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Comentário Sobre Trecho do Discurso Sobre a Desigualdade de Jean-Jacques Rousseau

Por:   •  31/10/2018  •  Artigo  •  987 Palavras (4 Páginas)  •  335 Visualizações

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Comentário sobre trecho do Discurso Sobre a Desigualdade de Jean-Jacques Rousseau

Destituído de razões legítimas para justificar-se e de forças suficientes para defender-se, esmagando com facilidade um particular, mas sendo ele próprio esmagado por grupos de bandidos, sozinho contra todos e não podendo, dados os ciúmes mútuos, unir-se com seus iguais contra inimigos unidos pela esperança comum da pilhagem, o rico, forçado pela necessidade, acabou concebendo o projeto que foi o mais excogitado que até então passou pelo espírito humano. Tal projeto consistiu em empregar em seu favor as próprias forças daqueles que o atacavam, fazer de seus adversários seus defensores, inspirar-lhes outras máximas e dar-lhes outras instituições que lhe fossem tão favoráveis quanto lhe era contrário o direito natural. (ROUSSEAU, 1973, p. 274)

Jean-Jacques Rousseau, na obra a qual pertence esse trecho, busca fazer uma análise de como o homem saiu do estado de natureza para o estado civil. Ele descreve passo a passo como essa passagem provavelmente teria ocorrido. O homem pós estado de natureza se encontra em um estado de guerra insustentável entre os indivíduos e necessita de um contrato social entre eles que estabeleça as normas do novo estado. No trecho analisado, Rousseau critica a primeiro pacto estabelecido entre os homens, que, segundo ele, teria beneficiado apenas alguns. Na verdade, ele está criticando a sociedade de sua época e preparando sua obra Do Contrato Social, onde estabelece como seria um pacto justo entre todas as partes.

No trecho acima Rousseau critica que o pacto realizado até então beneficiava apenas os ricos, pois buscava legitimar a propriedade deles, algo que não é natural, como ele demonstra em sua descrição, que veremos resumidamente.

 “O primeiro sentimento do homem foi o de sua existência, sua primeira preocupação a de sua conservação[1]”. Segundo Rousseau no estado de natureza o homem era solitário, preocupado apenas com sua auto preservação. A natureza oferecia o alimento e as dificuldades e concorrência com outras espécies o tornava mais forte e mais resistente. Ele não tinha família: a procriação envolvia apenas a perpetuação da espécie.

Sua capacidade de observar e imitar os animais, de aprender com a natureza, o fazia se sobressair aos demais. Foram os primeiros passos para o desenvolvimento da razão (logos). 
Tão logo ela se desenvolvia, ele começava a perceber os outros indivíduos e, de acordo com o sentimento de auto preservação, via que em alguns momentos era vantajoso formar alianças por interesses comuns. Criou as primeiras ferramentas e construiu as primeiras habitações. E nessas habitações, formou as primeiras famílias, vendo vantagem nessa união. Essas habitações, no entanto, ainda não eram propriedade: esse conceito ainda estava para ser concebido. Nesse momento não havia porque disputar por habitações, pois eram fáceis de serem construídas, e não eram fixas. Sem conflito, sem desigualdade, não havia ainda a ideia de posse, mas os primeiros passos foram dados. Quanto mais a razão se desenvolvia, mais bem estar era encontrado, mais fácil se tornava a auto preservação e mais dependente dessas novas conquistas o homem ficava.

As várias habitações que se encontravam próximas suscitaram uma vida social. Essa vida social fez com que os homens, muito observadores, começassem a fazer comparações. Era o desenvolvimento das paixões (pathos), as afecções da alma.  Percebiam, cada um, quem os agradava mais. Surgia o amor e o ciúme. Ao mesmo tempo o bem estar e as novas relações despertavam a criatividade para o lazer, e alguns se revelavam mais talentosos. Surgia o orgulho e a inveja. Essa constante comparação entre si foi o primeiro passo para a desigualdade entre os homens. Desejava-se ser estimado pelos outros, sentia-se vergonha por não ser, havia inveja, ciúmes, etc. Esses sentimentos começaram a guiar a vida dos homens.

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