ANÁLISE DA OBRA “UM DISCURSO SOBRE AS CIÊNCIAS”
Por: lucas.sam109 • 15/5/2018 • Trabalho acadêmico • 2.334 Palavras (10 Páginas) • 273 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE – UFAC
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS SOCIAIS E APLICADAS – CCJSA
CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
LUCAS SAMUEL ARAÚJO DA COSTA
ANÁLISE DA OBRA “UM DISCURSO SOBRE AS CIÊNCIAS”
RIO BRANCO
2018
LUCAS SAMUEL ARAÚJO DA COSTA
ANÁLISE DA OBRA “UM DISCURSO SOBRE AS CIÊNCIAS”
Trabalho Acadêmico apresentado ao curso de Bacharelado em Direito da Universidade Federal do Acre como requisito de obtenção de nota parcial na disciplina de Metodologia do Estudo do Direito.
Orientador: Prof. Dr. Francisco Raimundo Alves Neto
RIO BRANCO
2018
O PARADIGMA DOMINANTE
Para Boaventura de Souza é no século XVI onde nasce aquela que é conhecida como “ciência moderna”. Constituída à luz da revolução científica, esta foi desenvolvida nos séculos seguintes preponderantemente nos domínios das ciências naturais, estendendo-se às ciências sociais somente no século XIX. Tido pelo autor como totalitário, a principal característica desse paradigma reside em rejeitar toda forma de conhecimento alheio a seus princípios epistemológicos e às suas regras metodológicas, aqui na figura do senso e dos estudos humanísticos, taxados de conhecimentos “não científicos” e tidos, desse modo, como irracionais.
Ademais, os protagonistas da ciência moderna acabam por adotar como princípio basilar a dúvida metódica, desconfiando sistematicamente das evidências de qualquer experiência imediata e rejeitando qualquer forma de dogmatismo. Seria essa nova perspectiva a capaz de distinguir entre conhecimento e senso comum, por um lado, e entre natureza e pessoa humano por outro, possibilitando uma visão mais clara e objetiva do objeto científico e das particularidades que deveriam ser aplicadas ao seu estudo.
É esse padrão moderno, também, o responsável por dar à matemática um papel crucial na formulação do conhecimento científico. É a partir dela que se pôde chegar a um conhecimento mais aprofundado e exato e, por meio dela que se obteve tanto o instrumento de análise como também a lógica de investigação e o modelo de representação da própria estrutura da matéria. Dessa posição privilegiada da matemática se origina o pressuposto de que conhecer é quantificar, deixando por vezes, à margem, o conhecimento qualitativo. “O que não é quantificável é cientificamente irrelevante” (SANTOS, 1987). É também daí que nasce a ideia de que para conhecer é necessário dividir e classificar — as regras do Método Científico descarteano residia em “dividir cada uma das dificuldades... em tantas parcelas quanto for possível e requerido para as melhor resolver” (DESCARTES, 1637).
Além disso, por amparar o conhecimento na formulação de leis, possui como característica epistemológica a ordem e a estabilidade e concebem, por meio desses princípios, um “mundo-máquina” estático e eterno que veio a metamorfosear-se no que se concebe por mecanicismo, uma teoria filosófica de linha determinística em que todos os fenômenos se baseiam na causalidade mecânica, e que se constituía como embasamento teórico para a concepção de uma forma de conhecimento pragmático, utilitário e funcional, no qual se ignorava, por vezes o papel científico de compreender a realidade em prol da capacidade de transformar e dominar a natureza — linha de pensamento com a qual identificou-se a burguesia, que enxergava nesse horizonte cognitivo o mais adequado aos seus interesses. O modo como essa teoria foi tomada, contudo, acabou por ser variável, distinguindo-se em duas correntes: a primeira, dominante, consistiu enquadrar o estudo da sociedade nos princípios metodológicos próprios das ciências naturais; a segunda, em reivindicar parâmetros epistemológicos e metodológicos exclusivos ao estudo das ciências sociais. Tais concepções figuram então como antagônicas, estando a primeira sob a influência da postura positivista e a segunda na vanguarda dos novos parâmetros científicos.
O PARADIGMA EMERGENTE
Esse novo paradigma que se anuncia, em consonância com o autor, só pode ser obtido por via especulativa, fundando-se nos sinais que a crise do paradigma atual emite (SANTOS, 1987). Além disso, ao nomeá-lo por “paradigma de um conhecimento prudente para uma vida descente” Boaventura busca diferir a natureza da revolução científica pela qual estamos passando daquela ocorrida no século XVI, classificando esta que nos é contemporânea como geradora não só de um paradigma científico (o paradigma de um conhecimento prudente), como também de um paradigma social (o paradigma de uma vida descente). É nesse contexto que o autor apresenta as quatro teses que caracterizam o paradigma emergente.
Todo o conhecimento científico-natural é científico-social
Sob essa perspectiva, a distinção entre ciências naturais e ciências sociais — tão evidente nas concepções do paradigma dominante — deixa se ter sentido, e os avanços nos domínios da física e biologia põe em dubiedade a distinção entre o vivo e o inerte, entre o orgânico e o inorgânico, entre o humano e o não humano. Ademais, o avanço das teorias científicas holísticas foi responsável por introduzir o conceito de historicidade e de processo na matéria, o qual se desdobraria em transformações radicais na perspectiva investigativa das ciências, afetando, inclusive, a distinção entre sujeito e objeto. Passa a ser, então, inerente que o protagonismo dos estudos humanísticos e das ciências sociais revele-se, segundo Boaventura, por meio da inteligibilidade da natureza guiada por amplos aspectos (teorias, metáforas e analogias) relacionados à essas formas de conhecimento até então secundarizadas.
Por outro ângulo, essa ciência emergente adota a concepção da subjetividade intrínseca à ação humana, exigindo, dessa forma, método exclusivos (deixando para trás o limitado método quantitativo da ciência moderna), à sua exploração. É nesse contexto, também, que surge certa aversão ao uso do saber científico para a transformação e dominação da natureza em vez de utiliza-la para sua melhor compreensão, tal como dá-se início ao posicionamento do indivíduo ao centro do conhecimento.
A ciência pós-moderna constituir-se-á, então, por meio de analogias humanísticas de “categorias de inteligibilidade universais”, cada qual desvelando uma “ponta do mundo” e terá em suas matrizes a analogia textual, a analogia lúdica, a analogia dramática e a biográfica. Passada então a sua fase transitória, o mundo estará sob a influência de uma nova via de conhecimento que unirá, em pé de igualdade, o natural e o social.
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