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Eu trabalhei na Guarda Real da Inglaterra

Por:   •  11/3/2016  •  Abstract  •  2.337 Palavras (10 Páginas)  •  328 Visualizações

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Eu trabalhei na Guarda Real da Inglaterra

Você sabia que eu servi ao exército Inglês? Minha mãe odiava esse meu estilo de vida e, realmente, não posso culpá-la. Mas sabe o que é mais engraçado? A experiência mais assustadora da minha vida não foi nas diversas áreas de conflitos que estive, não, não; mas sim bem no centro da “civilização” européia, em Londres.

Depois de servir ao exército por alguns anos, acabei sendo promovido pelo mesmo, se é que você pode chamar isso de promoção. Ofereceram-me um lugar na Guarda Real. Eu não tenho certeza se vocês tem noção da importância desse cargo, mas lá na Inglaterra, esse negócio é muito respeitável. E eu odiava essa bosta. Como recompensa por minha "bravura" e “heroísmo”, estaria fadado a ficar parado em frente a prédios, tendo que ficar completamente imóvel enquanto dezenas de turistas irritantes tentavam me fazer rir. Se fosse por mim, já teria recusado esse cargo na primeira oportunidade que tive, mas cê sabe né... a “gratificação” de estar nessa posição, combinado com a felicidade da minha mãe, onde agora o maior perigo que eu enfrentaria seria um bando de turistas pé no saco. Não tive escolha, senão fazê-lo. Se apenas soubesse que estaria mais seguro no exército...

Então, minha carga horária consistia em ficar parado em frente a Torre de Londres, por alguns turnos na semana, cerca de 2-3 horas de duração, no máximo, dependendo de quantas pessoas fossem trabalhar de guarda naquele dia. E tenho que dizer... como essa porra é entediante. Aturar pessoas bêbadas que ficam mexendo com você constantemente, juntamente com turista que pensam que são os primeiros a tentarem fazer você rir; faz você querer matar esses desgraçados. Mas era o meu trabalho e recebia bem, então eu calava a minha boca e fazia o que me era ordenado.

Bom, teve um dia, se não me engano foi nos meados de 2012, que começou chato como qualquer outro dia. Teve alguns franceses tentando mexer comigo e depois um grupo de russas bêbadas, que diga-se de passagem, não foi tão ruim assim. O calor estava começando a derreter o chapéu no meu crânio, quando um grupo grande de turistas apareceu. Algum tipo de tour, pensei. Todos eles fizeram o seu discurso padrão, tiraram fotos fazendo caras "engraçadas", contaram piadas, etc. Todos, exceto por uma pessoa. Notei ela parada atrás do grupo, apenas olhando para mim. Ela era uma mulher de boa aparência, provavelmente nos seus quarenta e poucos, cabelos longos e escuros, de pele um pouco pálida.

Depois que o grupo tirou fotos o suficiente, e perceberem que eu não iria rir, decidiram seguir em frente com seu passeio. Exceto pela mulher pálida, que permaneceu me olhando. Veja bem, eu já vi uma caralhada de pessoas fazendo todos os tipos de coisas estúpidas para obter uma reação minha, mas esta era nova. Não só isso, mas esta senhora estava disposta. Duas horas e centenas de turistas depois, ela ainda estava no mesmo lugar, apenas olhando para mim. O dia estava muito quente e não havia nenhuma maneira dela estar confortável naquela situação, mas sem brincadeiras, ela parecia estar bem mais tranquila do que eu. Cerca de trinta minutos depois, quando a multidão em volta de mim se dispersou lentamente, ela deu um pequeno passo em minha direção. Em seguida, outro. "E lá vamos nós, hora da piada". Pensei, enquanto caminhava, lentamente, em minha direção.

Parou cerca de dois metros de distância de mim. Ela estava olhando diretamente em meus olhos. Inclinou a cabeça para a esquerda, depois para a direita; eu achava que essa era sua tentativa de gozação. Então percebi que essa mulher não estava aqui para brincar. Ainda de pé a dois metros de distância, ela começou a inclinar-se em minha direção. Havia algo tão pertubador em seu maneirismo que me deixou extremamente desconfortável. Ela nunca deixava de manter o contato visual comigo. Manteve-se inclinada em minha direção, enquanto seus pés não se moviam. O rosto dela parou um pouco antes de encostar no meu. Sua cabeça começou a tremer lentamente, como quando você sai da piscina ou do chuveiro e fica todo se tremelicando de frio, sabe?

E em seguida, ela me assustou para caralho. Já lidei com pessoas gritando na minha cara, inclusive, teve um idiota que tentou lutar comigo, mas o que ela fez foi de longe o pior de todos. Ela abriu a boca, como se estivesse prestes a deixar o grito mais alto sair, mas nenhum som foi emitido. Nada. Ela ficou ali, inclinada em um ângulo completamente anormal, a centímetros do meu rosto, deixando sair, apenas, uma especíe de grito silencioso. A velocidade da sua tremedeira aumentou. Agora, eu não vou mentir, apesar daquele dia ter sido muito quente, comecei a suar frio e sentir arrepios em minha espinha. Até que finalmente consegui me recompor e comecei a marchar para longe dela - estamos autorizados a fazer uma marcha de 10 passos de vez em quando.

Quando cheguei ao fim do meu caminho, parei e fechei os olhos. Só queria que ela tivesse ido embora quando fosse me virar. Enquanto fazia uma volta de 180 graus, congelei instantaneamente. Ela estava bem na minha frente; completamente inclinada em direção ao meu rosto, com sua boca ainda mais aberta e sua cabeça, agora, tremia incontrolavelmente. Fui pego tão de surpresa, que fiquei imóvel. Pertubação, gritaria, e outras coisas eu conseguia lidar, mas essa porra de comportamento, silenciosamente assustador, estava realmente me intimidando.

"Abra caminho para a Guarda Real!" Gritei. Estamos autorizados a dizer isso quando alguém está em nosso caminho. Ela não reagiu, a não ser por se afastar um centímetro de meu rosto.

"ABRA CAMINHO PARA A GUARDA REAL" Eu gritei ainda mais alto, tentando não demonstrar o pavor que crescia cada vez mais.

Ela não teve, absolutamente, nenhum respeito pela minhas ordens. Recusando-me a lidar com essa besteira por mais tempo, dei um passo para trás e apontei minha baioneta para ela. Esse era o nosso último recurso para com os turistas irritantes.

Ela imediatamente fechou a boca e desinclinou-se para uma posição mais humana. Decidi não esperar ela fazer o que diabos estivesse planejando e, então, comecei a marchar, contornando-a. Quando voltei ao meu posto, me virei e parei. Eu não podia vê-la pela minha visão periférica, o que me deu um grande alívio. "Caralho, essa porra de trabalho", pensei comigo mesmo: "Eu vou ter que contar..."

"10, 9, 8" alguém sussurrou no meu ouvido direito. Só podia ser ela. Ela estava atrás de mim.

"10, 9, 8" sussurros vieram do meu lado esquerdo. Senti todos os pelos do meu corpo eriçarem. Hilariante, não é mesmo? Um veterano de combate, matou mais pessoas do que jamais gostaria de admitir, agora estava com medo de uma turista maluca da porra.

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