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O gótico tardio

Por:   •  4/1/2016  •  Trabalho acadêmico  •  1.944 Palavras (8 Páginas)  •  2.405 Visualizações

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GÓTICO TARDIO

O gótico tardio, embora ainda faça parte do estilo gótico em virtude do

uso predominante do arco ogival, é essencialmente diferente do gótico

clássico das grandes catedrais francesas. É a fase final do estilo, mas não foi uma fase de decadência. Ao contrário, a transição foi suave e gradual, e foi quando o Gótico produziu algumas de suas mais ricas e complexas obras.

É um fenômeno complexo tão complexo que talvez fosse mais prudente abordá-lo através das mudanças ocorridas no plano da decoração. Com relação à decoração, é possível apreender a diferença existente entre o começo e o fim

do século XIII no interior da catedral de Lincoln. O "retro-coro", ou

Coro dos Anjos, foi iniciado em 1256. Sua beleza é suprema; mas já não

tem o mesmo frescor da primavera ou do começo do verão. A abundância de sua decoração rica e melíflua evoca antes o calor e a suavidade

dos meses de outono, do começo da colheita. Nessa fase, aparecem a plenitude da folhagem dos modilhões, nos fustes e nos capitéis da galeria, nas molduras das arcadas e no rendilhado das galerias.

Mas, enquanto na França o resultado desse movimento é, no conjunto, estéril e voltado para o passado, a Inglaterra continuará inventando formas

originais, recusando-se a ouvir a autoridade do passado. A expressão própria de toda época clássica contrasta com a infinita variedade de decoração. Onde antes havia exclusivamente círculos com trifólios ou quadri-

fólios inscritos, vêem-se agora trifólios pontudos, arcos ogivais ou de

curva dupla, formas semelhantes a adagas, formas semelhantes a vesica

piscis e todo tipo de sistema reticulado.

Duas igrejas, uma na costa leste e outra na costa oeste do país, permitem o estudo dessa nova corrente inglesa em termos de espaço: a catedral de Bristol (na época, igreja abacial) e a de Ely. O coro de Bristol foi iniciado em 1298 e foi construído, principalmente, durante o primeiro quartel do século XIV. Distingue-se de todas as catedrais inglesas do período anterior em quatro aspectos significativos. É uma: igreja-salão com naves laterais, e não uma basílica - o que significa-que

às naves laterais são da mesma altura da nave central e que não há

clerestório. Esse tipo de elevação já existira no românico do Sudoeste

da França, mas sem nunca ter atingido as realizações de agora: a criação de um espaço unificado, com pilares inseridos, em vez do princípio

gótico clássico da disposição nave principal-naves laterais.

A introdução desse princípio de construção, levou os arquitetos de Bristol a modificar a forma dos pilares e das abóbadas. Essas diversas alterações mostram que um interior gótico clássico é feito para atrair nossa

atenção apenas em duas direções: uma que vai da fachada até o altar e

outra que, perpendicularmente a esse primeiro movimento, nos mostra,

à esquerda e à direita, as faixas de vitrais e os rendilhados. As nervuras e os arcos do gótico clássico atêm-se estritamente ao nível espacial que lhes é designado, e não se aventuram a invadir outros. Os vitrais podem, sem dúvida, dar uma característica diáfana às paredes, mas não deixam de ser paredes, não permitindo aos olhos perderem-se em horizontes inatingíveis e vagos.

Na Inglaterra, se gostava de misturar

ambientes, jogar com eles, tal como se gostava, nos entalhes, de resvalar

de uma forma para outra, ao invés de isolar as partes umas das outras,

conforme o princípio seguido no entalhe das folhagens de Southwell.

Agora, tudo o que se vê é um movimento de ondulação, de luzes e

sombras, roçando superfícies cheias de protuberâncias, fascinantes mas

bem longe da nitidez de um século antes. O arco ogival tridimensional é, nesse contexto, um motivo de grande significação. Tem a mesma função que o octógono da catedral de Ely e que os pilares sem capitéis, as abóbadas sem arcos transversos e

as pontes das naves laterais, tiveram em Bristol- confere ao espaço um

movimento mais rápido, mais complexo e menos simplista do que tudo

aquilo que havia sido tentado nas igrejas do Early English.

Enquanto na Inglaterra essa nova experiência de um espaço em

movimento se exprime de modo tão complicado, no continente, com

uma ou outra exceção, procura-se obter um resultado semelhante com

meios opostos.

Essas tendências arquitetônicas, na Espanha, Alemanha, Itália e França, estavam ligadas de modo particular ao desenvolvimento de duas ordens religiosas, os franciscanos e os dominicanos. A mais antiga de todas as igrejas franciscanas foi erguida na Itália: São Francisco, em Assis;" iniciada em 1228, e que é uma sala abobadada sem naves laterais, com um transepto com abóbada e um coro

poligonal, muito semelhante ao modelo das igrejas de Anjou.

Mais tarde, as igrejas franciscanas e dominicanas serão, na Itália,

ou amplas salas sem naves laterais, cobertas por um teto em madeira e

coros cistercienses (especialmente em Siena), ou construções de teto

plano e naves laterais (Santa Croce, Florença, 1294), ou com abóbadas

e naves laterais.

Mas quer tenham ou não naves laterais, com abóbadas ou não, todas essas igrejas formam uma única unidade espacial dividida simplesmente por pilares, frequentemente circulares ou poligonais. Através dessa disposição transparece um princípio novo da maior importância. Numa igreja do gótico

primitivo, ou mesmo do gótico clássico, a nave central e as naves laterais

eram os canais separados

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