Atenção Domiciliar: Sujeito, Família e Comunidade
Por: Maria Lima • 27/9/2016 • Trabalho acadêmico • 6.604 Palavras (27 Páginas) • 568 Visualizações
“Sujeito, família e comunidade”.
(Apresentações / contrato inicial / sensações / música Caetano Veloso).
I – Contextos, conceitos e comentários iniciais.
Foi com um misto de prazer e temor que aceitei o convite de palestrante sobre o tema, que no meu corte de análise irá deslizar sobre caríssimos conceitos de nossa civilização - fundantes, contundentes e imexíveis instituições da humanidade - suas imbricações particulares em cada um de nós e nas comunidades em que vivemos.
Já na frase que explicita nosso tema, a família esta no centro do texto. Minha palestra esta dentro do Curso de Saúde da Família. Venho trabalhando com o PSF há 2 anos.
É importante marcar, que o gênero da palavra é feminino. Vou mesmo destacar este pólo produtor e reprodutor da humanidade e de humanidades, tão “dominado”, tão em ascensão, tão importante.
É na família (tanto biológica quanto não biológica), é neste encontro íntimo entre semelhantes da mesma espécie (nem sempre), numa completa intimidade de proteção ou desproteção, que mais profundamente se marca pro “bem” e pro “mau”, com certeza, pra vida. Em suma, é nela, onde todos nós, desde cedo, aprendemos, distorcemos, afinamos, desenvolvemos ou atrofiamos nossas capacidades, sentimentos, medos, crenças e razões, mesmo com os modernos agentes de socialização – escola, mídia, etc. Freud que o diga!
O psicodrama afirma que: nasce-se e nos desenvolvemos sempre em relações. Diria eu, no meio de um “citoplasma relacional” que nos envolve como que colado em nossa própria pele, entranhado em nossas células. No caso de famílias biológicas isto já é dado; no não biológico, isto se faz. Ali está quem e o que diretamente nos faz nascer, cuida, nos maltrata, nos alimenta, até podermos ou não ser atirados ou nos atirarmos no mercado, no fluxo do oceano, no espaço, no fluxo da vida e ou criarmos novas unidades familiares.
As unidades familiares já há algum tempo vem se diferenciando mais e mais a cada dia e afastando-se do que tanto aprendemos e vivemos da família clássica - monogâmica, possessiva, biológica, nuclear, bipolar.
Assim sendo, nosso “sujeito” é um feixe de relações bio - históricas desde que é concebido e nasce, o que perdura por toda sua vida. Somos “nós” muito mais que “eus”, digamos assim, e temos sempre um “lócus nascenti” e uma matriz bio – historicamente constituída, que se “refaz” constantemente através dos tempos.
Em suma, impossível jogar fora o que já somos ao nascermos. E claríssimo que não podemos menosprezar o meio ambiente econômico - sócio - cultural – macro biológico em que crescemos, que permitirá ou não, desenvolvermos ou atrofiarmos nossas potencialidades.
De todas as formas imagináveis – relações.
A comunidade também é uma complexa teia de relações, que se apóia, em última instância, a meu ver, nas diferentes formas de família (optaria eu, já aqui, por familiaridade) imediata que nela se instalam, e como veremos, na ação direta das mulheres.
Mesmo com todos os cortes de classe ou outros tantos possíveis e imagináveis, o humano tem em comum uma família - biológica ou não.
Em nós humanos, a família se estende muito além do nascimento, até nossa morte. Nossa prodigiosa memória – genética e emocional – nos faz, para sempre, filhos, mães e pais, caso venhamos a procriar. Mesmo que não, com certeza, serão formados outros tantos tipos de famílias / citoplasmas necessários à sobrevida imediata.
Não sou especialista na temática, mas vivo e trabalho com ela diariamente.
Como psicodramatista / terapeuta, com mais de 20 anos de estrada, vivo envolvido com questões das famílias de meus alunos e clientes que se juntam as dos meus amigos e conhecidos, formando um conjunto de ódios e afetos intensos, contradições de nosso dia a dia.
Como cidadão estive e estou, assim como todos nós sempre estamos, as voltas com minha sagrada família – nela nasci, me criei, pirei, dela me tratei e sobrevivi.
Se tudo isto não bastasse, quase todas as metafísicas que conheço, em particular, a judaica - cristã, envolvem as famílias em alguma santidade natural que impermeabiliza qualquer veio mais profundo, produtivo, atualizante e crítico. Isto, em geral, muitas vezes não nos permite ver que a família é ao mesmo tempo o porto e o torto, o carinho e a tortura, o apoio e o julgamento, a ternura e a crueldade, enfim, que mantém polaridades dos humanos muito mais amplas que gostaríamos que existissem. Ou seja, no seu bojo, não se encontram apenas os sentimentos humanos mais íntimos, divinos e cândidos, e sim, toda uma gama de relações pulsionais, de propriedade e da produção da vida - afetos e agressões.
Em suma, para muito aquém do bento, do santo, do etéreo, estão os genes, a propriedade privada, a continuidade da espécie e sua mutação, como veremos.
Estamos cercados por todos os lados pelo fenômeno, dele participamos intensa, densa e emocionalmente, ou melhor, dele fazemos parte intrínseca. Nosso envolvimento é total, com certeza, trazendo, por vezes, pouco distanciamento para analisá-lo. Assim também o é com todos os outros assuntos que a consciência humana tenta esclarecer, mas o caso família é muito íntimo mesmo. Os assuntos nele envolvidos são infinitos, delicados e tiram o sono de cada um de nós.
E que o que mais nos atinge, em geral, são nossas intimidades e a família é focal neste ponto e ela, a meu ver, é responsável em grande parte, por grandes mudanças, pessoais e coletivas, que se efetuam.
Aqui então, do particular pro geral, do íntimo / privado para o público, a família para a comunidade. Pode parecer jargão cristão, mas é mesmo uma proposta de ação.
(ex: terapia / o mais difícil mudança na intimidade, nas relações mais íntimas, família).
Diante de tanto envolvimento, expor qualquer novidade sobre o tema é, no mínimo, suspeito, controvertido, discutível, e, principalmente extremamente incômodo, talvez, mais para os ouvintes que para o palestrante que deve estar acostumado aos seus raciocínios e hipóteses.
No meu caso particular, estes sentimentos se tornam mais intensos na medida em que, como verão, o meu corte de análise passará por uma brutal atualização da questão, envolvendo nossos mais recônditos conceitos, crenças e cristalizações. Não irei me ater a questões do dia a dia do sujeito, da família e da comunidade e sim, repropor um olhar e um fazer atualizados sobre os temas.
Sou economista, cientista social, psicodramatista, artista, escritor, poeta, ambientalista, cientista, gay e todas as minhas intervenções racionais em qualquer área são efetuadas sem metafísicas.
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