Políticas Sociais: uma questão de democracia
Por: farofa • 17/8/2015 • Resenha • 1.325 Palavras (6 Páginas) • 342 Visualizações
O terceiro motivo que justificou a realização da pesquisa em questão foi o de conhecer as representações dos estudantes sobre a Sociologia no Ensino Médio, que constitui uma fonte importante e complementar a ser considerada no entendimento da participação desta disciplina no currículo escolar. E, no contexto das rápidas mudanças sociais que afetam a sociedade em âmbito global, o papel da escola e dos valores e saberes nela desenvolvidos são constantemente repensados. Conhecer as expectativas e as impressões dos estudantes torna-se cada vez mais uma necessidade pedagógica, já que é fundamental estimular neles uma postura ativa perante o conhecimento, e consequentemente, frente às exigências de uma formação profissional num mundo em constante transformação. Além disso, a informática e os ambientes virtuais são ferramentas e tecnologias dominadas por muitos jovens, que manifestam, a partir de sites de relacionamentos, blogs e fóruns, suas opiniões sobre diversos assuntos, entre eles, a sua escolarização. Neste artigo são apresentados, em sua maioria, textos de professores retirados de fóruns e enquetes3 de comunidades virtuais do Orkut. A opção de incluir comunidades virtuais de professores no levantamento de dados foi com o intuito de realizar uma triangulação, buscando assim, consolidar algumas observações realizadas na análise das comunidades dos alunos. Apresento aqui onze textos4 , sendo dois provenientes de uma 3 Pergunta feita pelo proprietário ou moderador que busca saber a opinião dos membros de uma determinada comunidade virtual sobre um assunto. 4 Chamo de texto os depoimentos de alunos e professores encontrados nos fóruns, enquetes e descrições de comunidades, de acordo com o artigo de Roque Moraes. No artigo, o autor entende texto como “produções lingüísticas, referentes a determinado fenômeno e originadas em um determinado tempo. São vistos como produtos que expressam discursos sobre fenômenos e que podem ser lidos, descritos e interpretados, 3 comunidade virtual de alunos. Os sujeitos que fizeram parte dessa pesquisa são membros das comunidades virtuais do Orkut que foram selecionadas levando em conta as que possuíam maior número de membros, ou as que tinham fóruns com depoimentos que conduzissem ao objetivo da pesquisa. As comunidades virtuais foram observadas durante quase seis meses e algumas delas, durante mais de um ano. Os conceitos que nortearam a análise das categorias apresentadas neste artigo foram o de Discurso como uma construção social que nos interpela a pensar e agir conforme regras e normas estabelecidas5 que não são vistas necessariamente como imposições e que envolvem nossas práticas sociais, tendo Michel Foucault como referencial e de Representações em Stuart Hall. Para Hall, as representações não possuem um sentido único, fixo e de fácil identificação. Modificam-se conforme o lugar, grupos sociais, comunidades, cultura e as relações sociais existentes. Podemos dizer que a característica da representação de não possuir um sentido fixo é resultado da complexidade e da constante transformação em que vive o mundo contemporâneo, na qual os significados estão em constante resignificação. A definição de Enunciados6 foi central para a compreensão do discurso e para este trabalho. Outros conceitos como Formações Discursivas, Regimes de Verdade, Poder e Saber também encontrados em Michel Foucault e de Campo Científico e Habitus, desenvolvidos pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu também fizeram parte do referencial da dissertação que originou este artigo. Apresento aqui, quatro das categorias que nortearam a análise das representações dos estudantes sobre a Sociologia no Ensino Médio. São elas: a trajetória da Sociologia como disciplina do Ensino Médio, pressupostos metodológicos, questões que remetem as licenciaturas em Ciências Sociais e Sociologia e os valores atribuídos aos diferentes campos científicos. Um dos enunciados encontrado com maior frequência nas contribuições das comunidades de professores remete à trajetória da Sociologia como disciplina do Ensino Médio. Exponho os textos extraídos da comunidade “Professores de Sociologia”: correspondendo a uma multiplicidade de sentidos que a partir deles podem ser construídos (MORAES, 2003, p. 194). 5 “Dado que cada um de nós nasce num mundo que já é de linguagem, num mundo em que os discursos já estão há muito tempo circulando, nós nos tornamos sujeitos derivados desses discursos”(VEIGA-NETO, 2007, p. 91). 6 Os Enunciados anunciam, faz o objeto surgir, é possível de ser demarcado, pois se repete, “como um grão que aparece na superfície de um tecido de que é o elemento constituinte como um átomo o discurso” (FOUCAULT, 2002, p. 90). Ocorre toda vez que é emitido um conjunto disposições que podem ser repetidas. O enunciado existe sempre que for possível isolar um ato de formulação. Um enunciado “não é uma unidade do mesmo gênero da frase, proposição ou ato de linguagem; não se apoia nos mesmos critérios [...]” (FOUCAULT, 2002, p. 98). 4 [...] é o antigo vício de querer repassar teorias e discursos para a disciplina de Sociologia no ensino médio [...] Obviamente as indas 7 e vindas da disciplina na educação brasileira foram muitas, o que de certa forma explica a total falta de conexão com a realidade educacional, mas o “discurso” pronto ainda impera [...] Será que afirmar que ainda não temos um domínio de como fazer planos de aula ou mesmo de técnicas básicas de como agir dentro de uma sala de aula seja uma reclamação sem sentido ou pessimista? A realidade de ensinar jovens do ensino médio não é só uma questão de pensar positivo; requer mudanças, pesquisas, estudos e principalmente apoio das entidades que formam o professor de Sociologia (P., 09/01/2011) [...] Penso que Sociologia e Filosofia sofrem preconceito entre outras coisas, por serem matérias muito recentes na grade. Até ontem nem eram obrigatória (G., 10/05/2010). Como é possível perceber nos dois textos acima o histórico de descontinuidades que marcou a Sociologia como disciplina do Ensino Médio parece ser a causa de alguns problemas enfrentados hoje por esta ciência. Questões que envolvem as metodologias de ensino da disciplina, a escolha dos conteúdos programáticos e a bibliografia voltada para o Ensino Médio, também foram enunciados encontrados nas contribuições de algumas comunidades virtuais de alunos e professores, que se converteram nas categorias aqui apresentadas. A Sociologia teve sua história marcada por de idas e vindas dentro do currículo das escolas secundárias. Tal fato é apontado como a causa das incertezas vivenciadas pelos professores desta disciplina no que diz respeito à ausência de referenciais curriculares, pois mesmo com as sugestões encontradas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (2002) – PCN´s – e nas Orientações Curriculares Nacionais (2006) – OCN´s – não há uma unanimidade sobre o que deve ser ensinado, também quanto aos objetivos da disciplina no Ensino Médio somada a uma bibliografia ainda escassa e a falta de uma tradição pedagógica. Talvez isso tudo se deva ao afastamento das Ciências Sociais e a Educação, pois, conforme Amaury Cesar Moraes: “a educação, como objeto ou campo de atuação, há muito vem passando por um processo de desvalorização, não só entre cientistas sociais, mas também quanto ao que se refere ao nível básico” (MORAES, 2003, p. 10). 7 A escrita original dos textos de alunos e professores foi mantida. 5 Então, não é difícil estabelecer relações entre as dificuldades em saber o que ensinar e como, que remetem a falta de articulação entre os conhecimentos específicos das Ciências Sociais e os conhecimentos da Educação, com o papel das licenciaturas em Ciências Sociais e Sociologia. Por isso, parece ter lógica associar a resistência dos alunos com relação à Sociologia, à ausência de referenciais de conteúdos, metodologias de ensino, bibliografia adequada e à desvalorização das licenciaturas que não dão conta de articular os conhecimentos específicos e os pedagógicos necessários para uma eficaz formação docente. Formação que permita ao docente um domínio sobre os seus conhecimentos e sobre o seu trabalho. Retomando a ideia expressa no texto do professor “P”, lecionar “não é só uma questão de pensar positivo”, é preciso estudo, formação. E para isso, conta-se com uma instituição que tem este papel: o de formar professores. Há nas comunidades de professores pesquisadas uma grande preocupação com relação ao ensino de Sociologia. Os professores demonstram preocupação com o que ensinar e principalmente, como. Podemos ver a partir dos textos relacionados abaixo
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