Fichamento do capitulo 8 de Paulo Amarantes
Por: Debora Sena • 23/3/2017 • Resenha • 2.072 Palavras (9 Páginas) • 500 Visualizações
Universidade Federal do Pará
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Faculdade de Psicologia
Disciplina: Saúde mental e coletiva
Docente: Profª Drº Paulo de Tarso
Discentes: Débora Sena
Rúbia Braga
Fichamento
AMARANTES, Paulo. O pensamento crítico de Franco Basaglia sobre a ciência e a Subjetividade. In.: AMARANTES, P.(org.) Ensaios: subjetividade, saúde mental e sociedade. Rio de Janeiro: Fiocruz. 2000. Pp.127 – 148.
A psiquiatria enquanto ideologia: notas sobre a influência de Franco Basaglia para a atuação no campo da atenção psicossocial.
Logo no início do texto, Amarantes, oferece a tônica que percorrerá ao longo de sua análise quando cita Basaglia, no que este se refere à fábula de um homem que vivia com uma serpente dentro do estômago, que fazia de suas vontades e quereres as suas próprias vontades, vivendo assim sem liberdade até que, esta, vá embora e o homem absoluto de sua própria vontade já não sabe viver sem os desejos da serpente que vivia dentro de si. Posto isto, o projeto institucional da psiquiatria se dava na afirmação de um “saber e poder, de controle e de segregação” que criou uma nova dimensão ou ampliou o caráter nocivo do tratamento terapêutico o vazio emocional constituído a partir da institucionalização do sujeito. Pg.128.
Deste modo, Amarantes destaca a perda do individuo a titulo da “organização de características coletivistas”, da “mortificação”, na qual, conceitos estes que recebiam influência do “clima institucionalizante dos espaços fechados”. pg.128. Sobre isso, Basaglia apud, P.Amarante, 2000, 128, a institucionalização dar-se como um “complexo de ‘danos’ derivados de uma longa permanência coagida no hospital psiquiátrico, quando o instituto se baseia sobre princípios de autoritarismo e coerção. [...] o doente deve submeter-se incondicionalmente, são expressão, e determinam nele uma progressiva perda de interesse que, através de um processo de regressão e de restrição do Eu, o induz a um vazio emocional”.
Este caráter do poder institucionalizante (do enfermo) é de sobremaneira, uma das bases que fundamentam a chamada “práxis basagliana” que leva o (enfermo) a submeter-se as regras de outrem que o determina, o reduz as ideias postas da objetivação dentro dos asilos. pg. 129. A isso, se utilizando de uma expressão de Sartre, Amarantes refere-se ao processo de institucionalização como um modo que “serializa”, “homogeneíza” e objetiva “todos aqueles que adentram a instituição.”.pg. 129.
Cabe ressaltar que, o processo de institucionalização homogeneizante, fazendo referencia a experiência de Gorízia deve-se pautar na ideia de “duplo”, condição obrigatória para se retornar sempre a um ponto de partida sobre a doença mental; pois o duplo da doença mental emite “tudo aquilo que se constrói em termos institucionais em torno do sofrimento das pessoas”, ou seja, é a negação da subjetividade, das identidades, das diferenças culturais, históricas das pessoas em face da objetivação extrema, do estatuto do instituído doente mental, “a partir das noções de periculosidade, irrecuperabilidade e incompreensibilidade da doença mental.” Pg.129. Este sentido do duplo deve está relacionado a todas as esferas da sociedade, em torno da pessoa, que emergem um modo de ser, uma constituição de sujeito que oportunize sua própria face, seus próprio modo de ser, pontuando sempre os parênteses sobre a doença mental.
Com isso, Amarantes deixa claro que, a iniciativa de destacar sempre a ideia do duplo e dos parênteses coloca o (enfermo) numa prática inversa da proposta “coisificante” da psiquiatria, no qual “parte de uma realidade que era negada”. Onde “na prática, significa procurar identificar todo o percurso de montagem do duplo da face institucional da doença, que encobriu, junto com o próprio sofrimento, o sujeito, a pessoa.” Pg.130.
Sobre isso, remontando a Basaglia, Amantes reflete que a liberdade do (enfermo) outrora perdida, é o meio pelo qual, pode-se chegar na cura, conferindo a pessoa enferma o retorno a sua liberdade. Nesse sentido, a desinstitucionalização deve ampliar-se dentro e fora do espaços hospitalares, transformando-se numa luta política de reformulação no âmbito da sociedade a forma de lidar com a loucura. É Importante ressaltar que a luta contra a institucionalização interna dos hospitais, manicômios...etc., é também uma forma de combater a “carreira moral” disseminada nas “instituições totais”. Pg.132.
A partir da revisão das práticas psiquiátricas e do despojar da realidade posta em pauta, onde “o homem se revela objeto em um mundo objetal”, a psiquiatria se depara com sua própria limitação diante daquilo que é tido como doença mental sem considerar a realidade, o contexto social do (enfermo) no qual está inserido e, por assim, privá-lo de sua identidade. . Pg. 132.
No terce dessa ideia, da exclusão do (enfermo), Amarantes ressalva, “colocar a doença entre parênteses”, dando-a uma nova significação, mais elaborada que da psiquiatria de “inventar” um modo novo “de organizar aquilo que não pode ser organizado”, indo em busca de um método de cura que não caminha para a normas institucionalizantes.
Na obra intitulada o que é psiquiatria?-1967, de Basaglia, na qual este fazendo referencia a Sartre em o que é literatura?, vai de encontro a ideias e práticas preestabelecidas que emergem diante da recusa de uma realidade dada, onde a psiquiatria confrontada com seu objeto e limitada diante da diversidade e incompreensibilidade da doença mental, estigmatiza, homologa o estatuto da institucionalização do doente mental. Pg.133. Ainda se referindo a limitação do saber psiquiátrico, Amarantes destaca o método cientifico da pesquisa psiquiátrica, que se distância de modo especial do “terreno da própria pesquisa”, “[...]fazendo como que o psiquiatra se afaste do doente, de seu sofrimento e de sua condição real de institucionalizado, terminando por interpretar ideologicamente a doença sem considerar as circunstâncias institucionais[...]”. pg. 134.
A necessidade de intervenção no campo da psiquiatria caminha para um embate constante que move em dois níveis simultâneos, um de caráter científico e outro de natureza politica. Pois, além de dar conta da realidade presente da doença e do doente, a problemática da estigmatização, fazendo menção a Goffman, está preestabelecida no cotidiano sócio-cultural da sociedade; pre-conceitos que sedimentam uma noção incompleta na coisa-doença mental que surge no próprio seio da sociedade. Não se trata apenas de combater as forças institucionalizantes do fazer psiquiátrico, mas de movimentar uma discussão que repercuta em toda sociedade, e, o processo de exclusão e cerceamento dos chamados (doentes mentais) caminhe em direção da dialética intersubjetiva, onde esta problemática seja posta no enquadramento do real, no contraditório de nós mesmos enquanto pertencentes a uma sociedade, um grupo social, uma identidade que nos aproxima do outro. Pg.134.
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