Resenha Direito Constitucional
Por: aclaub • 2/12/2023 • Resenha • 1.073 Palavras (5 Páginas) • 74 Visualizações
Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES
Centro de Ciências Sociais Aplicadas – CCSA
Curso de Direito – 2º Período Matutino
Disciplina – Direito Constitucional I
Professor – Doutor Elton Dias Xavier
Discente – Ana Cláudia de Brito Barbosa
Resenha Crítica
O CONTO da Aia. Direção: Volker Schlöndorff. Roteiro: Harold Pinter. Inglaterra: 1990. Disponível em: https://m.ok.ru/video/2436001565245. (109 minutos).
O filme intitulado como “The Handmaid’s Tale” (A decadência da Espécie) toma como base o livro escrito por Margaret Atwood, canadense já reconhecida por tratar em suas obras questões atinentes ao feminismo. Considerada como uma clássica produção dramática e distópica, suscita pautas sociais importantes principalmente no que concerne à dominação de massas e direitos femininos.
Situado em uma realidade futurística de uma região dos Estados Unidos da América, o cenário é o de conflito. O Poder é tomado por Cristãos fervorosos que acreditavam que as minorias dominadoras do local anteriormente – gays, negros e mulheres – propiciaram um caos. Em nome de crenças religiosas, prometeram à população que iriam “limpar” a sociedade desses grupos minoritários.
Além dessa conjuntura, o território também foi acometido por poluição química e radioativa, gerando alto grau de infertilidade às mulheres. Contudo, para os religiosos, essa consequência não era puramente ambiental, mas sim resultado do envio de Deus da praga da esterilidade para punir o meio social praticante de abortos em massa, controle de natalidade, engenharia genética, inseminação artificial, promiscuidade.
Com o intuito de propagar a espécie e amenizar o imbróglio supramencionado, as autoridades da nova ordem decidiram pelos corpos que não deveriam os pertencer: as moças as quais ainda eram férteis, as aias, eram caçadas, doutrinadas e deveriam gerar filhos para as denominadas senhoras, as administradoras do lar que não pudessem gestar crianças. Para isso, deveriam ter relações sexuais com o respectivo homem da residência que fossem enviadas.
A história da aia Kate foi mostrada mais de perto. A mulher foi escolhida para a casa do comandante Fred e como ilustração do quão submissa a população feminina era representada no longa-metragem, até mesmo o nome demarcava isso, uma vez que passa a ter a nomeação de “Of Fred”, que traduzido para o português é “de Fred”, posse do patriarca.
Kate e o comandante, além dos encontros ritualísticos mensais em que tinham de manter relação sexual, passam a ter também outros momentos casuais. Contudo, a aia não consegue engravidar do comandante, mas sim de seu funcionário, algo que foi sugerido pela esposa enciumada de Fred.
Quando constata a gravidez, decide não entregar o bebê para aquela família e ir embora com o pai da criança para as montanhas, de onde esperaria o nascimento do filho e almejaria o tão sonhado reencontro com a filha – a qual foi obrigada a abandonar quando tentou atravessar a fronteira. Assim o fez, mas momentos antes de fugir, assassina o comandante a pedido de uma das aias que conheceu, uma vez que ele representava um grande expoente de todo aquele poder repressor.
Durante toda a história fica evidente que diversos os direitos da figura feminina são feridos. A ausência de dignidade da pessoa humana, sua liberdade, bem como o desacato aos direitos sexuais e reprodutivos são nítidos, direitos esses que estão respaldados pela Constituição brasileira, mas que, sob contexto da produção em que a Constituição era unicamente o Velho Testamento, todas essas atrocidades eram realizadas.
A casta social nominada como a das “tias” representam o quão dominado o corpo da mulher pode ser. É possível enxergá-las como se, fora da ficção, elas representassem os incontáveis homens e, infelizmente, também várias mulheres que condenam e doutrinam as ações femininas.
Essas tias esbravejavam o quão desnaturadas eram aquelas que optassem por não procriar; ensinavam que as mulheres estupradas provocavam os homens a chegar a tal ponto e que o aborto não poderia nem sequer ser cogitado, pois a fertilidade é um dom bem como castigavam as aias que praticassem masturbação feminina.
Em todos esses exemplos é possível substituir a palavra “tias” por “sociedade”, já que esta julga mulheres que não desejam a maternidade com as clássicas ponderações: “quem vai cuidar de você na velhice?”, “no futuro você muda de opinião”, “você não é uma mulher completa sem filhos”. O meio social também aponta roupas e comportamentos como desencadeantes de estupros, o que notoriamente foi visto na Mídia com o caso de Marianna Ferrer e é também esta sociedade que estimula o consumo de pornografia por homens, mas que quando o assunto é prazer feminino usa o senso comum de “mulheres controlam seus instintos, homens não” – como no próprio filme foi mencionado.
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