A Sociedade Informática
Por: Kelly Aires • 12/4/2017 • Abstract • 3.239 Palavras (13 Páginas) • 246 Visualizações
RESENHA : Adam Schaff, A Sociedade Informática
Em 1994, em Brasília, foi realizado, sob o patrocínio do Ministério das Relações Exteriores, o Seminário Internacional O Brasil e as Tendências Econômicas e Políticas Contemporâneas. Em clima de otimismo, participaram dos debates alguns dos nomes mais expressivos do meio acadêmico nacional e internacional. O Seminário foi amplamente acompanhado pela imprensa e alguns dos assuntos abordados foram notícia de primeira página. Um destes, motivo de especial atenção, dada a celeuma gerada, foi a análise realizada pelo professor Gilberto Dupas sobre as conseqüências prováveis da chamada terceira revolução tecnológica, pessimista e destoante da tônica reinante. Impulsionada pela Informática e pela Microeletrônica, esta terceira revolução teria efeitos que apenas estariam começando a se esboçar neste final de século. Dupas apontou aquela que seria a grande ameaça dela decorrente: a exclusão incontornável da maior parte da população mundial do mercado de trabalho. Para Dupas, os possíveis efeitos a médio prazo que podem decorrer dessa turba crescente de marginalizados pelo processo histórico são ainda incertos, e seu alcance é difícil de ser mensurado. Os sintomas, no entanto, estão à vista de todos - a eclosão de fundamentalismos, o renascimento do neofascismo, a multiplicação de organizações mafiosas, as migrações de povos inteiros e guerras civis por toda a parte.
A questão volta a ser motivo de debates e tem sido re-enfocada pela nossa imprensa, sobretudo no segundo semestre do corrente ano, a partir do quadro econômico recessivo com o qual nos deparamos nos últimos meses. Em recente artigo na Folha de S. Paulo ("Não estão contando a verdade", edição de 1/10/95), o jornalista Gilberto Dimenstein afirma que o debate sobre o desemprego no Brasil está repleto de mentiras, manipulações e meias-verdades. O problema, diz ele, não está na alta taxa de juros mantida pelo governo, segundo alegam alguns empresários e economistas.O que está acontecendo é o desemprego estrutural ocasionado pela utilização da tecnologia nos processos produtivos. Quem tiver dúvidas, segundo ele, basta olhar os Estados Unidos, onde a tecnologia, imaginada para servir ao homem, vai cortando desvairada e incontrolavelmente cabeças por todos os lados. Apesar do contínuo crescimento econômico, prossegue Dimenstein, os Estados Unidos cortam 500 mil bons empregos por ano. Cada vez mais gente vive de bico, é expulsa para empregos de menor remuneração ou, apesar do diploma, acaba montando um pequeno negócio do tipo "vender cachorro - quente". O valor médio dos salários está caindo - é, inclusive, menor do que em 1973. 0 pânico do desemprego provoca histeria contra os imigrantes. O desemprego e suas várias modalidades (o subemprego, por exemplo) amedrontam este final de milênio.
Por trás de tudo, finaliza o autor, vigora uma concepção insana que domina o mundo, liderada pelos Estados Unidos: o esforço febril para reduzir custos e aumentar a eficiência. A inovação tecnológica também está no cerne da migração rural, causada principalmente pela produção mecanizada e intensiva do campo, reduzindo postos de trabalho, expulsando lavradores para a cidade e aumentando o inchaço do setor terciário. Este, por seu lado, só oferece ocupações de baixa qualidade e baixa remuneração. Em alguns países industrializados, como o Japão e a Suécia, a introdução de inovações tecnológicas tem sido discutida entre a indústria e o governo com o objetivo de evitar um desemprego que depois possa custar mais caro à sociedade.
Estas considerações iniciais têm por finalidade mostrar a atualidade e a relevância do livro de Adam Schaff, A Sociedade Informática. Em linguagem acessível, voltada para um público iniciante em relação ao tema, o autor prenuncia o desemprego estrutural e a radical alteração nas formas de trabalho ocasionados pela inovação tecnológica, preocupando-se com o impacto das novas tecnologias ao conjunto da vida social e individual. Seu trabalho é, assim, uma busca de respostas e soluções alternativas para os problemas derivados da revolução fundada na Informática, na Microeletrônica e na Biotecnologia.
As conclusões são otimistas: sustenta que a automação da produção e dos serviços levará a um considerável enriquecimento da sociedade, e que esta riqueza será distribuída, seja qual for o sistema político, com um grau de eqüidade que garantirá uma opulência geral nas sociedades industrializadas. É importante lembrar que o livro foi publicado há cerca de dez anos, quando a Informática ainda estava em seu estágio inicial. Isto quer dizer que nem todas as previsões apontadas pelo livro se realizaram e que, em alguns casos, a realidade tem se mostrado frontalmente diferente de algumas delas. Mas o mais importante é verificar que, no conjunto, o exercício de "futurologia sociopolitica" que o livro representa capta a essência e desenha com clareza e segurança o desenrolar de um complexo processo que tem ocorrido na humanidade nos últimos anos, facilitando a compreensão de nosso estar-no-mundo e apontando caminhos alternativos.
O autor dividiu o texto em duas partes básicas — "As consequências sociais da atual revolução técno-científica " e " O indivíduo humano e a sociedade informática ". Inicia a primeira parte fazendo uma breve análise da chamada segunda revolução tecnoindustrial.
Se a primeira revolução, dos fins do século XVIII, pôde ser caracterizada pela substituição da força física pela energia das máquinas, a segunda, que vivenciamos agora, teria como fundamento a ampliação das capacidades intelectuais do homem ou mesmo a sua substituição pelos autômatos, os quais eliminam, com êxito crescente, o trabalho humano na produção e nos serviços.
Esta segunda revolução industrial também pode ser compreendida como representando a confluência de três revoluções tecnocientíficas concomitantes: a da Microeletrônica a da Microbiologia e a da Energética. São estas, segundo o autor, as chamadas condições iniciais a partir das quais se dá todo um conjunto de mudanças na esfera social, econômica e cultural da sociedade. Falando da primeira revolução, o autor diz que nem sempre nos damos conta de que estamos vivendo em uma acelerada e dinâmica revolução da Microeletrônica, desde objetos os mais simples, como televisores, calculadoras, telefones etc., que são elementos com presença garantida em nosso cotidiano, até aparelhos altamente sofisticados, que auxiliam a gerenciar empresas, estão presentes nos hospitais, controlam e executam tarefas nas linhas de produção etc.
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