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Saúde animal

Por:   •  15/9/2015  •  Bibliografia  •  5.749 Palavras (23 Páginas)  •  461 Visualizações

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SAÚDE ANIMAL

O componente social e sua importância na planificação em Saúde Animal

Tânia Maria de Paula Lyra Médica Veterinária, CFMV -116 Mestre em Medicina Veterinária Preventiva e Doutoranda em Ciência Animal na UFMG. Diretora do Curso de Veterinária da AGROPLAC UNIPLAC, Brasília-DF .

José Ailton da Silva Médico Veterinário, CRMV-1130 Doutor em Ciência Animal. Professor de Epidemiologia da Escola de Veterinária da UFMG, Belo Horizonte-MG.

SAÚDE ANIMAL

O componente social e sua importância na planificação em Saúde Animal

Tânia Maria de Paula Lyra e José Ailton da Silva  

     Introdução

     Uma das conquistas do mundo moderno é o uso da tecnologia na genética, produção, diagnóstico e tratamento das doenças. Estas conquistas ocasionaram aumento na produtividade animal, maior aporte de proteínas na alimentação humana e aliada às descobertas das vacinas e antibióticos contribuíram para a diminuição das doenças infecciosas, proporcionando o crescimento da população.

     Os avanços geraram expectativas de que até o ano 2000, as doenças infecciosas estariam erradicadas das populações humanas e animais.

     Há 100 anos a tuberculose era a principal causa de óbito nos EUA sendo responsável por cerca de 20% das mortes. Hoje, esta doença não figura entre as 10 principais causas de morte naquele País onde o declínio de mortalidade populacional foi significativo, porém, não beneficiou todos os segmentos da população da mesma maneira.

     Hoje, vemos a manutenção da ocorrência de doenças, como a tuberculose nos mais pobres, apesar dos conhecimentos adquiridos no seu diagnóstico e tratamento. Samuel Pessoa já alertava desde a década de 50 para a importância das estruturas sociais na determinação dos tipos de interações agente -hospedeiro em populações humanas e o conseqüente quadro de doença (Pessoa, 1978).

     Nas sociedades ocidentais, a lógica do lucro e do domínio da natureza, ocasionou o desenvolvimento tecnológico utilizado para corrigir a crise nos padrões de produção e consumo vivenciados pela civilização atual, considerada por muitos autores como insustentáveis (Sachs, 2000). Os diferentes padrões dos sistemas de produção animal determinam o caráter diferenciado da ocorrência de doenças nos rebanhos entre países e dentro de um mesmo país, onde existem desigualdades sociais relevantes.

     As diferenças sociais, econômicas e culturais presentes no processo de globalização se refletem na ocorrência desigual de doenças entre países de situação econômica diferentes e na interdependência manifestada no risco de sua difusão entre países (Lyra, 2001).

     A busca de igualdade na situação sanitária mundial é uma prioridade, pois com o aumento do comércio internacional, o risco de difusão de doenças é uma realidade recentemente comprovada no surto de febre aftosa ocorrido na Inglaterra, com um vírus procedente da Ásia.

     Este fato é decorrente das crescentes trocas internacionais, previstas por Marx, em 1848, "A burguesia não pode existir sem revolucionar continuamente os instrumentos de produção. A necessidade de mercados cada vez mais extensos para seus produtos, impele a burguesia para todo o globo terrestre. Em lugar das velhas necessidades, satisfeitas pela produção nacional, surgem necessidades novas, que para serem satisfeitas exigem produtos de terras e climas distantes" (Miranda, 2000).

     A mesma situação é observada quando um país desenvolvido, como a Inglaterra, modifica seu sistema de produção, desrespeitando a agroecologia, induzindo o aparecimento de uma nova doença - a encefalopatia espongiforme bovina e, disseminando-a para vários países, através do comércio indiscriminado da ração contaminada (-LYRA, 2001b).

     As principais doenças infecciosas estão erradicadas dos rebanhos dos países desenvolvidos e mantidas nos países em desenvolvimento, transformando-se em causa da baixa produtividade desses rebanhos, menor renda e, ocasionando importantes barreiras à participação desses países nos mercados internacionais. Com isso, aumentam-se as desigualdades diminuindo as possibilidades dos países em desenvolvimento melhorarem a situação econômica e, conseqüentemente, suas condições de investir em saúde animal.

     Doenças como a tuberculose e brucelose bovina, apesar do conhecimento das técnicas de diagnóstico e estratégias de controle, continuam presentes em muitos rebanhos ao lado daquelas ampliadas pela pressão de produção, como a Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) e a doença de Aujeszky nos suínos.

     Estes aspectos tornam imprescindível a prioridade absoluta na observação das formas de produção e do componente social, como determinante epidemiológico de doenças e, na necessidade dos veterinários implantarem no sistema de produção animal, as orientações para o desenvolvimento sustentável, aqui entendido, de acordo com Sachs (2001), como "a combinação do respeito ao meio ambiente, com a economia, mantendo-se o equilíbrio ecológico".

     Embora os defensores do desenvolvimento auto-sustentável tenham uma preocupação social, o foco tem sido mais para a ecologia do que para a atenção à miséria. Buarque (2001), sugere um conceito alternativo de "desenvolvimento solitável", que implica na adoção de uma atitude socialmente solidária e ecologicamente sustentável.

     Estes conceitos devem ser incorporados no delineamento diferenciado das estratégias da planificação em saúde animal, para os diferentes estratos sociais.

     O Conceito de Saúde Humana e de Saúde Animal

     Contreras (2000), num estudo sobre a evolução histórica do conceito saúde-doença, relatou que a primeira interpretação de doença era sobrenatural sendo atribuída aos "maus espíritos", tendo como terapêutica, as danças, cantos, purgantes e eméticos, cor-rente que em determinados aspectos ainda persiste nas terapias psicossomáticas. Em continuação o autor refere-se à teoria da doença como "castigo divino", que prevaleceu desde a peste do antigo Egito até o Renascimento, século XVI, sendo esta conceituação alimentada pela religião, que induziu o aumento da riqueza e poder das castas sacerdotais.

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