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Onceito De Liberdade, Individualidade E Igualdade

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Por:   •  2/4/2014  •  2.944 Palavras (12 Páginas)  •  604 Visualizações

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O assunto "Behaviorismo e Sociedade" permite considerações bastante diferenciadas, tanto do ponto de vista dos problemas a serem enfocados, como do ponto de vista da maneira de abordá-los. O tema que pretendo tratar é o do individualismo, e o que apresentarei constitui-se, menos no resultado de uma pesquisa encerrada e, mais, numa proposta de investigação inspirada em trabalhos realizados por psicólogos (Andery, 1990; Figueiredo, 1992) e outros profissionais das chamadas ciências humanas e sociais (Duby, 1990; Elias, 1990; Sennett, 1989).

De um modo geral, procurarei apenas assinalar alguns pontos relevantes com respeito à possibilidade de interpretação da questão do individualismo, a partir de um referencial skinneriano. Por outro lado, esta é uma análise que tem, como pano de fundo, a intenção de colocar em discussão o quanto o Behaviorismo Radical instrumentaliza para uma reflexão sobre a cultura. Neste sentido, o tema do individualismo tem, aqui, a função de ilustrar o alcance de algumas idéias de Skinner sobre a concepção de homem predominante na cultura ocidental moderna.

I- O Individualismo e o Exemplo da Epistemologia

O conceito de "individualismo", em termos gerais, e sem enveredar pelas controvérsias a ele relacionadas, remete a um conjunto de idéias e valores que colocam o indivíduo particular no centro das atenções e tendem a atribuir a este indivíduo a possibilidade de realização pessoal, de forma independente daqueles que os circundam (Cf. Dumont, 1985). Esta concepção pode ser ilustrada recorrendo-se à reflexão epistemológica, na qual ela se manifesta, a partido do século XVII, na forma de uma ênfase em condições individuais como as responsáveis pela possibilidade de se vir a conhecer a realidade. Exemplo disso é a filosofia de Descartes, segundo a qual um indivíduo por si só, e com pleno uso de seu pensamento racional, pode chegar ao conhecimento verdadeiro. De acordo com esta posição, conhecer é algo relativo a uma faculdade (a razão) exercitada por indivíduos particulares. Daí a esperança cartesiana de reconstruir, sozinho, o edifício da filosofia. A confiança na auto-suficiência da razão de cada sujeito singular expressa-se com nitidez, por exemplo, quando Descartes afirma, no Discurso do Método:

... é quase impossível que nossos juízos sejam tão puros ou tão sólidos como seriam, se tivéssemos o uso inteiro de nossa razão desde o nascimento e se não tivéssemos sido guiados senão por ela (Descartes, 1637/1987).

Isto é, a condição ideal de garantia do conhecimento verdadeiro seria aquela em que os juízos tivessem sido constituídos, desde o nascimento, exclusivamente a partir da própria razão, sem nenhuma interferência dos "apetites" ou das opiniões alheias, o que, para o próprio Descartes, é impossível, já que o pleno uso da razão só é alcançado com a maturidade.

A posição cartesiana, em muitos aspectos, há havia sido antecipada pela filosofia platônica, na antiguidade. Todavia, é apenas na modernidade que a ênfase no que ocorre com o indivíduo particular que pretende conhecer assume uma centralidade na reflexão de ordem epistemológica. E assume esta centralidade, entre outros, porque consolida o que já foi denominado pelo conceito de homo philosophicus (Elias, 1990), isto é, uma "... imagem do indivíduo como ser inteiramente livre, independente, uma 'personalidade fechada' que é 'por dentro' inteiramente auto-suficiente..." (Elias, 1990, p. 237). Por outro lado, mesmo quando a filosofia deixa de acreditar na intuição pura cartesiana, ela preserva a suposição de que eventos interiores de cada indivíduo é que são os responsáveis por seu conhecimento.

No caso dos empiristas (Locke, Berkeley e Hume), isso ocorre na forma da proposição de que as sensações ou impressões de cada indivíduo é que dão origem a suas idéias e juízos sobre o mundo. E, de maneira diversa, no caso da filosofia kantiana, com a idéia de que todo conhecimento possível, embora pertencendo ao campo da experiência, é determinado por condições (subjetivas) aprioristicamente existentes no sujeito que conhece. Dessa forma, tanto em Descartes, como nos empiristas, como em Kant, o problema do conhecimento é examinado como algo que diz respeito, não ao intercâmbio entre os homens, mas ao que é vivenciado por cada indivíduo particular.

A reflexão sobre a natureza do conhecimento parece constituir-se apenas em um exemplo da incidência do individualismo no pensamento ocidental moderno. Simultaneamente à emergência do que se expressa pelo conceito de homo philosophicus, algo que poderia ser denominado pelo conceito de homo economicus também se desenvolve no contexto do pensamento econômico liberal. De fato, a valorização do indivíduo singular se estende a diversos domínios da cultura que se instaura após o período Renascentista. Esta valorização parece permear, ainda na atualidade, um vasto conjunto de práticas sociais, sem que necessariamente se atente para suas manifestações ou se compreendam suas raízes históricas. Deste ponto de vista, uma reflexão sobre o individualismo pode se constituir numa via para discutir-se criticamente a sociedade contemporânea (Cf. Dumont, 1985).

As concepções epistemológicas citadas acima permitem desvelar um aspecto importante das doutrinas individualistas: a relação entre individualismo e liberdade. O individualismo implica (além da noção de liberdade), também, a noção de igualdade (Dumont, 1985), a qual não estará sendo enfatizada em função dos limites deste trabalho. Segundo Dumont (1985), a relação entre individualismo e liberdade propicia uma leitura particular das teorias socialistas Estas, do ponto de vista de Dumont, preservam um aspecto essencial das doutrinas claramente individualistas, a noção de "igualdade", mas enquanto atributo da justiça social (e não do indivíduo particular), além disso, esta noção de igualdade aparece associada a uma restrição da liberdade pessoal, com a negação da propriedade privada. Observa-se, neste caso, um elemento da doutrina individual, mas associado a um componente que aponta para uma direção oposta à do próprio individualismo (Dumont, 1985, pp. 91-92).

Esta relação indica que o interesse em indivíduos particulares está intimamente associado (entre outros), com a idéia de que estes indivíduos podem realizar-se, nos diferentes domínios de suas vidas, por si sós, de forma independente de seus pares. Em outras palavras, é somente na medida em que se pressupõe a liberdade individual que se justifica pensar uma realização (por exemplo,

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