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O ciúme e o crime passional

Por:   •  16/11/2016  •  Monografia  •  18.060 Palavras (73 Páginas)  •  695 Visualizações

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INTRODUÇÃO

O ciúme é definido de várias formas. Está presente na natureza humana, é constante nas relações afetivo-sexuais e tem sempre como características o medo da perda ou ameaça de um “outro” real ou imaginário e a desconfiança. Este sentimento, quando de forma exagerada, pode se tornar patológico, colocando em risco a pessoa que sente e o outro.

        Quando patológico, o ciúme inclui diversas emoções exageradas e perturbadoras, comportamentos considerados absurdos e uma vontade inconsciente da presença de uma ameaça real. Entre os sintomas desta patologia encontramos a autoestima baixa, muita desconfiança e agressividade. Este comportamento pode levar o indivíduo a cometer os chamados crimes passionais, que são desde atos violentos até homicídios.

        Considerado hoje como hediondo, o crime passional ocupa um grande espaço na mídia e causa curiosidade e indignação nas pessoas, já que é muito difícil compreender uma pessoa que mata alguém que diz amar.

No geral, o criminoso passional é motivado por uma intensa emoção, não tem antecedentes criminais e raramente mata outra vez, tendo sua violência voltada especificamente para a pessoa amada.

O interesse de estudar o ciúme e os crimes passionais, no campo da Psicologia surgiu frente ao questionamento de como pessoas sem antecedentes criminais são capazes de cometer desde atos de extrema agressividade até o homicídio e suicídio, impulsionados por um sentimento que acreditam ser amor.

Essa pesquisa pretende mostrar as diversas formas do ciúme, quando ele se torna patológico e como leva as pessoas a cometerem crimes passionais.

No primeiro capitulo é apresentado o sentimento do ciúme e suas diversas definições. Também são relatadas as visões de Freud e Melanie Klein sobre o ciúme.

Já no segundo capítulo, é definido o ciúme na sua manifestação patológica e como se apresenta nas Psicoses Delirantes e na Paranóia.

O terceiro capítulo descreve os pontos que podem motivar o crime passional: como a emoção, a ira e a paixão.

No quarto capitulo, O crime passional, são apresentadas diversas definições sobre o termo, assim como seus aspectos históricos, sua abordagem na literatura e a transformação da legislação no decorrer do século XX quanto à responsabilização do criminoso passional. São também abordadas a emoção violenta e a paixão, e as relações estabelecidas com o crime passional.

No capítulo cinco são apresentados alguns casos de homicídios passionais que tiveram grande repercussão no Brasil, e no capítulo seis é relatado o caso Pontes Visgueiro e seu crime contra Maria da Conceição. Em seguida é apresentada uma análise dos aspectos psicológicos e culturais que compõem o fato.

 E, para finalizar, é feita uma abordagem para a compreensão de como o ciúme pode levar um indivíduo a praticar um crime passional.

        O método de pesquisa utilizado será o exploratório que, segundo Gil (2002), envolve o levantamento bibliográfico. “Seu planejamento é bastante flexível de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato”. (GIL, 2002).

        A pesquisa bibliográfica será desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Segundo Gil (2002, p. 44): “[...] a pesquisa bibliográfica permite ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aqueles que poderia pesquisar diretamente”.

CAPITULO 1 – CIÚME

1.1. O sentimento do Ciúme

O ciúme é um sentimento presente em todos nós, alguns até afirmam que ele dá certo tempero ao relacionamento amoroso. Mas ele, quando extremo, pode se tornar um sentimento patológico e nocivo tanto para quem sente, quanto para o outro, podendo tornar insuportável o relacionamento. A pessoa sentindo ciúme começa a se sentir ameaçada e uma sensação de perda toma conta dela, o que faz com que ela fique extremamente agressiva. Este sentimento pode vir a causar em quem sente um descontrole psíquico, o que por muitos autores é chamado de “Síndrome de Otelo” provocando desde atos de agressividade até suicídio e/ou homicídio.

Segundo Ferreira – Santos (2007) o termo “ciúme” se origina do latim zelumen, que, por sua vez, tem origem do grego zelus e em seu sentido original significa zelo, cuidado.

Sobre o tema, o autor, diz que o amor sempre é acompanhado por outros sentimentos como o cuidado e o zelo para com a pessoa amada. Quem verdadeiramente ama quer cuidar e acolher, nutrindo um sentimento voltado para o outro. Quando o zelo é colocado de forma distorcida, surge o ciúme. Analisando bem este sentimento, percebemos que é um sentimento egocêntrico e não de alteridade; é quando a pessoa se amedronta com a possibilidade de perder a exclusividade sobre o outro.

Para o autor é normal alguém ficar enciumado em algumas situações, quando de fato se sente ameaçado ou excluído, o que leva a um questionamento sobre o sentimento, podendo até compartilhá-lo com o outro. Já a pessoa caracterizada como ciumenta, pode não ter muita ciência do sentimento, permanece aflita o tempo todo,  sempre procurando uma forma de confirmar suas suspeitas. Geralmente tem atitudes agressivas e de desconfiança, causando mal à relação. Mas, quando o ciúme torna-se patológico, comprometendo o psíquico da pessoa, podem ocorrer delírios, e uma simples desconfiança pode se tornar uma certeza sem fundamento. Enquanto os ciumentos podem manifestar desde uma autoestima má estruturada até uma situação de neurose, os portadores da “Síndrome de Otelo” podem ter problemas neuropsiquiátricos e psicoses.

Vale ressaltar que o autor coloca que o ciúme é mais um sentimento que causa sofrimento para quem sente e para a pessoa amada, do que um tempero a mais para a relação. Há casos que vêm acompanhados por demências como a alcoólica, e a causada por Doença de Parkinson, ocasionando o ciúme mórbido e perseguidor, nos quais o auxilio médico e/ou jurídico são essenciais.

Ferreira-Santos (2002) descreve: “Quanto maior a intensidade desse sentimento, mais estaremos ultrapassando os limites da normalidade, para, aos poucos, podermos ser devorados por uma obsessão capaz de destruir qualquer relacionamento”.

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