Motivações – Origens e Fundamentos
Por: Liliana Martins • 23/4/2017 • Artigo • 8.253 Palavras (34 Páginas) • 265 Visualizações
Motivações – origens e fundamentos
2.1 – Origens e Fundamentos
Para iniciarmos os processos que levaram ao despertar da governança corporativa no mundo administrativo, você deve entender sobre a consolidação mundial do capitalismo no século XXI.
O capitalismo, durante séculos, foi sendo determinado por fatores históricos que levaram a sua evolução e ao seu domínio no cenário atual. Segundo Andrade & Rossetti (2011), oito fatores foram determinantes da evolução do capitalismo. São eles:
- A sansão da ética calvinista, onde Deus é o senhor de toda a vida e, portanto, o trabalho e a virtude econômica também fazem parte da determinação divina. Tal conceito é melhor vivenciado na obra do sociólogo alemão Max Weber, “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, escrito em 1905.
- A doutrina liberal, onde surge os primeiros conceitos de uma “nova organização das forças produtivas”, sendo um dos seus principais marcos a publicação do livro de Adam Smith, “A Riqueza das Nações”.
- A Revolução Industrial e toda a sua importância para o sistema capitalista e para a evolução da administração, uma vez que os grandes agentes envolvidos neste novo processo –proprietários empreendedores, trabalhadores e governos – estavam lidando com a mudanças profundas nas formas de produção.
- O desenvolvimento tecnológico crescente e sem fronteiras que assistimos nos últimos séculos que conduziu todo o planeta a uma nova realidade em termos gerais. Se imaginarmos a revolução científica e tecnológica que tivemos com o surgimento de novas máquinas, novas formas de produção, novas escalas de produção, agilidade nos processos com automação ou tecnologia da informação atribuída desde às atividades operacionais até as atividades estratégicas das organizações, rapidez na logística com os diversos modais atuais para a entrega da produção, entre outros, veremos que tais alterações interferiram substancialmente no processo industrial, de serviços, administrativo e econômico mundial.
- A ascensão do capital como fator de produção, com o deslocamento fantástico do poder da terra para o poder do capital, criando uma nova classe dominante em substituição à aristocracia rural.
- o surgimento e a institucionalização do sistema de Sociedade Anônima, fato que amplia o sistema acionário, transformando-se em um dos “mais importantes instrumentos de organização social da propriedade” e exigindo a regulamentação e controle dos processos das empresas baseadas neste sistema e que, no mundo atual, possuem diversos acionistas que trazem novos desafios para o nível estratégico das organizações.
- O crash de 1929-1933, que devido às suas causas e consequências, levaram não somente às empresas, mas a todas as partes interessadas a repensar os processos e as modelagens do mundo capitalista.
- O desenvolvimento da ciência da administração, visto que todas as alterações que ocorriam nos meios produtivos, econômicos e sociais interferiam substancialmente na forma de administrar e conduzir a organização para seus objetivos e metas. Um entendimento maior destes fatos já pode ser melhor observado na disciplina “Evolução do Pensamento Administrativo”.
- O agigantamento das corporações e o divórcio propriedade-gestão que apresenta organizações com valores bem superiores ao PIB de diversas nações, assim como a grande separação que ocorreu entre a propriedade e a administração, fazendo surgir os conselhos administrativos nas empresas. Entre acionistas e gestores passaram a ocorrer e a se aprofundar com o correr do tempo conflitos de interesse decorrentes da pulverização do capital e do divórcio propriedade-gestão. A teoria já consagrada de governança corporativa denomina-os de conflitos de agência
2.1 Conflitos de Agência
Na abordagem de Silveira (2010), “em organizações empresariais, a busca pela maximização da utilidade pessoal pode levar um indivíduo a tomar decisões prejudiciais a terceiros, principalmente a investidores que confiaram a essa pessoa poder de tomada de decisões em seu interesse.(...). A literatura já identificou diversas formas pelas quais os executivos podem depreciar o patrimônio dos investidores, com destaque para:
• Realização de gastos desnecessários ou ‘per projects’: a tentação para a realização de gastos improdutivos advém do fato de que seus eventuais benefícios serão inteiramente usufruídos pelos executivos, ao passo que a perda de riqueza deles decorrente será socializada com todos os acionistas. Como exemplo, considere uma empresa na qual o principal executivo também é uma acionista relevante da companhia, com 60% das ações. A realização de uma despesa desnecessária de $ 100 reduziria o lucro da organização no mesmo montante. O executivo, entretanto, arcaria com $ 60, dividindo os restantes $ 40 com os demais acionistas, os quais não usufruíram de qualquer benefício. Os gastos desnecessários ou improdutivos podem ocorrer pelas mais diferentes formas, incluindo todos os tipos de ‘mordomias’, como escritórios demasiadamente sofisticados, jatos corporativos desnecessários e outros benefícios pecuniários potencialmente supérfluos disponibilizados para a administração;
• Criação de barreiras para sua substituição: quanto maiores forem os benefícios do controle extraídos pelos executivos, mais deverão se apegar aos seus cargos. O desejo de manter o emprego, por sua vez, pode conduzir o executivo a um comportamento de ‘entrincheiramento’, resultando em decisões que visam desestimular sua eventual substituição. Um exemplo comum desse tipo de atitude é a criação de medidas defensivas para evitar que a companhia seja adquirida, mesmo que de forma vantajosa para seus acionistas. Outra possível atitude é o investimento sistemático em áreas nas quais o executivo é especialista, mesmo que essa política não maximize o valor da empresa. Similarmente, o receio de perder o emprego poderia levar o executivo a escolher estratégias que maximizam os resultados de curto prazo em detrimento dos de longo prazo, implementando, por exemplo, projetos de payback mais curtos, ainda que não sejam os mais rentáveis disponíveis. Por fim, o acesso exclusivo a certas informações ou contatos vitais para a companhia, a centralização excessiva e a demissão ou transferência de executivos talentosos que poderiam vir a ameaçar a sua posição são outras formas pelas quais os gestores poderiam procurar se ‘entrincheirar’ em seus cargos.
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