Brasil sec 19
Por: lcprado • 11/5/2016 • Resenha • 1.080 Palavras (5 Páginas) • 268 Visualizações
Com a chegada da família real ao Brasil em 1808 e a abertura dos portos tanto para as “nações amigas” como aos estrangeiros, multiplica-se consideravelmente o fluxo de estrangeiros ao Brasil. Nessa perspectiva, encontramos diversos perfis como: comerciantes, profissionais liberais e aventureiros. Sendo que muitos, sejam naturalistas ou não, produziram uma vasta e rica literatura de viagem. Tais autores, são sobretudos ingleses, franceses e de língua alemã.
Primeiramente, é necessário compreender os motivos para que tais viajantes deixassem a Europa, desembarcando em nosso litoral após exaustiva viagem. Como salienta Lisboa (1997, p. 32-33), os interesses são tanto particulares como públicos, sendo que ambos se interagem. Dentre os motivos particulares temos: ambições financeiras e status social, seja pela publicação do livro na Europa ou através da exploração de recursos naturais, especialmente de minérios. Já os interesses públicos, objetivam o desenvolvimento cientifico, a criação de museus, bem como o conhecimento sobre as possibilidades de exploração comercial, principalmente por Inglaterra e França.
Por sua vez, o governo português facilitava a permanência destes forasteiros, emitindo com certa liberalidade licenças e vistos de entradas. Neste sentido, ocorreram diversas expedições, tanto de governos estrangeiros, como apoiadas pela coroa portuguesa ou particulares. De forma geral, os naturalistas se aprofundam em seus temas específicos como: botânica, zoologia, geografia, mineralogia, etc. Entretanto, todos os relatos de viagem, analisam aspectos sociais, culturais e econômicos, dos mundos rural e urbano[1].
Em relação as viagens realizadas por naturalistas, podemos afirmar que tal prática foi desenvolvida no século XVIII, no qual coadunam tanto os interesses iluministas pautados nas razões cientificas como os objetivos expansionistas europeus. Considera-se o marco inicial da exploração científica na América do Sul, a viagem comandada pelo naturalista francês La Condamine, que por cerca de 10 anos percorreu o território tanto espanhol como português. É desta expedição as primeiras referências sobre diversas plantas como a seringueira amazônica e a quina. Sobre os indígenas prevalece o pensamento pautado nos estágios de civilização e progresso, já que os indígenas são descritos como indolentes, preguiçosos e infantis.
A primeira expedição de grande dimensão organizada por Portugal, acontece de 1783 à 1792, sendo comandada pelo brasileiro Alexandre Rodrigues Ferreira, tendo como foco a região amazônica. Como é exposto no documentário, o material produzido a partir desta expedição é fantástico, e abarca a fauna, flora, povos indígenas, as características geográficas e diversos animais, apresentando inclusive diversos desenhos. Fator que demonstra o atraso e a falta de visão da coroa portuguesa, é a não publicação do material, e quando Portugal é ocupado pela França, esse material é levado e publicado pelos franceses.
Como ressaltado anteriormente, após 1808, aumenta o fluxo de viajantes ao Brasil. Sendo que, em 1810, o alemão Eschwege é contratado pela coroa portuguesa tendo em vista estudos relacionados à mineração e ao desenvolvimento da siderurgia, permanecendo no Brasil até 1821. Posteriormente, o mesmo publica várias obras acerca de seus estudos na colônia portuguesa, bem como relata o atraso e a forma nociva à natureza da exploração de minérios no Brasil.
A “atração” pelo Brasil era tão grande que, o naturalista Auguste de Saint-Hilaire, vindo em uma missão diplomática acerca da posse da Guiana, consegue autorização da coroa portuguesa para viajar, ou melhor, “explorar” o interior, permanecendo de 1816 à 1822 em solo brasileiro. Coletou e enviou diversos exemplares de plantas e minerais para a Europa, com vistas ao uso industrial/farmacêutico.
Seus relatos foram publicados em 1840, apresentando caráter altamente crítico e pessimista. Na visão do autor, a sociedade aqui constituída é atrasada, dependente da escravidão e incapaz de explorar de forma eficiente as riquezas naturais. Já o povo é misturado racialmente, disperso pelo imenso território e preguiçoso. Escreveu severas críticas ao atraso administrativo da coroa, bem como acerca dos motivos da independência em 1822.
O estilo de análise e escrita sobre as viagens realizadas por naturalistas nas décadas inicias do século XIX, sobretudo os alemães, receberam profundas influências de Humboldt[2]. O alemão reuniu em seus relatos tanto aspectos românticos como os pautados na razão iluminista. Um de seus seguidores, o naturalista Martius, em carta ao poeta romântico Goethe, expressa de forma exímia a união entre sentimento e ciência. Assim sendo, transcrevemos a conclusão da autora acerca desse diálogo:
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