalistas até hoje. Para o presente proposito desse trabalho, é necessária uma breve abordagem de alguns conceitos elaborados por ela, dentre eles, a posição esquizo-paranoide e depressiva são alguns dos mais importantes.
O termo posição foi usado por Klein, segundo KLEIN (1926-1945), em relação a estágio, pois se refere ao ponto de vista que o bebe tem em relação ao objeto, e ocorrem no primeiro ano de existência, na primeira e na segunda metade, respectivamente, podendo ocorrer regressões durante toda a vida dependendo de diversos fatores.
Oliveira (2007) diz que Klein aponta que a posição esquizo-paranoide é a mais arcaica, é um dos períodos normais do desenvolvimento humano, tal qual as fases psicossexuais apresentadas por Freud, e que segue até os primeiros três a seis meses de vida; é caracterizada pelos impulsos destrutivos onipotentes, a ansiedade persecutória, fragmentação do ego, dissociação, idealização, negação, identificação projetiva, uma preocupação básica ou ansiedade persecutórias sobre a sobrevivência do self e a divisão do objeto externo que seria a relação do bebe com o primeiro objeto/órgão de sua vida, o seio da mãe, que se divide em seio bom e seio mau.
Na posição esquizo-paranóide, o bebê lida com a ansiedade persecutória através de mecanismos de defesa. Dentre esses mecanismos, a cisão é um dos mais antigos. Para KLEIN (1946), a partir das experiências de frustração e ansiedade, o ego arcaico cinde ativamente o objeto e a relação com este, que se torna parcial.
De acordo com KLEIN (1946), o processo de idealização está diretamente ligado à cisão do objeto. Ao cindir o objeto, como uma salvaguarda contra a ansiedade persecutória, o mesmo é dividido entre um objeto totalmente bom, e outro totalmente mau. Esse objeto totalmente bom, onde é direcionado toda a pulsão amorosa, é visto como um objeto ideal, generoso, que supre as necessidades do bebê. Essa idealização surge do poder dos desejos pulsionais. “Em estados de frustração ou de maior ansiedade, o bebê é levado a refugiar-se no seu objeto interno idealizado como um meio de escapar de perseguidores.” (KLEIN, 1946, p.28).
A fantasia inconsciente é a expressão mental dos instintos, e existe desde o começo da vida. Esta fantasia, precoce, onipresente e dinâmica, influencia todas as percepções e relações da criança com o objeto. A partir das fantasias, pulsões, relações objetais, se constrói o mundo interno do bebê. Apesar de originar-se dos objetos e relações externas, os objetos internos não se reduzem a estes, pois a força que lhes dá vida própria são as fantasias inconscientes, por isso mantêm-se independente da realidade externa. Desde os primórdios, as fantasias estimulam todos os interesses, atividades e sublimações da criança, tornando-se parte integrante deles. (KLEIN, 1921)
O objeto frustrador e o objeto idealizado são mantidos completamente separados. No entanto, a própria existência do objeto mau é negada, e toda a situação de frustração e a dor causada por ela. Sendo assim, a realidade psíquica do bebê é negada, e essa negação só é possível pela presença de sentimentos de onipotência, que se equipara à aniquilação pelo impulso destrutivo. Portanto, o bebê nega e aniquila tanto o objeto, quanto sua relação com ele. Podemos comparar esses mecanismos aos delírios de perseguição e grandeza, presentes na esquizofrenia. De acordo com Klein (1940, p. 392):
A onipotência, a negação e a idealização, intimamente ligadas à ambivalência, permitem que o ego primitivo se levante até certo ponto contra seus perseguidores internos e contra uma dependência submissa e perigosa em relação aos objetos amados, o que traz novos avanços em seu desenvolvimento.
Portanto, esses mecanismos de defesa por ela apresentados são de extrema importância para o desenvolvimento de um ego saudável, e podem ser comparados ao mecanismo de reparação, e desempenham um papel semelhante ao que a repressão desempenha em um estágio posterior do desenvolvimento desse ego.
No início da sua primeira relação com a mãe e a parte boa dela (seio bom) o bebe irá criar profundos sentimentos e então irá ama-la profundamente no momento que é gratificado e tem suas necessidades atendidas, mas esse amor vai ter uma profunda relação também com ódio pelo seio mau que o desagrada, e então, segundo Klein (1937), o amor e o ódio irão batalhar entre si na mente da criança.
Essa divisão entre seio bom e seio mau acontece devido ao fato de o bebe ter um sentimento de unicidade da mãe e não entender que o mesmo seio que lhe da gratificação infinita é o mesmo seio que o faz esperar, que causa nele sentimentos negativos por isso como inveja, desconforto e dor. Os sentimentos agressivos partem a partir daí, ele tenta atacar o seio na esperança de o destruir, com o seu sentimento de onipotência ele acredita que o faz.
A ansiedade gerada através do medo que o bebe sente que o seio mau irá contra-atacar as agressões feitas a ele, gerando o sentimento de perseguição, essa é então a ansiedade persecutória.
O ego é consolidado então na passagem para a posição depressiva, que acontece quando a integração dos objetos bons e maus é bem-sucedida, quando os medos persecutórios não são superintensos, gerando um objeto total, quando o bebe percebe que a mãe é só uma e ele também.
A posição esquizo-paranoide dá lugar então a posição depressiva, que tem essas características, segundo KLEIN (1926-1945), de integração da realidade, a culpa, o surgimento da ambivalência, o ego integrado e os mecanismos de defesa que são a melancolia, a impotência e a mania.
Se na posição esquizo-paranóide a criança está preocupada apenas com o bem-estar do ego, na posição depressiva ela está preocupada também com o bem-estar do outro, então a culpa e o remorso por atacar o objeto bom que agora está unificado com o mau, surge juntamente com o desejo de reparação do dano causado, então o bebe vai agir em função disso, se responsabilizando pelas suas atitudes, tentando compensar a mãe, por causa do medo de perdê-la, fazendo com que sua angustia deixe de ser persecutória e se torne depressiva.
Durante a posição depressiva também há o desenvolvimento do superego, que se for muito rígido causa uma regressão a posição esquizo-paranóide. e durante essa posição os objetos são introjetados tanto no ego quanto no superego; também é a época que começa a se desenvolver o complexo de édipo.
É uma posição que introduz o indivíduo a novas ansiedades, como também a perda do sentimento de poder fazer tudo, a onipotência predominante na posição anterior, então o bebe se utiliza de alguns mecanismos para então poder resolver o período depressivo, que são a testagem da realidade, o luto, a gratidão e a aceitação da ambivalência.
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