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Liberdade

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Por:   •  14/9/2014  •  Seminário  •  1.493 Palavras (6 Páginas)  •  240 Visualizações

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LIBERDADE de acordo com virginia woolf

“ No entanto, ela escreve categoricamente que: "Talvez pareça uma coisa brutal dizê-lo, mas, na dura realidade, a teoria de que o gênio poético floresce onde é semeado, e de igual modo entre pobres e ricos, contém pouca veracidade." (WOOLF, 1985, p. 140). Mais uma vez a realidade desigual argutamente observada pela autora extrapola qualquer teorização ou abstração, indicando aquela relação de determinação (ou condicionamento) entre a liberdade para produzir literariamente e as condições materiais, condições de vida produzidas historicamente, que foram, como se sabe, extremamente excludentes para as mulheres.

Em se tratando da nação considerada o berço da liberdade e maior potência do mundo até então, as palavras de ultimato que Woolf traz no fim do livro para confirmar sua posição são bastante surpreendentes, mas e lucidadoras:

“Creiam-me – e passei uns bons dez anos observando umas trezentas e vinte escolas primárias -, podemos tagarelar sobre a democracia, mas, na verdade, uma criança pobre na Inglaterra tem pouco mais esperança do que tinha o filho de um escravo ateniense de emancipar-se até a liberdade intelectual de que nascem os grandes textos. [...] É isso aí. A liberdade intelectual depende de coisas materiais. A poesia depende da liberdade intelectual. E as mulheres sempre foram pobres, não apenas nos últimos duzentos anos, mas desde o começo dos tempos. (1985, p. 140-141)”

Nessas considerações, nosso objetivo é pontuar a presença, também perene, de uma certa leitura crítica da história das mulheres na obra de Virgínia Woolf. Sabendo de sua biografia e do contexto onde viveu, é possível imaginar o turbilhão de possibilidades que apareceram para alguém com acuidade intelectual e sensibilidade para as principais movimentações de seu tempo.

Às mulheres, como se sabe, foi relegada a escrita da história (decorrência óbvia da falta de instrução e do poder patriarcal exercido). Nesse sentido, Woolf parece indicar duas situações um pouco distintas mas conectadas: a necessidade e a possibilidade de recontar, "suplementar", a história. História essa não entendida como um dado a ser objetivado descritivamente ou naturalizado, mas entendida como um processo, com seus condicionantes e mudanças, com os seus gritos e seus silêncios.

Toda essa produção, para a autora, indica ao mesmo tempo a exclusão da mulher na escrita da sua história e a "imprestabilidade" dos livros raivosos que eram produzidos pelos homens de ciência para naturalizar a inferioridade das mulheres. Perguntava, após uma coleção de opiniões masculinas: "Como explicar a raiva dos catedráticos?". E logo depois, a resposta: "Qualquer que seja a razão, todos esses livros, pensei, inspecionando a pilha sobre a escrivaninha, são imprestáveis para meus fins" (1985, p. 44).

E para questionar essa naturalização, utiliza de uma metáfora já amplamente conhecida do espelho: a mulher é um espelho que aumenta o homem, o duplica. Sem esse espelho o homem estaria perdido. "Possivelmente, quando o professor insistia enfaticamente demais na inferioridade das mulheres, não estava preocupado com a inferioridade delas, mas com sua própria superioridade". (1985, p. 44).

“Desse modo, Woolf estabelece alguns critérios importantes para o que estamos chamando aqui de história das mulheres numa perspectiva crítica. Se as mulheres, todas elas, também são sujeitos da história, cabe a elas romper com o discurso neutral e retoricamente objetivo que pressupõe um Homem abstrato como sujeito único da história. E um passo para realizar tal mister é a desmistificação desse conhecimento historiográfico e literário que, a despeito de querer retratar a História, retrata uma história.

Reconhecendo a história como processo material, é possível à autora identificar a possibilidade na mudança de valores decorrentes das transformações que estão a ocorrer na Inglaterra:

De fato, se a mulher só existisse na ficção escrita pelos homens, poder-se-ia imaginá-la como uma pessoa da maior importância: muito versátil; heróica e mesquinha; admirável e sórdida; infinitamente bela e medonha ao extremo; tão grande quanto o homem e maior, para alguns. Mas isso é a mulher da ficção. Na realidade, como assinala o Professor Trevelyan, ela era trancafiada, surrada e atirada pelo quarto. [...] Na imaginação, ela é da mais alta importância; em termos práticos, é completamente insignificante. Ela atravessa a poesia de uma ponta à outra; por pouco está ausente da história. Ela domina a vida de reis e conquistadores na ficção; na vida real, era escrava de qualquer rapazola cujos pais lhe enfiassem uma aliança no dedo (1985, p. 57-58)

Para reforçar o argumento desta leitura crítica da história das mulheres, poder-se-ia utilizar várias outras citações da parte que a autora faz a história das (poucas) mulheres que escreveram ficção na Inglaterra, nos capítulos IV e V, indicando, inclusive, um aspecto bastante interessante para a questão das obras-primas: elas não estão isoladas no tempo e no espaço, são o resultado de muitos anos, de muitas autoras que vieram antes, são uma síntese de várias determinações (tanto materiais quanto culturais) que dão à História um caráter coletivo e ao mesmo tempo ininterrupto.

Ficaremos, no entanto, satisfeitos, com a exaltação da necessidade de que as mulheres, embora alvo de muitos preconceitos e privações de toda ordem, agora não poderiam se ausentar de "incomodar", questionando e estudando novas possibilidades para contar sua história, com inovação e

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