O Plano Moral
Por: Gabriel Sena • 7/5/2018 • Trabalho acadêmico • 709 Palavras (3 Páginas) • 929 Visualizações
O plano moral
Em se tratando da moral, há de se aceitar que diferentes culturas possuirão diferentes conteúdos associados à mesma, o que torna necessária a distinção entre forma e conteúdo. Essa forma se caracteriza por algo em comum a todas as expressões de moralidade, que é o sentimento de obrigatoriedade, do cumprimento do dever, e pode, por sua vez, ter vários conteúdos.
No campo da psicologia, a discussão se dá em torno da existência ou não de um plano moral, onde o individuo seria imbuído por um sentimento de agir por dever, e não coforme o dever. Negar a existência desse plano significaria acreditar que os indivíduos agem não de acordo com o que acreditam, mas conforme o que é socialmente aceito, o que na prática coloca a moral e a hipocrisia lado a lado. Sobre isso, La Taille diz (2006, p. 31):
Embora possamos ser extremamente céticos em relação às virtudes humanas, é difícil afirmar que as ações realizadas por dever moral não existem. Temos sempre em volta de nós exemplos de atitudes dificilmente explicáveis por um cálculo de interesses pessoais (sacrificar-se por outrem, como a mãe que sacrifica muito de seu tempo e interesses para cuidar dos filhos). [...] Penso, aliás, que se a moral fosse apenas discurso vazio, há tempos que a humanidade não falaria mais nela. Ou não haveria limites para a ilusão?
Algo que pode assegurar a existência de um plano moral psicológico é o fato de que existem várias pesquisas no campo relacionadas ao tema, propostas por renomados pesquisadores (Durkheim, Piaget, Kohlberg etc.), acabando com qualquer dúvida. Existem, porém, algumas observações.
A primeira diz respeito à distinção entre moral deontológica e teleológica. Enquanto a primeira, que tem Kant como grande expoente, diz que as obrigações morais são boas em si mesmas, a segunda, a exemplo de Benjamin Constant, tenta enxergar as consequências que seus comportamentos trarão para então decidir o que é moralmente correto. A respeito do ato de mentir, a moral deontológica veria ali algo moralmente abominável, independente da consequência que dizer a verdade traria. Já a moral teleológica, em uma situação em que mentir pudesse salvar vidas inocentes, por exemplo, mentir seria o certo a se fazer. Por outro lado, deveres absolutos também podem ser necessários. Se para salvar várias vidas fosse necessária a tortura de uma criança, provavelmente seria de decisão comum a opção de não fazê-lo, já que nada justificaria tal ato. Sendo assim, o sentimento de obrigatoriedade pode ser pressuposto tanto no sujeito da moral deontológica, quanto da teleológica.
A próxima observação é a de que, pelo que foi dito anteriormente, temos a impressão que o sujeito com sentimento de obrigatoriedade sempre saberá o que é certo a se fazer. Há, porém, situações onde surgem dilemas em que muitos não saberão com certeza o que fazer, como em casos de aborto, eutanásia e clonagens para fins terapêuticos. Segundo La Taille (2006, p. 34) “Em resumo, o sentimento de obrigatoriedade moral não implica sempre o saber-se qual o dever a ser seguido. O sábio é às vezes aquele que diz sinceramente: eu não sei”.
A terceira observação se refere à exigência dos deveres morais. Existem obrigações morais que são convencionadas em uma determinada sociedade, sendo inclusive abarcadas pelo Poder Judiciário, como os preceitos “não matar” e “não roubar”, passíveis de punição. Já outras são do senso comum, não tendo nenhuma regra que o impeça de infringi-la, mas, quando o feito, acarreta em exclusão social (como trapacear ou mentir para os amigos). Por outro lado, o sujeito pode ainda impor a si mesmo deveres morais que ele acha necessário ou imprescindível, como ajudar ao próximo. Portanto, o plano moral não se resume apenas ao que é socialmente exigido, apesar desse preceito servir de norte.
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