Ação do Ambiente Urbano nas Condições Psíquicas
Por: Lucas Mendes Morais Reis • 18/8/2015 • Trabalho acadêmico • 1.349 Palavras (6 Páginas) • 344 Visualizações
A Deriva
Adquirir uma percepção das reações sofridas pela ação do ambiente urbano nas condições psíquicas e emocionais das pessoas é o objeto do estudo psicogeográfico através do procedimento da Deriva.
Partindo de uma zona de “conforto”, que foi o centro da cidade de Uberaba-MG, - conforto este mencionado pois conhecíamos o local em que estávamos e sabíamos a direção a ser tomada para o bairro em que pretendíamos realizar nosso estudo.
Entretanto, o conforto geográfico logo foi suplantado pelo desconforto causado pelas condições climáticas do dia em que fizemos o estudo, e, mais ainda, pelas sensações desagradáveis causadas por um problema urbanístico recorrente em nossa cidade: o mau-cheiro proveniente do esgoto, advindo das obras intermináveis de abertura das galerias pluviais e de esgoto que cortam as vias do centro urbano. A esse desconforto foi somado o tráfego caótico proveniente das mudanças de mãos, vias interditadas que estreitavam os fluxos de veículos, e passagens estreitas que não mais comportam a quantidade de automóveis, motocicletas e ônibus.
Esse caos urbano refletiu inclusive no planejamento do caminho que iríamos percorrer até o bairro Valim de Melo, planejado por uma rota pré-definida pelo aparelho de GPS, que nos alertou da distância que seria percorrida e as alternativas existentes a ela.
Prontamente percebemos que as alternativas indicadas do trecho do centro ao bairro pelo GPS não seriam cumpridas. Embora estivessem traçadas de forma correta, o tempo de atualização dos servidores de geolocalização não acompanhava os serviços de manutenção da cidade! Quer dizer, havíamos sido “sabotados” pelo projeto de saneamento Água Viva, (que para nós já deveria estar morta e enterrada, pertencendo a um passado longínquo, pois nenhum cidadão uberabense suporta mais tanto intervenção nas principais ruas/avenidas. É rotineiro que o cidadão precise se informar, seja pelo jornal escrito, ou mesmo ouvindo o rádio, fazendo sua pesquisa matinal afim de descobrir qual rua/avenida estará interditada naquele dia). Mas enfim, escolhemos um caminho e seguimos por ele.
Nosso percurso até o bairro, durou cerca de 12 minutos. Durante este tempo, nos preocupamos em registrar através de filmagens as vias em que passamos, e nos atentar como a paisagem mudava com o decorrer do tempo e da passagem por diferentes regiões da cidade. Um sentimento de deixar algo para trás era o que mais nos afligia. Isto porque, apesar de toda a conformação das ruas estreitas pela densidade populacional de carros e pelos semáforos não sincronizados, tudo o que nos referíamos à cidade estava ficando refletido nos retrovisores. Prédios, lojas, e a quantidade de pessoas/carros diminuíam, e, não podemos deixar de mencionar nosso professor Thiago, as farmácias pertencentes à cidade hipocondríaca já não estavam mais tão presentes neste determinado momento.
Bom, onde estávamos? Sabíamos que estávamos no lugar correto, mas aquela seria uma hora correta?
Tentarei transparecer minhas impressões, bem como as impressões de minhas colegas, Adrielly e Michele. Pude perceber que não somente o meu olhar como o delas estava com o brilho ofuscado. Seria a poeira fina que recobria as ruas, as praças, dançava no ar, ou a falta de estrutura inerente ao bairro que estávamos? Onde estava o movimento das lojas, as pessoas caminhando pelas ruas, os veículos disputando terreno? Nos perguntamos novamente: estávamos no lugar certo? O GPS nos informava que sim, então momentaneamente concluímos que a inércia observada era justificada pelo horário de trabalho (o relógio do carro marcava 14:00hrs) pois estávamos não mais no centro onde o dinheiro prosperava e sim em um bairro exponencialmente residencial. Certamente, a parcela trabalhadora de sua população estava ausente, e certamente estariam na massa que pululava de vida nas ruas centrais que deixáramos para trás.
Estacionamos, e percorremos o bairro a pé. A temperatura já não nos aflingia tanto, pois buscamos nos refrescar pelo percurso passando sob as copas das árvores e o cheiro que emanava dos bueiros do centro da cidade ali não estava mais presente. Não foi muito difícil seguirmos pelo bairro “derivando” pelas ruas, nenhum de nós conhecia a região, e todo o percurso foi realizado com a preocupação de conseguir voltar sem nos perdermos.
O modo de vida nos parecia pouco convencional, acredito que por trabalharmos durante o dia e estudarmos à noite, a impressão é que estávamos visitando o bairro em um final de semana, em que as pessoas nada pretendiam fazer além de descansar. Por um lado, perceber que em pleno corre-corre da cidade, ainda existe um oásis de tranqüilidade é reconfortante. Por várias vezes fomos indagados do por que de estarmos registrando em filme as casas, ruas, pessoas. Os moradores às vezes se mostraram um pouco apreensivos, mas com uma velada cortesia e um sorriso nos indagava se pertencíamos a algum órgão da prefeitura ou se tinha alguma relação com a política, o que se justifica por estamos vivendo um período de eleições governamentais. O bairro estava literalmente inundado de cartazes e propagandas políticas por todo lado.
A grama da praça nem era mais verde, não estamos nos referindo a falta de chuvas, mas sim a quantidade de “santinhos” que pareciam brotar em meio a vegetação. Vez em quando uma carroça passava, o cavalo pisando em asfalto duro e quente nos remetia a melancolia. Uma bicicleta acoplada a uma caixa de som propagava aos berros o pedido de votos de um candidato qualquer.
As casas na maioria das ruas aparentavam metragens praticamente iguais, intercaladas por pequenos pontos comerciais, com fachadas multicoloridas, em tentativas de se destacarem umas das outras.
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