Índia X Paquistão: A disputa pela Caxemira
Por: Isabella O. • 28/5/2017 • Artigo • 1.734 Palavras (7 Páginas) • 747 Visualizações
A Caxemira é uma região localizada no extremo norte do sul da Ásia, no subcontinente indiano. Atualmente, tem sua área dividida entre Índia, Paquistão e China. A Índia administra o território de Jammu e Caxemira (subdividido em Jammu, Caxemira e Ladakh), controlando 45% da área; o Paquistão administra a Azad Caxemira (Caxemira Livre) e Gilgit-Baltistão, controlando 35% da área; e a China domina a região de Aksai Chin, controlando 20%.
Essa região tornou-se palco de disputas étnico-religiosas, políticas e históricas, sendo a razão para que os governos da Índia e do Paquistão iniciassem um confronto armado, decorrente dos diversos problemas que vieram com a descolonização britânica do território indiano. O conflito pelo domínio desse local já se alastra por mais de 60 anos, sem perspectiva de solução.
O motivo de a região ser tão disputada concentra-se no fato de que, além de ela ter uma localização estratégica, dispõe de recursos hídricos, o que é importante para a soberania dos países, abrangendo a localização das nascentes dos rios Ganges e Indo, que são os principais rios da Índia e do Paquistão, respectivamente.
O mapa geopolítico do mundo mudou profundamente após o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Muitas das regiões dos continentes asiático e africano que, até o início da guerra, estavam subordinadas às potências europeias, passaram a almejar a sua independência. É nesse contexto que sucede o processo de descolonização da Ásia e da África. Contudo, essa onda de descolonizações e lutas por independência acabaram gerando disputas internas entre as novas nações, motivadas pela definição de fronteiras e interesse por influência geopolítica. Um dos acontecimentos que melhor exemplificam essas disputas é o conflito entre Índia e Paquistão pela região da Caxemira.
A Índia, dominada pela Inglaterra desde o século XVIII, foi uma de suas mais importantes colônias sob o aspecto econômico. A área que abarca a Índia e o Paquistão atualmente era, na época da Índia Britânica, um só bloco. A Índia era governada por um vice-rei nomeado pelo governo britânico, tendo cerca de dois terços de seu território administrado diretamente pelos ingleses. O terço restante, composto por 500 pequenos principados, eram administrados por governantes locais, denominados marajás.
Entretanto, a partir de 1885, os indianos começaram a se mostrar interessados em conseguir a sua independência, com o surgimento do primeiro movimento nacionalista na região, liderado por intelectuais indianos.
Todavia, o movimento não teve muita relevância até o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A partir daí, a Inglaterra ficou enfraquecida economicamente, tendo grandes dificuldades em manter o domínio sobre suas colônias. Assim, os movimentos nacionalistas ganharam força. Apesar disso, havia um grande empecilho na união dos indianos pela conquista de sua independência: a divergência religiosa entre hindus e muçulmanos, que possuíam crenças completamente diferentes e conflitantes, o que gerava muita rivalidade, limitando a organização política dos colonizados.
O grupo que mais teve destaque foi o Partido do Congresso, composto pelos hindus. Seu líder era Mohandas Gandhi, chamado de "Mahatma" ou "Grande Alma". Ele baseava seus princípios na resistência à dominação, na desobediência civil e em uma luta contra os britânicos por meio da não-violência.
Conforme o Partido do Congresso ganhava força na luta pela independência, crescia, nos muçulmanos, um sentimento de temor por um Estado hinduísta que viesse a os oprimir e perseguir. Os islamitas indianos criaram, então, a Liga Muçulmana, liderados por Mohamed Ali Jinnah, que defendia a divisão do subcontinente em dois Estados: um para a maioria islamita e outro para os indianos.
A Inglaterra concordou com a fragmentação e, finalmente, em 15 de agosto de 1947, a independência da Índia foi concedida, surgindo dois novos Estados independentes, repartidos de acordo com a religião das maiorias: a Índia propriamente dida, de maioria hindu, e o Paquistão, de maioria islamita/muçulmana. O Paquistão, entretanto, estava dividido em Paquistão Oriental e Ocidental, com 1600 km de território indiano os separando. Como as diferenças (étnicas, culturais, geográficas e econômicas) entre eles eram muito grandes, o Paquistão Oriental, em 1971, com o apoio da Índia, proclamou sua independência, tornando-se Bangladesh.
É possível constatar que as nações recém criadas, sem um sentimento e valores nacionais concretos, usavam a religião como pretexto para a guerra, buscando, na verdade, o controle sobre terras que seriam vantajosas para sua estratégia de poder regional.
Com o fim da colonização britânica, cada um dos 500 principados indianos deveriam incorporar-se a um dos dois novos países: ou a Índia, ou o Paquistão. Jammu e Caxemira tinha uma população predominantemente muçulmana, mas um marajá hindu. A Caxemira tinha três opções: a independência, a anexação à Índia ou a anexação ao Paquistão. É nesse cenário que surge a disputa entre Índia e Paquistão por essa região, exacerbada pela já antiga rivalidade entre esses dois povos, decorrente da grande divergência religiosa e do conflito entre crenças. Caxemira acabou, portanto, tornando-se alvo do interesse de ambas as partes, em que tanto um quanto o outro almejavam estabelecer domínio sobre ela. As divergências étnico-religiosas, evidentemente, instituíram-se e a guerra foi inevitável. Desde 1947, já aconteceram várias guerras pela região da Caxemira: a Guerra Indo-Paquistanesa de 1947, a Guerra Sino-Indiana de 1962 e as guerras de 1965 e 1971.
Hari Singh, o governante da região de Jammu e Caxemira, hesitou ao escolher um dos países para a anexação, pois ele era de origem hindu, mas a maioria da população da região era muçulmana. Com a demora da escolha, tribos paquistanesas invadiram a Caxemira de forma violenta, com o objetivo de adiantar a anexação ao Paquistão. Mesmo a Caxemira sendo majoritariamente muçulmana, o marajá assinou, em 1947, o Instrumento de Adesão, colocando a região sob controle indiano, o que permitiria que a Índia enviasse forças para repelir a presença paquistanesa. Assim, o exército indiano interveio e conseguiu expulsar uma parte dos paquistaneses e adquirir dois terços do território caxemiro. Essa medida era, segundo a Índia, supostamente temporária, até que fosse realizado um plebiscito que permitisse ao povo da Caxemira escolher qual nação integrar. Isso, porém, nunca se materializou. O conflito resultou na divisão da área em duas partes: uma para a Índia (Jammu e Caxemira) e outra para o Paquistão (Azad Caxemira).
A guerra continuou até 1948, quando a Índia
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