A FRANÇA ENQUANTO POTÊNCIA POLÍTICA E MILITAR
Por: Gael Moraes • 8/6/2016 • Trabalho acadêmico • 4.955 Palavras (20 Páginas) • 556 Visualizações
UNESP – UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS
A FRANÇA ENQUANTO POTÊNCIA POLÍTICA E MILITAR:
Entre a Garantia de Interesses e as Contradições
Gael Fostier de Moraes[1]
RESUMO
O presente artigo pretende primeiramente elencar a França como potência não só política como militar no sistema internacional atual, assim como mostrar como se deu sua ascensão a esta posição e o que leva a acreditar que ainda exerça este papel. Em seguida buscamos fazer um contraste entre a capacidade do Estado francês de garantir seus interesses em meio à comunidade internacional, bem como sua capacidade de fornecer o mercado de armas e o papel que possui enquanto membro do Conselho de Segurança e a imagem que possui de exemplo a ser seguido.
Palavras-chave: França. Militarismo. Potência. Contradições
Desde sua formação, enquanto território uno, a França possui uma história fortemente bélica. Citando o historiador francês Jacques Bainville (1924), podemos evocar a Guerra dos Cem Anos, contra os Ingleses e a invasão da Itália com Carlos VIII no século XIV, as sucessivas batalhas contra o Império Germânico no século XVI, a Guerra dos Trinta anos contra a Áustria no século XVII, posteriormente a Guerra dos Sete anos no século XVIII e isso somente para mencionar uma pequena parte dentre todos os conflitos que a França fez parte.
Uma questão pertinente sobre manter sucessivas guerras é que para isso o Estado precisa se fortalecer diante seu povo, precisa ter uma economia forte em permanência e melhorar cada vez mais o seu arsenal e potencial bélico. A França teve seus grandes sucessos e por vezes beirou sua destruição total, mas se analisarmos sua história como um todo, teve sucesso em se manter um Estado forte, seja com uma monarquia sólida ou por vias das próprias guerras. Entraremos no mérito pós revolução francesa posteriormente. A outra questão pertinente é que das guerras resultam uma infinidade de interações políticas, como alianças, tratados, acordos, favores, imposições, etc. Talvez como resultado de sua história bélica a França tenha sempre mantido uma posição de destaque neste sentido. Por sua vez este espírito conflituoso talvez possa ter como explicação, e Bainville assim o faz, a própria posição na qual este país se encontra, central na Europa Ocidental e fazendo fronteira terrestre com a atual Bélgica, Alemanha, Luxemburgo, Suíça, Itália e Espanha e fronteira marítima com a Inglaterra e toda a costa Norte-africana e tendo acesso a todos os mares europeus
Se ela possui a vantagem única de comunicar com todos os mares europeus, ela possui, em contrapartida, fronteira marítima muito grande, difícil de manter e que requer um esforço considerável ou uma escolha penosa, o Oceano necessitando de uma frota e o Mediterrâneo de outra. Se a França não for liderada por homens dotados de um grande bom senso, corre o risco de negligenciar o mar em favor da terra, ou vice-versa, ou então ela se deixa levar, o que lhe acontecerá repetidas vezes.[2] (BAINVILLE, 1924, p.9)
O que acredito ser o início do processo de ascensão da França a uma potência politico-militar teria se iniciado com a revolução francesa e o subsequente imperador Napoleão. Embora o país tenha usufruído anteriormente de um status de grandeza e respeito, como em Louis XIV por exemplo[3], existem motivos para acreditar que a consolidação desta posição seria posterior à Revolução.
Em termos de conhecimento, os franceses começam no século XVI a contribuir com grandes obras para a sociologia e a produção de conhecimento em geral, desta época podemos citar Jean Bodin e a formulação da República[4] e posteriormente René Descartes com contribuições notórias para a ciência, filosofia e matemática. No entanto é no século XVIII que a França torna-se notória na produção de ideias, com numerosos pensadores entres os quais os conhecidos Jean-Jacques Rousseau, François-Marie Arouet (Voltaire), Denis Diderot, Charles-Louis de Secondat (Montesquieu), e outros. A época é conhecida como era das luzes e culmina na Revolução Francesa de 1789, quando também estas ideias são disseminadas para todas as partes do mundo e continuam a sê-lo até a atualidade, podendo as obras ser encontradas na grande maioria das grades de cursos como Sociologia, Ciências Sociais, Ciências Políticas, Relações Internacionais, Direito, Economia, Filosofia, entre outros. Desde então são inúmeras as contribuições de outras mentes francesas em outras áreas são de extrema importância, por exemplo: Simone de Beauvoir, Guy Debord, Victor Hugo, Rimbaud, Baudelaire, Marcel Mauss, Claude Levi-Strauss, Jean Monnet, Pierre e Marie Curie, etc. Explicarei a frente qual a importância de o país ter se tornado polo cultural e cientifico, por ora o ponto a ser colocado é que este processo teria se intensificado e ganhado mais importância no século XVIII.
Subsequente a 1789, com o medo instaurado nas monarquias europeias, se inicia uma série de tentativas de invasão de outros países para restaurar a coroa, perante as quais a França teve que fazer frente com uma organização militar exemplar, do contrário sucumbiria. A primeira coligação teria sido formada principalmente por reinados como a Áustria, a Prússia, a Espanha, Sacro Império Romano-Germânico, Grã-Bretanha, Países Baixos e partes da Itália como Nápoles e Sicília. Não só obteve sucesso na defesa como invadiu os Países Baixos, Bélgica e a Itália, dando início às guerras napoleônicas e ao processo de expansão sobre a Europa, que só terminaria em 1815 com a batalha de Waterloo, sendo necessárias sete coligações contra o exército napoleônico até que se garantisse a vitória. (BAINVILLE, 1924, p. 207)
Este período consagra a França como potência militar a ser temida e respeitada, de modo que mesmo com o Tratado de Viena, esta se manteve sem grandes perdas, sendo restaurado seu território às fronteiras de 1792. Inicia-se então o Concerto Europeu, figurando, inicialmente, o Império Russo, o Austríaco, o Reino da Prússia e a Inglaterra. A França, por vias diplomáticas, com Duque de Richelieu, adentra o Concerto como potência em 1818 no congresso de Aix-la-Chapelle, e consegue a retirada da ocupação estabelecida em 1815 em seu território. Sua posição como uma das cinco potências se mantem até a eclosão da 1ª Guerra Mundial. Durante este período, se lança a colonizar partes da África, somando um grande número de colônias às suas já existentes na América.
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