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FICHA DE LEITURA: ATÉ QUE PONTO DE FATO NOS COMUNICAMOS (CIRO MARCONDES FILHO)

Por:   •  19/4/2016  •  Resenha  •  2.388 Palavras (10 Páginas)  •  587 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

TEORIAS DA COMUNICAÇÃO                                     ALEXANDRE ROCHA DA SILVA

FICHA DE LEITURA: ATÉ QUE PONTO DE FATO NOS COMUNICAMOS (CIRO MARCONDES FILHO)

LUCAS ZANETTE BASSO                                                        19 de Abril de 2016

1. Introdução

“Comunicação é uma palavra da moda. Todos falam em comunicar, pessoas comunicam, animais, plantas, sistemas comunicam. […] Tudo comunica. O pesquisador Gregory Bateson e seus colegas do Colégio Invisível, nos Estados Unidos, têm uma frase radical: ‘Não dá para não comunicar’. Viver é estar comunicando, emitindo sinais, demonstrando participar do mundo. […] [No entanto] As pessoas continuam a achar que sua maneira de ver o mundo, seus sentimentos, suas angústias, suas alegrias são fatos internos, íntimos, incomunicáveis. Que, apesar do volume intenso de aparelhos postos à nossa disposição […] a vida de cada um ainda é uma caixinha fechada, um universo oculto, um mundo trancado”. (p. 7)

Nesta introdução o autor deixa bem claro que comunicação é em outras palavras interação, Para que a comunicação ocorra, é necessário interação entre dois seres, assim ocorre uma troca mútua de fluídos, de energia, de matéria. Esse fluxo de informações chamado de comunicação estrutura a realidade circunscrita ao emissor e o receptor.  Mas nem tudo será possível de ser comunicado, o autor se mostra indagado com a questão de pensamentos ou ideias internalizadas e não expostas pelos indivíduos apesar de que atualmente existem muitas ferramentas que possibilitam este tipo de ação. Muito do que pode ser comunicado não é totalmente conhecido pela consciência do homem muitas vezes ficando no nível de seu subconsciente.

2. A comunicação, a paixão e o ser humano 

“Para ele [Proust], o amor evidencia o desespero da incomunicabilidade e, quando a dualidade se transforma em unidade, quando o outro não está em outro lugar a não ser aqui onde estou, quando ele não excede mais minha compreensão, então não há mais comunicação no amor. Esta se rompe e a relação erótica ou passional desaparece no monólogo, há o tédio. […] A comunicação, em Proust, tem mais a ver com solidão do que com unidade enquanto realização do ser. Não há ‘corações em sintonia’: a comunicação íntima e profunda, a reciprocidade entre duas pessoas é uma miragem. O que existe é a incomunicabilidade que se revela na solidão e no mistério”. (pp. 12-13)

        Esse trecho do texto é realmente muito instigador, pois tenta fazer uma relação entre amor e comunicação. Não ouso dizer que os dois não têm relação nenhuma, pois na verdade eles têm se não isso entraria em conflito com o que foi afirmado por mim anteriormente. O que eu absorvi me deixou confuso sobre a interação entre as pessoas numa relação amorosa, pois como afirma o autor se o outro excede a minha compreensão, eu busco entende-lo. Se o mesmo encontra-se sob domínio do meu entendimento não haveria motivos para eu buscar algo que eu não possuo nessa outra pessoa segundo o raciocínio do autor. Se a dualidade encontra a unicidade se esgota a interação. O amor é um sentimento que altera as percepções do indivíduo em relação ao exterior é sobre si mesmo, fazendo com que o mesmo tenha atitudes diferentes das quais teria se não estivesse sobre o efeito deste sentimento.

3. O conceito de comunicação aqui utilizado 

“A comunicação não é ontológica, no sentido de não ser algo estável, fixo, consistente; nela nada se transfere, ela não é ‘uma coisa’, menos ainda uma coisa única que como vai, assim é recebida. Por isso, ‘não sendo nada’, ela não pode encerrar nenhuma verdade, não pode ser ‘traduzida’, não há uma chave que nos diga o que a coisa significa, quer dizer, representa. Comunicação é antes um processo, um acontecimento, um encontro feliz, o momento mágico entre duas intencionalidades, que se produz no ‘atrito dos corpos’ (se tomarmos palavras, músicas, idéias também como corpos); ela vem da criação de um ambiente comum em que os dois lados participam e extraem de sua participação algo novo, inesperado, que não estava em nenhum deles, e que altera o estatuto anterior de ambos, apesar de as diferenças individuais se manterem”. (p. 15)

Neste trecho do livro, o autor remete ao caráter dialético da comunicação. A enxerga como algo resultante do embate entre dois seres que proporciona algo novo. Sempre surge um elemento que antes não estava presente. Com esse pensamento, o autor vai muito além da ideia de que a comunicação, somente se materializa com a linguagem, sabemos que este é o principal meio pelo qual ela é materializada, mas não é o único. Se a comunicação é o fluxo é o processo ela é uma resultante. Mas é uma resultante que não permanece imutável ou estagnada no contexto da qual se encontra Em outras palavras (para mim) ela é um instrumento que toma novas formas conforme o decorrer do processo.

4. Um mapa geral das correntes de pensamento: o pensamento antigo

“O aparecimento de Aristóteles já marca uma virada nas preocupações. Se Platão era meramente abstrato e especulativo, Aristóteles será essencialmente lógico e empírico. […] As orientações posteriores […] abandonam os temas principais genéricos de Platão e Aristóteles e se voltam a questões subjetivas e existenciais. No epicurismo, o homem, com suas emoções e dores, toma o lugar do cidadão, atuante na esfera da política e da vida civil. […] Também os estóicos ocuparam-se com as sensações. […] Não há a ‘realidade incorpórea’, como queria Platão, mas algo incorpóreo que eles chamavam de exprimíveis: é sobre um corpo que uma causa tem algum efeito incorpóreo. O fogo sobre a madeira produz um efeito incorpóreo, o queimar-se”. (pp. 20-21)

 Esse trecho do texto é muito significativo, pois aborda questões filosóficas construídas anteriormente a qualquer construção de uma noção de um fenômeno chamado comunicação. Penso que o conceito de comunicação foi construído graças à perspectiva aristotélica de percepção da realidade onde consta como fundamentais a experiência e a lógica que se constrói a partir desta. Não haveria possibilidade de falar sobre comunicação sem analisar primeiramente as conseqüências dessa e assim partir para uma ideia de que esta mesma possibilita a tornar concebível pelo que ela constrói.

5. Um mapa geral das correntes de pensamento: a escolástica

“Assim como os helenísticos, [Santo] Agostinho volta-se ao homem singular, à pessoa e, nela à questão da vontade e da liberdade do homem diante da fé (a razão conhece e a vontade escolhe)”. (p. 23)

Passagem interessantíssima do texto, pois remete a algo que é fundamental no processo de comunicação entre os seres humanos que é a intencionalidade. A comunicação carrega consigo uma série de fatores intencionais muitas vezes inconscientes ou subjetivos, que não faziam parte primeiramente da vontade do sujeito. Se comunicação é expressão de algo este algo traz consigo, muitos significados que podem ou não serem compreendidos pelo receptor.

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