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Erros Inatos do Metabolismo

Por:   •  1/6/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.603 Palavras (11 Páginas)  •  824 Visualizações

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ATUALIZAÇÃO/REVISÃO

ERROS INATOS DO METABOLISMO: REVISÃO DE LITERATURA1

INBORN ERRORS OF METABOLISM: LITERATURE REVIEW

Antonette Souto EL HUSNY2 e Milena Coelho FERNANDES-CALDATO3

RESUMO

Objetivo: estudo de revisão sobre Erros Inatos do Metabolismo (EIM). Método: realizado por levantamento de dados nas bases MEDLINE e LILACS. Conclusões: compreendem alterações enzimáticas de origem genética responsáveis por manifestações metabólicas em que há falha de síntese, degradação, armazenamento ou transporte de moléculas no organismo. Os Erros Inatos do Metabolismo são clássicos distúrbios genéticos, tornando-se importante conhecê-los para um bom aconselhamento familiar que inclua, principalmente, o prognóstico do paciente e o risco de recorrência da doença.

DESCRITORES: erros inatos do metabolismo, doenças metabólicas hereditárias.

INTRODUÇÃO

500 distúrbios conhecidos,1,3,8 a freqüência se torna mais Os erros inatos do metabolismo (EIM) são

expressiva, de aproximadamente 1/5000 nascidos distúrbios de natureza genética que geralmente

vivos.3,5,6 Deve ser considerado que os números baixos correspondem a um defeito enzimático capaz de

podem representar, não só a raridade dos distúrbios, acarretar a interrupção de uma via metabólica.1,2,3,4

como, também, a subestimação de seu diagnóstico. Ocasionam, portanto, alguma falha de síntese,

No Brasil, estima-se a prevalência isolada de degradação, armazenamento ou transporte de moléculas

algumas doenças, como da fenilcetonúria, variando no organismo.

entre 1:12000 e 1:15000, da Doença da Urina de Tais erros do metabolismo são considerados a

Xarope de Bordo com prevalência de 1:43000 e da causa das Doenças Metabólicas Hereditárias (DMH)

Deficiência de Biotinidase com 1:125000 recém em que a ausência de um produto esperado, acúmulo

nascidos vivos.5,9,10 de substrato da etapa anterior a interrompida ou o surgimento de uma rota metabólica alternativa podem

HISTÓRIA levar ao comprometimento dos processos celulares.1,3

Os estudos sobre os EIM iniciaram-se na primeira Esse grupo de doenças representa cerca de 10%

década do século XX quando Archibald Garrod de todas as doenças genéticas.1,3 E ainda hoje, são tidos

descreveu a alcaptonúria. Em seu clássico artigo eram por muitos profissionais como casos extremamente raros

destacados os aspectos genéticos da doença que foi uma de se deparar durante a prática clínica sendo, muitas

das primeiras alterações para a qual a herança vezes, a última hipótese diagnóstica.5,6,7

mendeliana recessiva foi proposta. Ao tratar da Em grande parte, são doenças que afetam todo o

“individualidade química, estava dando início à genética organismo e podem se manifestar em qualquer faixa

bioquímica.3,11 etária, fazendo com que médicos de diferentes

A Garrod deve-se o termo consagrado “Erros especialidades devam atentar aos sinais e sintomas de

Inatos do Metabolismo-, título de seu livro, publicado um erro metabólico em qualquer paciente que,

em 1909, no qual descrevia além da alcaptonúria, outras porventura, possa ser encaminhado aos seus cuidados.1,5

doenças metabólicas como o albinismo, porfiria e A incidência isolada de cada uma das doenças

pentosúria.3 metabólicas é pequena, até porque tratam-se de doenças

É válido ressaltar que a relação entre os aspectos que, em geral, têm herança autossômica recessiva. No

bioquímicos e genéticos puderam ser melhor entanto, se forem contabilizados os dados dos cerca de

esclarecidos apenas em 1941, quando Beadle et al.

Recebido em 23.01.2006 - Aprovado em 17.05.2006 1Trabalho realizado pelo Departamento de Patologia da Universidade do Estado do Pará 2 Graduanda do Curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará. Monitora da disciplina de Genética. 3 Médica endocrinologista. Doutora em Medicina. Professora de Genética da Universidade do Estado do Pará.

Revista Paraense de Medicina V.20 (2) abril - junho 2006 41


Grupo III: Deficiência na produção ou utilização de energia.

Entre os distúrbios de síntese ou catabolismo de moléculas complexas estão as doenças lisossomiais, que são as mucopolissacaridoses e as esfingolipidoses, assim como as doenças peroxissomiais.5,6

Os distúrbios do grupo I apresentam sintomas permanentes que tendem a acentuar com o passar do tempo, como facies grosseira, dismorfias, visceromegalias, neurodegeneração, entre outros, respeitando a localização do acúmulo.2,5,6

As doenças metabólicas enquadradas no grupo II compreendem as aminoacidopatias, os defeitos dos ácidos orgânicos e do ciclo da uréia e as intolerâncias aos açúcares. Caracterizam-se por apresentarem intervalos livres de sintomas e relação evidente com o aporte alimentar. As manifestações levam, de maneira geral, à intoxicação aguda e recorrente ou crônica e progressiva.3,6,2

O grupo III inclui doenças cuja clínica é decorrente de alterações de produção e consumo energéticos. Em sua maioria, são provenientes de distúrbios do fígado, miocárdio, músculo e cérebro. Manifestam-se, comumente, através de hipoglicemia, hipotonia generalizada, miopatia, insuficiência cardíaca, retardo de crescimento e até morte súbita, entre outros sintomas. Exemplos desse grupo são as glicogenoses, hiperlacticemias congênitas, doenças mitocondriais da cadeia respiratória e defeitos na oxidação de ácidos graxos. 3,5,6

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

As crianças portadoras de muitos EIM, como aqueles de manifestação aguda, parecem perfeitamente normais ao nascimento. Em geral, os sintomas aparecem quando há alteração, por fatores exógenos, do equilíbrio bioquímico mantido até o momento pela criança.7,13

O diagnóstico clínico correto das DMH é dificultado pelo enorme número de doenças de grande complexidade, pela variedade de sintomas clínicos, além de serem consideradas, extremamente, raras pela maioria dos profissionais.3,5,6,7,3

Soma-se a tais dificuldades, uma apresentação clínica bastante inespecífica, incluindo letargia, recusa alimentar, icterícia, vômitos, diarréia, visceromegalia, retardo de crescimento, convulsões e coma. Sintomas que sugerem causas bem mais freqüentes, a exemplo das infecciosas, as quais dificultam ainda mais o diagnóstico quando associadas. 3,5,6,7

Entretanto, existem alguns critérios e sinais que sem outra causa definida levam a pensar em uma Doença Metabólica Hereditária, quais sejam: 7,8

propuseram a hipótese “um gene - uma enzima”, considerando que todos os processos bioquímicos do organismo ocorrem sob controle gênico e, portanto, mutações gênicas levariam a rotas bioquímicas deficientes.3

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