Fichamento "O Horizonte da Crítica Radical", Geografia e Modernidade
Por: Antonio Carlos Moraes • 20/9/2015 • Pesquisas Acadêmicas • 2.251 Palavras (10 Páginas) • 1.394 Visualizações
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Nº matrícula: Disciplina: Geografia | Turma: ☐ Diurno ☐ Noturno |
Prof. | |
Referências Bibliográficas Gomes, P.C. da C. O horizonte da crítica radical. In:______. Geografia e Modernidade. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. Pp, 274-303. | |
O Horizonte da Crítica Radical A partir da década de 60 o progresso industrial começou a perder seu impacto e a Nova Geografia começa a mostrar suas limitações. Surge então um novo modelo de pensamento geográfico, a Geografia Crítica, também conhecida como Geografia Marxista. Ela se opõe à Geografia Clássica e a Nova Geografia ao mesmo tempo, e busca fundar uma nova ciência baseada no método histórico dialético, que devia estar de acordo com as bases de uma nova sociedade, visando um saber a serviço de uma transformação social e não de uma visão que buscava manter as estruturas sociais existentes. Com a decadência da Nova Geografia surgiram muitas críticas que podem ser reunidas em dois grupos: o teórico-metodológico e o do domínio prático ideológico da Nova Geografia. O primeiro diz respeito à utilização de modelos econômicos de inspiração neoliberal ou neoclássica. Que pressupõem um comportamento social perfeitamente racional, que busca a satisfação de suas necessidades por uma via analítica, racional e objetiva. A maioria desses modelos supõe uma difusão igualitária da informação e um espaço isomórfico. “O espaço isomórfico dos modelos não se assemelha em nada à imagem da realidade de um espaço carregado de valores, tradições, hábitos, etc.” (pag.276). Contrários a Geografia Tradicional, como também a Geografia Quantitativa, os críticos concluíram que esta Ciência precisava se adequar de acordo com a Sociedade da atualidade; assim pensou-se em produzir um método de análise infalível, rigoroso e preciso como também um método que se prioriza a transformação social, e não mais um conhecimento destinado a manter as estruturas sociais. O Discurso Científico do Marxismo O filósofo Marx propõe um discurso científico, no qual fornece o otimismo racionalista, a mística da produção, a confiança nos dons inesgotáveis da natureza. Visando o fim do historicismo no qual o pleno emprego das forças humanas colocará fim às condições limitadas das formas de produção. “A perspectiva de Marx é produzir um saber objetivo e racional, objetivo, pois representa a observação do real/histórico; racional, pois é guiado por demonstrações e deduções lógicas, rigorosas e necessárias” (pag. 281). O materialismo histórico e dialético, que é a base do método analítico marxista, operacionaliza e organiza uma estrutura racional de pensamento do real. Ele faz primeiro uma busca por elementos comuns que estruturam o real. Ele permite então uma percepção além da fenomenologia, conseguindo observar verdades essenciais escondidas atrás das aparências. Interpreta, portanto uma realidade última, a qual é revelada através da razão, que reconhece, no movimento caótico da sociedade, os principais fatores de sua organização e desenvolvimento. O marxismo afirma que um sujeito do conhecimento, determinado historicamente e contextualizado socialmente, é compreendido pela Ciência, a partir das categorias que o envolvem: a produção, a reprodução, o consumo, a troca, a propriedade, o Estado, o mercado, e as classes sociais. A partir do raciocínio delas há um raciocínio que se desenvolve em uma cadeia de determinações entre elas. “No plano teórico, a Ciência que se inspira no marxismo busca as determinações atuantes sobre os elementos, como as regras do movimento geral do sistema social: a lei da acumulação, a lei da composição orgânica do capital, a lei dos rendimentos decrescentes, as leis da renda diferencial, etc. através delas, podem ser gerados modelos abstratos prospectivos” (pag.283). O suporte do sistema materialista-histórico é dado pelas regras que esclarecem o tipo relação de produção diante do desenvolvimento das forças produtivas; esses dois elementos são os termos fundamentais que descrevem o modo de produção, como também constituem a causa da dialética. No final dos anos sessenta e na década de setenta, o marxismo exerceu forte influência sobre as Ciências Sociais. Geografia Radical e o Uso Político do Espaço Yves Lacoste em 1976 com o lançamento da revista Hérodote se transforma em um símbolo do inicio da Geografia Crítica na França. A matriz da Geografia Crítica tem em grande parte, a aceitação do marxismo como base do estabelecimento cientifico. Ela propõe um modelo de análise que busca ser rigorosamente científico e revolucionário. Não propõe uma falsa neutralidade diante das questões políticas e sociais. Essa corrente tende a analisar o espaço a partir das relações da sociedade, dos modos de produção, da economia entre outros fatores. Ela tende assim a ir para o conceito de espaço social, a fim de explicar a dinâmica social que esta explicita em um espaço que é reprodutor de desigualdades. O conceito de região limita a uma única escala, ocultando o papel do Capitalismo. “A partir dos anos setenta, a preocupação com o viés político começa a se inscrever mais profundamente no campo de pesquisas geográfico, após um relativo domínio da economia” (pag. 287). Lacoste afirma que o estudo marxista na Geografia pode levar a supervalorização da História ou da Economia política, perdendo assim sua eficiência explicativa, vindo a trabalhar talvez somente com a causalidade histórica e econômica, que pode levar a uma conduta metodológica tradicional vidaliana. Para Gomes, a Geografia deve possuir seu próprio modelo de interpretação sem romper com o sistema explicativo do marxismo, visto que este está tradicionalmente ligado a um viés explicativo político e histórico; daí a Geopolítica que é uma das formas explicativas mais importantes da Geografia, visto que esta permite entender as relações recíprocas entre o poder político nacional e o espaço geográfico. Com a reabilitação deste campo original da Geografia, os geógrafos atingiriam a dimensão esquecida da análise política, como nas obras de Humboldt, Ratzel e Reclus. Lacoste se esforçou em demonstrar a relação estreita que existe entre o espaço e o poder político, usando elementos didáticos, como o estudo de mapas e a consideração dos fenômenos em diferentes escalas, onde a verdade está em função da interação entre a prática científica e transformação social. A Corrente Radical Marxista Esta corrente detém características semelhantes à precedente, só que os geógrafos eram em sua maioria anglo-saxônicos, também criticaram a Geografia Tradicional e a Nova Geografia, estes geógrafos tinham conhecimento de que, o que era produzido antes na Geografia, sofria forte influência da ideologia dominante, que por ser um conhecimento estratégico, estes que detinham o poder, a manipulavam. “Assim como o radicalismo francês, a corrente anglo-saxã acreditava que uma revolução científica deveria ser definida por uma nova prática dos geógrafos, resultado de um compromisso social do saber” (pag. 291); porem essa aceitação introduz elementos muito diferentes daqueles que integravam a crítica francesa. “A Geografia radical, sob a influência direta do marxismo, propõe um novo modelo de análise espacial que pretende, ao mesmo tempo, ser rigorosamente científico e revolucionário” (pag.292). “Para os Geógrafos marxista a combinação da perspectiva materialista e do método dialético permite o desenvolvimento de uma teoria não-ideológica; isto é, materialismo dialético, a base filosófica de uma Ciência social verdadeiramente científica” (pag.292). Conforme De Koninck, este método era compreendido por grande parte dos geógrafos como uma arte, a arte do detalhamento, as monografias eram utilizadas pelos geógrafos, onde praticavam seus talentos artísticos literários. “A Geografia Tradicional era, assim, vista como uma Ciência reacionária que pretendia afirmar a natureza imutável das relações entre o homem e a terra” (pag. 293). Segundo os críticos radicais, apesar dos geógrafos da Nova Geografia terem avançado em relação a perspectiva tradicional, quando comparados aos artistas das monografias regionais, quanto a qualidade da explicação permaneceu simplista e fatalista como na corrente clássica. A Corrente Radical sempre enfatizou o combate e a defasagem entre a geografia Tradicional e a Geografia Moderna. A utilização do conceito de “modo de produção” foi visto como o meio que permitiria remover todo idealismo da análise geográfica; na análise marxista, o espaço deve ser pensado como um produto social. “A Geografia Radical marxista trouxe uma verdadeira contribuição para a análise espacial” (pag. 299). A Nova Perspectiva Para a Análise Marxista “A partir dos anos oitenta, a influência do marxismo na Geografia, principalmente anglo-saxã, apresentou novos aspectos e a crítica radical tomou outras direções” (pag.298). Dois períodos são identificáveis nesse percurso: no primeiro o marxismo tende a ver uma dominação dos fatores econômicos na organização da vida social e do espaço. Uma formação social só pode se concretizar em relação a um território e há um processo histórico único de composição da formação social e de seu território. Se tratando de uma análise que confere a importância aos fatores econômicos, todas as diferenças possíveis do espaço físico se dissolvem na análise econômico-social. As análises urbanas se direcionam deliberadamente para uma concepção que prioriza os conflitos cidade/campo, nos quais o urbano em papel predominante. “Na teoria marxista clássica, a predominância urbana resulta da hegemonia do capital industrial no processo de acumulação. Contudo, a partir dos anos setenta, a hegemonia é antes exercida pelo capital financeiro, que induz a uma nova dinâmica espacial, com uma flexibilidade, uma rapidez e uma mobilidade espacial desconhecidas da teoria marxista tradicional” (pag. 299). A região volta a ter sua importância graças ao conceito de desenvolvimento espacial desigual no campo da análise marxista. “O materialismo histórico e o humanismo moderno partem de uma mesma crítica, a recusa da Ciência positivista, e podem, sob alguns aspectos, ser considerados como perspectivas complementares. O materialismo histórico redescobriu a reflexibilidade de toda ação social e, por conseguinte, a importância de uma análise que leve em conta o valor e o antropocentrismo da vida social” (pag. 301). A Geografia abandonou o projeto de construir, por intermédio direto do marxismo; hoje, os geógrafos que invocam o marxismo o fazem a partir de uma perspectiva muito mais reduzida, como filiação ideológica ou como uma inspiração de ordem geral. Não existe mais a crença em uma única via metodológica, como sendo aquela da verdadeira Geografia, se aceita a importância e a riqueza de outras condutas possíveis para a Geografia. A suposta revolução do conhecimento geográfico pela teoria e a prática marxista mostra claramente sinais de esgotamento; como outras que a antecederam, ela em seus primórdios apresentou-se como a ruptura definitiva e final, cedendo em seguida sob o peso das expectativas, sendo substituída por outra perspectiva. Questões:
R: O espaço era considerado como um produto social, a aceitação de um materialismo dialético supõe que o espaço tem um papel tão ativo quanto os outros elementos das esferas da produção e reprodução social, a Geografia Radical apela assim para o conceito de espaço social, traduzindo uma ideia de dinâmica social inscrita em um espaço, que é ao mesmo tempo reprodutor de desigualdades e condição de superação.
R: A análise urbana volta-se resolutamente para uma concepção que dá prioridade aos conflitos Cidade/Campo, nos quais o urbano tem um papel dominante na teoria marxista clássica; a predominância urbana resultada na hegemonia do capital industrial no processo de acumulação.
R: Foi fundamental nessa transformação, pois ele distinguiu uma dimensão essencial na construção social da realidade, a produção do espaço, através de um novo modelo definido por uma análise fundada sobre a dinâmica própria à espacialidade. Este modelo restituía ao espaço um papel chave na interpretação da sociedade. | |
Comentários A geografia radical veio com novas propostas baseadas no marxismo e no seu materialismo histórico e dialético, sua filosofia: “Reconhecer, para alem das aparências, a essência e a estrutura internas”, girava basicamente em entender a sociedade a partir das diferentes relações sociais de produção no passar dos anos, compreendendo como se relacionam e como se transformam. Porem como outras revoluções sucumbiram sob outras expectativas. Atualmente não existe mais a crença de uma única metodologia, como sendo a verdadeira Geografia, hoje se reconhece a riqueza de outras condutas possíveis na geografia. |
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