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Religião X Homossexuais

Por:   •  12/6/2018  •  Pesquisas Acadêmicas  •  6.054 Palavras (25 Páginas)  •  119 Visualizações

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  1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A religião em relação à sexualidade tem sido um instrumento ideológico e político-social, de forma que tem orientado os indivíduos para uma moral, na maioria das vezes, negando sua sexualidade. A maior exceção vem dos orientais que se pautaram pelas orientações religiosas do Taoísmo, Budismo e Confucionismo que têm uma relação no que se refere à sexualidade sem a força repressora como as Igrejas cristãs, desta forma a sociedade oriental sempre foi muito mais livre e natural que a ocidental. (SILVA, 2008).

Segundo o mesmo autor, há mais de 2000 anos apareceram na China, Japão e Índia, filósofos que indicavam que a sexualidade conferia iluminação espiritual. Que o sexo não buscava somente o prazer, mas também a transcendência da mortalidade humana. Os chineses descobriram o equilíbrio através da natureza e aplicaram em todas as áreas da sua vida inclusive na sexualidade. (SILVA, 2008).

Vale-se ressaltar que na Antiguidade, os gregos surgem como os mais liberais, pelo menos é a visão que a maioria do Ocidente tem sobre este povo, porém esta liberdade está associada a algo natural e não necessariamente libertino, pois consideravam “a atividade sexual, tão profundamente ancorada na natureza e de maneira tão natural, não poderia ser – e Rufos de Éfeso o lembrará – considerada má” (FOUCAULT, 2001, p.47 apud SILVA 2008).

Entre os gregos também aparece à idéia de sexo associado á procriação e aí se apresenta a dimensão espiritual da sexualidade associado a polis. Platão insiste no fato de que:

Tanto um como o outro esposo devem ter em mente (dianoisthai) que eles devem dar à cidade “as crianças mais belas e melhores possíveis”. Eles devem pensar nessa tarefa intensamente em função do princípio de que os homens são bem sucedidos naquilo que empreendem “quando refletem e aplicam seu espírito ao que fazem”, ao passo que fracassam “se não aplicarem seu espírito ou se não o possuírem”. (Foucault, 2001 p.112 apud Silva 2008).

Silva (2008) considera que foi a partir do cristianismo que a sexualidade passou a ser vista como pecado e apenas admitida no âmbito matrimonial e exclusivamente para a procriação. A copulação deveria servir só para dar a luz. Desta forma, a monogamia e a virgindade para as mulheres passam a ser valorizadas como símbolos de virtude. Se a contracepção era considerada um pecado grave, a homossexualidade era um crime muito maior e, além de um perigo para a Igreja e um repúdio à moralidade cristã, foi também considerada um perigo para o Estado. O “batismo era recusado ao homossexual, assim como a instrução na fé, até que ele houvesse renunciado a seus hábitos malignos” Silva (2008, Apud Tannahill, 1980).[pic 1]

Segundo Endsjo (2014), no Japão contemporâneo a não aceitação também era evidente, segundo o mesmo autor

A homossexualidade não tem, de maneira nenhuma, a mesma aceitação que tinha no passado, mas isso decore primeiramente na influencia externa e do desejo das autoridades japonesas de modernizar o país com base no modelo ocidental desde a abertura japonesa ao mundo, em meados do século XIX. Em 1873, foi introduzida a proibição do sexo entre homens segundo o modelo alemão. Ainda que tenha sido revogada dez anos depois, recomendação de juristas franceses, iniciativas como essa levaram a que a homossexualidade deixasse de ser amplamente aceita na sociedade e, consequentemente, perdesse seu papel central na religião.(ENDSJO, 2014, p. 158).

 

O mesmo enfatiza que os mosteiros budistas eram famosos por abrigar casos homossexuais, normalmente entre homens de posição e idades diferentes. (ENDSJO, 2012).

O budismo e a homossexualidade masculina eram intrinsecamente conectados no Japão. O bodhisattva Kobo Daishi, que instruiu Mitsuo no sexo entre homens, costumava ser visto como responsável pela introdução tanto do budismo esotérico como do sexo entre homens no Japão do século XI. Dos séculos XIV ao XVI floresceu um gênero próprio de narrativa, chigo monogatari, versando sobre a relação entre monges e noviços (chigo). Eram histórias que costumavam terminar com o monge perdendo seu amor e, por meio dessa perda, alcançando um novo patamar de consciência. Como regra, o belo noviço era uma manifestação de um grande bodhisattva, uma divindade budista, que por meio de suas condutas homossexuais, dentre outras, dava ao monge um insight mais profundo (ENDSJO, 2014, p. 156).

Em 1667, Kitamura Kigin que era escriba e conselheiro dos xóguns de Tokugawa, escreveu de forma explícita o vínculo entre a homossexualidade e o budismo,

Já que a relação entre os gêneros foi proibida por Buda, os pastores da lei – não sendo feitos nem de rocha nem de madeira – não tinham alternativa a não ser praticar o amor com rapazes como uma forma de dar razão aos seus sentimentos [...] Essa forma de amor se mostrou mais profunda que o amor entre homens e mulheres, afligindo o coração de aristocratas e guerreiros, indistintamente. Mesmo aqueles que habitam montanhas e cortam lenha na floresta estão cientes de seus prazeres (ENDSJO, 2014, p.157).

 Kobo Daishi não pregava os profundos prazeres do amor entre homens fora dos muros dos monteiros porque temia a extinção da humanidade. Em contrapartida, o Mar Amarelo localizado na sociedade chinesa foi alvo de uma idêntica aceitação do sexo entre homens,

A homossexualidade masculina era aceita pela elite social, segundo indicam os graus de tolerância de mundo religiosa na China, uma visão que data de antes da chegada do budismo. Um conto escrito no sexto século depois de Cristo pelo filósofo Ha Fei Zi fala sobre o governante Wei e seu amante masculino Mizi Xia no final do século III (ENDSJO, 2014, p. 158).

 

A acepção positiva tradicionalmente existente entre a religião e a homossexualidade masculina no Japão e na China pode ser vista dentro de um pano de fundo budista mais amplo. A homossexualidade disseminada nos monteiros tem a ver com a resistência que o budismo normalmente tem em relação ao sexo heterossexual, Endsjo (2014) fala que o desejo em excesso é um problema,

[...] Não importa qual seja o gênero dos parceiros. Vários textos budistas primitivos, traçam um quadro nada positivo do que chamam de pandaka, isto é, homens afeminados acusados de um desejo avassalador por homens não pandakas. Não é a questão de gênero que causa espécie aqui, mas o desejo sem limites. Pandakas são, consequentemente, comparados a prostitutas ou a jovens lascivas. Diz-se que Buda recusou a ordenar pandakas monges (ENDSJO, 2014, p. 160)

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