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Atenção psicossocial à rede: qual é o lugar da saúde mental?

Por:   •  9/3/2018  •  Tese  •  1.781 Palavras (8 Páginas)  •  374 Visualizações

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 Pedro Ignácio Vidal; Pós-Estácio Saúde Mental; Fichamento Rede de Atenção Psicossocial: qual o lugar da saúde mental?

TITULO: Rede de Atenção Psicossocial: qual o lugar da saúde mental?

Indicação bibliográfica:

QUINDERÉ. P.H.D; JORGE, M.S.B.; FRANCO, T.B. Rede de Atenção Psicossocial:

qual o lugar da saúde mental?. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, 24 [ 1 ]: 253-271, 2014

Resumo:

A obra elucidou uma crônica sobre a criação de um espaço de cuidados aos loucos, então ditos alienados, com o controle e cuidado da personagem Dr. Simão Bacamarte. Bacamarte possuía como pretensão a criação de um espaço de cuidado para aqueles pouco vistos, pautado na ciência e caridade. E após a autorização de sua criação pela câmara, como um espaço público de cuidado, a Casa Verde foi criada.

O trabalho do médico consistiu em entender as diversas formas de loucuras apresentadas pelos corpos, que agora estavam aos seus cuidados. Começou assim a catalogar e agrupar cada tipo de loucura pelos seus sintomas e características.

O médico começou a organizar o serviço pela administração, e outras funções e posteriormente acrescentando o boticário Soares na sua equipe para ajudá-lo no tratamento. Bacamarte analisava os hábitos de cada louco, as aversões, simpatias, etc. Reverberando em si o excesso de trabalho, não dormindo e nem comendo, somente dedicado ao trabalho. Pois seu objetivo era entender o que era a loucura. Posteriormente Bacamarte delimitou a razão sendo o equilíbrio de todas as faculdades e fora disso o que resta é a insânia. A partir desta conclusão a ampliação do recolhimento a Casa Verde se estendeu, recolhendo diversas pessoas que eram reconhecidas como normais pela população em geral.

Bacamarte observava algo clinico em diversas pessoas, sendo isto pressuposto para a sua internação na Casa Verde. Algo que começou a inflamar a população, com o argumento que tal local era um cárcere privado, já que só se saia com a cura. Com o aumento dos recolhimentos, muitas vezes por diagnósticos dúbios, ocorreu a revolta dos Canjicas, nome vinculado devido ao seu líder o barbeiro, pedindo o fechamento da Casa Verde. Alo que foi rechaçado pelo governo, culminando em um confronto violento entre manifestantes e policia, em frente a Casa Verde. Como consequência da violência, policiais e população se uniram e derrubaram o governo vigente, empossando o líder da revolução, o barbeiro.

Apesar da pauta da revolução ser o fim da Casa Verde, o novo governo, agora popular, não alterou o modo de trabalho da Casa, propiciando a manutenção no recolhimento de pessoas na cidade. Devido a falta de estabilidade e do novo governo, o mesmo caiu, retornando o antigo regime parlamentar.

A obra muda a lógica quando Bacamarte apresenta que a partir daquele momento o mesmo iria dar alta para todos os recolhidos na Casa Verde, transformando tal ato em algo amedrontador para alguns na cidade, e feliz para outros. Pois como poderiam tantos loucos estarem agora livres. Bacamarte observou que a loucura deveria ser entendida na sociedade, e que muitos diagnósticos foram contornados com o tratamento, e que a cura havia ocorrido. Então foi pactuado com a câmara governamental o fechamento dentro de 1 ano da Casa Verde, sendo vedado o recolhimento daqueles parlamentares da câmara, mas mantido o recolhimento daqueles que ainda precisavam de tratamento. O quantitativo de pacientes na Casa Verde foi sendo reduzido até não restar nenhum paciente, ao longo do ano, senão o próprio médico, que em suas reflexões pessoais chegou por fim a reflexão de que o que ele via como loucura eram desvios naturais do ser social, e que nessa lógica quem precisava de cura era ele, findando seus dias no estudo desta cura, dentro da Casa Verde.

Citações:

“A vereança de Itaguaí, entre outros pecados de que é argüida pelos cronistas, tinha o de não fazer caso dos dementes. Assim é que cada louco furioso era trancado em uma alcova, na própria casa, e, não curado, mas descurado, até que a morte o vinha defraudar do benefício da vida; os mansos andavam à solta pela rua. (PAG. 02)”

“A idéia de meter os loucos na mesma casa, vivendo em comum, pareceu em si mesma sintoma de demência (...)” (PAG.02)

“Muitos dementes já estavam recolhidos; e os parentes tiveram ocasião de ver o carinho paternal e a caridade cristã com que eles iam ser tratados.” (PAG. 03)

“O principal nesta minha obra da Casa Verde é estudar profundamente a loucura, os seus diversos graus, classificar-lhe os casos, descobrir enfim a causa do fenômeno e o remédio universal.” (PAG. 04)

“Isto feito, começou um estudo aturado e contínuo; analisava os hábitos de cada louco (...)” (PAG 05)

“Ao mesmo tempo estudava o melhor regímen, as substâncias medicamentosas, os meios curativos e os meios paliativos (...)” (PAG 06)

“A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia.” (PAG.10)

“A Casa Verde é um cárcere privado, disse um médico sem clínica” (PAG. 13)

“A Câmara recusou aceitá-la, declarando que a Casa Verde era uma instituição pública, e que a ciência não podia ser emendada por votação administrativa, menos ainda por movimentos de rua.” (PAG. 17)

“Meus senhores, a ciência é coisa séria, e merece ser tratada com seriedade. Não dou

razão dos meus atos de alienista a ninguém, salvo aos mestres e a Deus.” (PAG. 20)

“Poderia convidar alguns de vós em comissão dos outros a vir ver comigo os loucos reclusos; mas não o faço, porque seria dar-vos razão do meu sistema, o que não farei a leigos nem a rebeldes.” (PAG 20)

“Com razão ou sem ela, a opinião crê que a maior parte dos doidos ali metidos estão em seu perfeito juízo, mas o governo reconhece que a questão é puramente científica e não cogita em resolver com posturas as questões científicas.” (PAG. 24)

“(...) mas pode entrar no animo do governo eliminar a loucura? Não. E se o governo não a pode eliminar, está ao menos apto para discriminá-la, reconhecê-la? Também não; é matéria de ciência (...)” (PAG. 25)

“E agora prepare-se o leitor para o mesmo assombro em que ficou a vila ao saber um dia que os loucos da Casa Verde iam todos ser postos na rua.” (PAG. 28)

“De fato o alienista oficiara à Câmara expondo: — 1': que verificara das estatísticas da vila e da Casa Verde que quatro quintos da população estavam aposentados naquele estabelecimento; 2° que esta deslocação de população levara-o a examinar os fundamentos da sua teoria das moléstias cerebrais, teoria que excluía da razão todos os casos em que o equilíbrio das faculdades não fosse perfeito e absoluto; 3° que, desse exame e do fato estatístico, resultara para ele a convicção de que a verdadeira doutrina não era aquela, mas a oposta, e portanto, que se devia admitir como normal e exemplar o desequilíbrio das faculdades e como hipóteses patológicas todos os casos em que aquele equilíbrio fosse ininterrupto; 4D que à vista disso declarava à Câmara que ia dar liberdade aos reclusos da Casa Verde e agasalhar nela as pessoas que se achassem nas condições agora expostas; 5° que, tratando de descobrir a verdade científica, não se pouparia a esforços de toda a natureza, esperando da Câmara igual dedicação; 6º que restituía à Câmara e aos particulares a soma do estipêndio recebido para alojamento dos supostos loucos, descontada a parte efetivamente gasta com a alimentação, roupa, etc.; o que a Câmara mandaria verificar nos livros e arcas da Casa Verde.”  (PAG. 28)

“(...) a experiência da Câmara tivesse sido dolorosa, estabeleceu ela a cláusula de que a autorização era provisória, limitada a um ano, para o fim de ser experimentada a nova

teoria psicológica, podendo a Câmara antes mesmo daquele prazo mandar fechar a Casa

Verde, se a isso fosse aconselhada por motivos de ordem pública. O vereador Freitas

propôs também a declaração de que, em nenhum caso, fossem os vereadores recolhidos ao asilo dos alienados (...) (PAG. 30)

“Compreende-se que, pela teoria nova, não bastava um fato ou um dito para recolher alguém à Casa Verde; era preciso um longo exame, um vasto inquérito do passado e do presente.” (PAG. 30)

“Os alienados foram alojados por classes. Fez-se uma galeria de modestos; isto é, os loucos em quem predominava esta perfeição moral; outra de tolerantes, outra de verídicos, outra de símplices, outra de leais, outra de magnânimos, outra de sagazes, outra de sinceros, etc.” (PAG. 32)

“Suponhamos um modesto. Ele aplicava a medicação que pudesse incutir-lhe o sentimento oposto; e não ia logo às doses máximas,—graduava-as, conforme o estado, a idade, o temperamento, a posição social do enfermo.” (PAG. 33)

“—Mas deveras estariam eles doidos, e foram curados por mim,—ou o que pareceu cura não foi mais do que a descoberta do perfeito desequilíbrio do cérebro?” (PAG. 34)

Comentários:

A obra propicia realizar um paralelo com a história de saúde mental no Brasil. Apontando a criação de um espaço de cuidado que visava tratar a loucura, e propiciar a cura para estes então alienados. Entretanto passando a tomar uma lógica de recolhimento compulsório, em que o papel de equipe de saúde é centralizado no profissional médico, e no seu saber, gerando diagnósticos em que os chamados desvios da normalidade  são suficientes para retirar da sociedade certas pessoas. Cabe ressaltar em como o texto pontua no que vira o comercio da loucura, em que os órgãos públicos lucram com a mesma, assim como o estabelecimento de reclusão, retirando do orçamento público e familiar a renda para subsidiar tal tratamento.

O observar de que a reclusão não era o caminho terapêutico, traça uma das principais bases da nossa reforma psiquiátrica, que além de prever o fim dos manicômios, visa a reinserção dessas pessoas na sociedade, findando com os estigmas e limitação dados pela cultura de adoecimento mental.

Vale pontuar o caráter, exposto pelo autor,  dos parlamentares em serviço, que preconizaram a manutenção do sistema de internação compulsória, mas que não poderia os atingir, provando que nem sempre as leis públicas são pensadas na população, mas sim para interesses próprias. Algo que também fica evidenciado pelo texto, a ciência e cura dos “alienados” não era algo que Bacamarte pensava para a população, mas sim algo para ampliação de seu conhecimento médico, tornando os pacientes apenas fruto de experimento em sua Casa Verde.

Ideação:

O texto propicia a reflexão de que o conhecimento médico não é o norteador na atenção aos pacientes de saúde mental, e que o recolhimento compulsório é arbitrário e não aceita a complexidade e autonomia dos indivíduos.

Somente com a inserção na sociedade, participação social, e cuidado terapêutico voltado para o individuo e todos os seus determinantes sociais, é que o tratamento em saúde mental é possível. O que se tira desta obra é que devemos pensar na loucura como algo natural, e lidar com a mesma em sociedade é tratar não somente o louco, mas a sociedade em si.


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