O Resumo de Modernidade
Por: Lucas Vicente • 18/1/2019 • Seminário • 3.145 Palavras (13 Páginas) • 222 Visualizações
O ponto de partida da obra de David Harvey é compreender a nova concepção da modernidade, produzida por um labirinto de redes de diversas interações sociais orientadas por diversos olhares, tornando-a uma enciclopédia da realidade humana[1]. Estas diversas superfícies e aparências dificultam a tarefa de codificar as estruturas culturais, como a moda, imperialismo do gosto, hierarquia de valores, significações do mundo moderno[2]... Nesta encruzilhada, Harvey, procura sair do arcabouço da concepção pós-moderna, que vai imperar na contemporaneidade. Procura ao mesmo refutar os pontos de sustentação do conceito pós-moderno, como também identificar sua percepção da modernidade[3]. Como mesmo aborda: “[...] Como o único ponto de partida consensual para a compreensão do pós-moderno reside em sua possível relação com o moderno, é ao sentido deste último que devemos dar atenção em primeiro lugar”[4].
Apontando a pós-modernidade, como uma espécie de reação ou afastamento dos ideais do modernismo do século XVIII-XIX[5], se ponderando como um movimento positivista, tecnocêntrico e racionalista, uma trama linear do progresso absoluto, que por meio da racionalidade orienta e organiza o mundo social, padronizando o conhecimento, a sociedade e meios de sua produção[6]. Desta forma o pós-modernismo vem por fim ao conceito de história universal, despertando a humanidade do pesadelo da modernidade, com seus pressupostos infundados, comum de “metanarrativas”, como de fetiche, totalizante, de efemeridade, e instrumento de manipulação, para se portar com a aparência real, de ser um movimento pluralista, desfragmentado na sua forma heterogenea, fomentado por diversos estilos de vida e jogos de linguagem, que desfazem qualquer noção totalizante e de fetiche, comum das análises percebidas no mundo de capitalismo pesado e sistema produtivo fordista[7].
Vamos neste capitulo procurar por meio de Harvey, refutar as postulações do conceito de pós-modernidade, principalmente enrijecida por Giddens, para ponderarmos a estrutura da condição moderna, já abordada, em Berman, Benjamim e Lefebvre, mas complementada pelo trabalho de Harvey.
Incialmente Harvey se propõe a apontar as tramas dicotômicas entre a modernidade e o modernismo. Para isso faz uma breve recapitulação entre os principais pensadores da modernidade. Onde Baudelaire, encontra como o iniciador, qual observa a modernidade como algo transitório e fugido, e ao mesmo eterno e imutável[8]. Este ponto efêmero da modernidade indicado em Baudelaire, traz uma condição fundamental da modernidade, qual Berman destaca, como processo de aventura, poder, alegria, crescimento, transformação, e ao mesmo tempo ameaça destruir nossa realidade, ou seja, as forças modernizantes produzidas de forma completa, é estruturada no mundo burguês, como Berman, extrai de Marx. No entanto, estas forças estão fora do controle burguês, por isso é que um poder criador, também carrega uma forma destruidora e ameaça toda nossa realidade. O moderno é um turbilhão do novo-velho-novo, que reforça a frase de Marx, “tudo que sólido desmancha no ar”[9].
Esta constante fragmentação, efemeridade e mudança caótica que a modernidade produz, será pelos pensadores modernistas, como: Goethe, Baudelaire, Marx, Dostoiévski e Biely, para Berman uma sensação comum dos modernistas, qual procuram desconstrui-la para conseguir conceitua-la, contudo por sua capacidade fugaz, que sempre fugia de suas leituras[10]. Harvey complementa este viés modernista, que também pode ser visto por Simmel, Kracauer e Benjamim, e seguem cátedra postulada por Baudelaire, que é a capacidade fugaz, transitória, arbitrária fortuita da modernidade[11]. No qual Harvey se apropria de uma definição Baudelairiana, para apontar uma noção da modernidade, que “única coisa segura na modernidade é a sua insegurança, e até a sua inclinação para “o caos totalizante”[12],
O mundo da modernidade foi projetado no século XVIII pelos iluministas, que mesmo sendo um movimento heterógeno, apontava certa unidade na constituição do enciclopedismo, uma vez que percebiam a razão e acúmulo de conhecimento, o caminho para libertar e emancipar o homem e criar um novo mundo.[13] No entanto, Harvey demonstra que ao mesmo tempo que iluministas celebravam o progresso aliado a capacidade criativa e científica do homem, os iluministas acolheram o efêmero, o constante choque entre o novo-velho, criando um mundo fugaz e fragmentário[14]. Afinal como poderia criar um novo mundo sem antes destruir o antecessor. Neste dilema a obra de Goethe nos premeia com esta sensação paradoxal que enfrenta no ápice da vida de Fausto, que usa de todas suas forças e de todas as capacidades para permear o desenvolvimento, até do horror de destruir um casal de velhos, não faziam parte deste novo mundo. Fazendo então da modernidade uma faca de dois gumes, a humanidade sonha pela beleza de seu desenvolvimento, mas se esquece de seu custo, como para Fausto, o custo era sua alma, o custo de nossa sociedade tem sido o esvaziamento do interior da modernidade, cada vez mais, perdendo então o controle das forças modernizantes, produzindo ainda mais aleatoriedade caótica da modernidade[15].
Por isso Weber alega que a esperança e expectativa dos iluministas, era um amargo paradoxo, já que em seu legado racional, produz uma modernidade totalizante, que não vai emancipar o homem com sua capacidade técnica como prometido, no entanto, a construção da liberdade universal promoverá uma “jaula de ferro”, retido na racionalidade burocrática do mundo burguês, que para Weber, neste modelo de mundo não há escapatória[16].
Para Harvey a consequência desta concepção da modernidade, é que na leitura da modernidade não pode respeitar uma ordem, um processo cronológico, um sentido de continuidade, já que este é constituído por um interminável processo de rupturas e fragmentações internas[17].
Criando uma nova percepção da própria modernidade, diferente dos modernistas, iniciada por Nietzsche, que apontava a experiência estética acima da ciência ou da racionalidade humana, qual Harvey considera como ponte para uma nova leitura da modernidade, pois:
A imagem nietzschiana da destruição criativa e da criação destrutiva estabelece uma ponte entre os dois lados da formulação de Baudelaire de uma nova maneira. [...] uma figura heroica, era o destruidor criativo par excellence porque estava preparado para levar a extremos vitais as consequências da inovação técnica e social.
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