HABRONEMOSE CUTÂNEA EM EQUINO: RELATO DE CASO
Por: Mylena Souza • 23/9/2019 • Artigo • 1.504 Palavras (7 Páginas) • 527 Visualizações
HABRONEMOSE CUTÂNEA EM EQUINO: RELATO DE CASO
Maria Cristina Andrade Oliveira Donato1; André Luis Barbosa Ribeiro1; Lucas Ferreira da Silva Gomes1; Leticia Dorea Rocha Soares de Souza1; Mylena Santana Souza1; Albert Caio Cerqueira Sacramento1
Ticianna Conceição Vasconcelos2
1Discentes da União Metropolitana de Educação e Cultura, UNIME, Lauro de Freitas-BA
2Docente do Departamento de Clínica de Grandes Animais, UNIME, Lauro de Freitas-BA
RESUMO
A habronemose cutânea é causada pela invasão de larvas da Habronema muscae em superfícies de lesões, transportadas pelas moscas vetores. É uma enfermidade sazonal, ocorrendo geralmente na primavera e verão, períodos em que aumenta a população das moscas. A manifestação da enfermidade se dá com lesões ulceradas de pele que não cicatrizam em locais como: região peri-orbital, linha media do abdômen e membros. Basicamente, o diagnostico é feito a partir da anamnese, sinais clínicos e epidemiologia, confirmando-se através de histopatologia. A prevenção se resume em manejo sanitário adequado, controle populacional de moscas e tratamento de lesões de pele. Em março de 2017, um equino deu entrada na Clínica de Grandes Animais do Hospital Veterinário da Unime apresentando lesões não cicatrizantes na região peri-orbital e no membro anterior direito. O animal utilizou tratamento local e sistêmico, com abamectina, praziquantel, vitamina E, tricloforne, pomadas antibióticas e antiinflamatórios, sendo observado melhora gradual das lesões. Em 43 dias o animal recebeu alta.
Palavras-chave: ferida de verão, nematódeos, moscas.
INTRODUÇÃO
A habronemose cutânea é causada pela invasão de larvas da Habronema muscae ou Draschia megastoma em superfícies lesionadas. Geralmente ocorre nos trópicos e subtrópicos, e trata-se de uma enfermidade sazonal, com ocorrência geralmente na primavera e verão, períodos em que aumenta a população das moscas que são os hospedeiros intermediários, razão pela qual também é conhecida como “ferida de verão”. Além disso, frequentemente o mesmo cavalo é reinfectado nos verões subsequentes, o que indica pouca ou nenhuma resistência imunológica ou celular (KNOTTENBELT; PASCOE, 1998). Mesmo que vivam congregados, indivíduos isolados podem ser infectados. Não existe predileção por sexo, idade ou raça.
Os nematódeos adultos Habronema muscae e Draschia megastoma normalmente habitam o estômago dos equinos. Sendo assim, os ovos e as larvas são eliminados nas fezes e ingeridos por larvas das moscas Musca domestica e Stomoxys calcitrans, que são os hospedeiros intermediários. Estas, ao se alimentar de soro, sangue e exsudatos ou secreções corporais, depositam as larvas infectantes do agente etiológico. Com base no descrito por Ogilvie (2000), as larvas depositadas perto da boca são deglutidas e completam o ciclo de vida no estômago; as depositadas no nariz migram para os pulmões; as depositadas em feridas ou áreas úmidas do corpo produzem tanto uma reação inflamatória local como uma reação alérgica localizada. A manifestação da enfermidade se dá com lesões de pele ou escoriações onde o equino não consegue espantar as moscas vetoras das larvas (THOMASSIAN, 2005), geralmente no canto interno do olho (região peri-orbital), na linha media do abdômen, nos membros (abaixo das regiões metacárpica e metatársica), na fossa uretral e no prepúcio. Desenvolvem-se rapidamente de uma pápula para um nódulo (REED; BAYLY, 2000), podendo atingir grandes diâmetros, ser simples ou múltiplas, e apresentar inflamação granulomatosa, ulceração, exsudação, prurido e tecido de granulação exuberante. As feridas costumam conter grânulos calcificados muito pequenos (REED; BAYLY, 2000) cercando as larvas. O granuloma pode evoluir atingindo grandes volumes, o que torna importante o tratamento precoce (THOMASSIAN, 2005). Este cicatriza de forma muito lenta, a menos que seja submetido a tratamento específico para habronemose.
O tratamento objetiva reduzir o tamanho das lesões, diminuir a inflamação e evitar reinfestação (REED; BAYLY, 2000) e pode ser local, instituindo-se a crioterapia, utilizando-se gás carbônico ou nitrogênio líquido, em casos de granulomas pequenos, ou ressecção do tecido de granulação; tópica, com combinações de drogas larvicidas, antimicrobianas e antiinflamatorias, penetrantes e protetoras, aplicadas diariamente sob bandagens (OGILVIE, 2000) ou pode-se utilizar a mesma formula de pomada indicada para as feridas tratadas por segunda intenção adicionando-se, porém, 9 gramas de triclorfom pó (THOMASSIAN, 2005), uma vez que as lesões provocadas pelo agente etiológico em questão não respondem aos tratamentos comuns de feridas; ou sistêmica, utilizando-se ivermectina, para eliminação das larvas que penetram na pele (REED; BAYLY, 2000), glicocorticoides e organofosforados, embora Reed e Bayly (2000) acreditem que este tenha pouco valor terapêutico nesse caso pelo fato de se supor que a patogenia seja uma reação de hipersensibilidade às larvas mortas e que estão morrendo.
Basicamente, o diagnostico é feito a partir da anamnese, sinais clínicos, localização das lesões e epidemiologia. Podem ser realizados raspados de pele, porém de acordo com Reed e Bayly (2000), não são confiáveis por não serem consistentemente positivos e poder ser encontradas larvas de moscas de outras espécies. Geralmente, a biópsia é o exame de escolha e o achado histológico esperado é uma dermatite eosinofilica difusa, com presença também de mastócitos, e áreas multifocais de necrose de coagulação discreta com ou sem larvas dos nematoides em degeneração (REED; BAYLY, 2000; OGILVIE, 2000). Deve-se diferenciar de pitiose e sarcoide. Prevenir a Habronemose cutânea consiste em métodos simples de higiene sanitária, mantendo as instalações limpas, eliminando rapidamente o esterco e cama suja dos animais, para assim controlar a população de moscas e evitar a contaminação.
RELATO DE CASO
Em 07 de março de 2017, deu entrada na Clínica Médica de Grandes Animais do Hospital Veterinário da Unime (Lauro de Freitas – BA) um equino SRD de 10 anos de idade, apresentando lesões ulcerativas não cicatrizantes na região periorbital e no membro anterior direito. De acordo com o proprietário, o animal foi adquirido há aproximadamente um ano já apresentando uma ferida na região do boleto do membro anterior direito e, depois de um tempo, surgiu na região periorbital de ambos os olhos, com as mesmas características. Foi realizado tratamento pelo proprietário que não apresentou resultado. O animal passava maior parte do tempo solto na propriedade, convivendo com outros três equinos. Durante o exame clinico, notou-se linfonodos submandibulares reativos, pêlos opacos e caquexia. Foi estabelecido tratamento tópico durante o período do internamento com limpeza e debridamento inicial da ferida para promover cicatrização. A limpeza foi realizada com degermante e escova de cerdas para debridar.
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