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Resenha crítica do Documentário Dançando com Diabo

Por:   •  17/6/2019  •  Resenha  •  521 Palavras (3 Páginas)  •  265 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

DEPARTAMENTO DE SEGURANÇA PÚBLICA E SOCIAL

DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA DO DIREITO I

DOCENTE: ELIZABETE ALBERNAZ

DISCENTE: LAÍZA BASTOS VIEIRA

Resenha crítica do Documentário Dançando com Diabo

NITEROI 2016


O documentário dirigido pelo sul-africano naturalizado britânico Jon Blair mostra o cotidiano da violência nas favelas do Rio de Janeiro, mais especificamente no Complexo da Coreia na Zona Oeste da capital, através da perspectiva do delegado Leonardo Torres, policial da Delegacia de Repressão aos Narcóticos, do pastor evangélico Dione ex-traficante convertido e de Juarez Ribeiro da Silva, o Aranha, chefe do tráfico da Coréia.

Dados estatísticos iniciam o filme e acredito que tenham a função de mostrar o número de enorme da mortalidade ligada ao tráfico tanto por fazer parte deste grupo ou por confronto destes com policiais.

 As três visões expõe: o policial que tem a obrigação de intervir contra a atuação dos traficantes por vezes sem condições mínimas de armamento e/ou psicológicas, o pastor que afirma que está lá para libertar almas aprisionadas na vida do crime e o traficante que se torna desviante por culpa, segundo ele, da sociedade que não lhes oportunizam.

Mas o que destaca este filme é a imparcialidade, a mesma levantada por Gilberto Velho, pois os entrevistados não são alvo de prejulgamentos e sim estão expondo seus porquês de cada um ocupar tal posição. Acabam por, de certa maneira, dar-lhes condições de seres iguais.

Os traficantes contam que a forma de sobrevida que encontraram por não receberem do governo a devida assistência foi entrar para o crime e assim se sentem responsáveis por compensar a ausência do Estado na favela. Vemos, então, Malinowski no texto “O Crime Primitivo e seu Castigo” quando nos deparamos a regras locais que são responsáveis pela coerção dos moradores locais que mesmo não fazendo parte do tráfico, se veem obrigados a cumpri-las.

Já a igreja, na figura do pastor Dione, é como o Ensaio sobre a dádiva, de Mauss, pois estes constroem as relações entre os traficantes e Deus, segundo o próprio pastor, dando-lhes a dádiva de reciprocidade: aceite esta segunda chance como presente de Deus, e ele lhe dará a salvação te livrando do caminho do mal.

Outro ponto relacionado aos pastores é dar ao Diabo a culpa de tudo de pernicioso que acomete aos homens, todas as fatalidades estão lá porque “o Diabo quer”, o que acaba sendo a mesma ótica da bruxaria dos Azande de Pritchard, não há acaso mas sim consequência de uma força externa. E do mesmo modo que para os azande o medo da bruxaria faz com que seja minorado o desejo e da cobiça pelo que é do outro, os frequentadores da igreja por  temerem ser ludibriados pelo Diabo e receberem o “abandono” de Deus como castigo procuram obedecer quase que de forma subserviente os mandos da igreja... O que me remete a visão que se tinha dos selvagens antes do estudo de Malinowski.

Num âmbito geral, o filme é bastante distinto de tudo que se tem feito com relação a retratar a realidade das comunidades, o fato de humanizar quem sempre temos como vilões, os policiais e os “bandidos”, faz com que possamos tentar, alcançara mesma imparcialidade do documentarista.

 

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