DISCUSÕES A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE GRAMÁTICA PARA O DOMÍNIO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Por: Léo Sallum Biblioteca • 20/11/2018 • Artigo • 7.054 Palavras (29 Páginas) • 268 Visualizações
DISCUSÕES A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE GRAMÁTICA PARA O DOMÍNIO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Andréia Teodoro Pinto[1]*
RESUMO: Este artigo, resultando de pesquisas bibliográficas e observação de práticas pedagógicas, pretende servir de subsídio para que futuros educadores, estudantes do curso de graduação de Letras, possam formular bases teóricas a respeito das metodologias, concepções e abordagens que sustentam o ensino da Língua Portuguesa em sala de aula e sobre o papel renovador dos conceitos lingüísticos no processo ensino-aprendizagem dos educandos. Faz uma apresentação dos conceitos de gramática, suas aplicações no ensino e seus usos como fator de integração social, não com a pretensão de estabelecer os melhores métodos, mas de provocar no educador o desenvolvimento da consciência crítica de que para que possa oferecer um ensino qualitativo a seu aluno, é essencial o seu posicionamento quanto o quê e como vai ensinar. E que a escolha de sua posição não deve ser estabelecida por mídias, livros didáticos ou a sociedade, mas por uma busca compromissada pelo ensino contextualizado na realidade de seu aprendiz.
Palavras-chave: Gramática – estudo e ensino, ensino de língua portuguesa, norma padrão, metodologia de ensino
ABSTRACT:
INTRODUÇÃO
A construção inicial do conhecimento para a escrita deste artigo ocorreu nas aulas de Introdução à Lingüística ministradas pela professora Concilia Cerântola, que trouxe ao debate acadêmico as idéias de Marcos Bagno sobre norma culta da língua e o preconceito lingüístico gerado pela valorização desta norma. A motivação final surgiu da leitura de uma carta, enviada pelo professor Marcos Bagno à Revista Veja, contrapondo-se a matéria publicada pela revista, na edição 1725 de 04 de outubro de 2001, de autoria do jornalista José Gabriel de Lima e intitulada “Falar e escrever: eis a questão”, sobre a situação da língua portuguesa na sociedade brasileira contemporânea. O autor tratava os lingüistas como “uma certa corrente relativista” e enaltecia o trabalho do professor e gramático Pasquale Cipro Neto, defensor ferrenho dos métodos normativos de ensino da língua.
A leitura deste material levantou questões que permeiam o nosso sistema de ensino e as metodologias e abordagens que vem sendo aplicadas nas salas de aulas. Qual o papel efetivo que a lingüística ocupa nas práticas pedagógicas do professor de línguas? Como as novas formas de aplicação de ensino da língua materna influenciam a prática tradicional? O embate entre lingüísticas e gramáticos está presente na realidade do professor ou este está à margem das discussões contemporâneas? Qual o papel da mídia na construção da língua padrão e do preconceito lingüístico?
Mais do que dar respostas às perguntas levantadas, este artigo busca subsídios que colaborem para a formação da criticidade de professores da língua portuguesa e futuros educadores. Afinal para que desenvolva de forma eficiente esta capacidade em seus alunos, o professor deve estar a par das novas idéias e discussões sobre língua, ensino e aprendizagem, podendo, assim, fazer as escolhas metodológicas necessárias ao seu contexto real de ensino.
Desta maneira, serão expostos os conceitos de gramática normativa tradicional, os conceitos lingüísticos que implicaram nas mudanças dos métodos gerando a abordagem comunicativa de ensino, as conseqüências para alunos e educadores das aplicações práticas destes conceitos. O embasamento teórico para realização deste texto foi pesquisado nas obras de gramáticos e lingüísticas, a exposição de suas idéias deve fornecer subsídios para a multiplicação do debate em torno do tema. Foram utilizados aqueles que defendem a manutenção de um português padrão, em oposição à incorporação das evoluções da oralidade: Pasquale Cipro Neto, Luiz Antonio Sacconi e Evanildo Bechara e os que acreditam que a fixação de uma norma padrão é elemento excludente em um processo de ensino: Sírio Possenti, Marcos Bagno, Magda Soares. O texto não pretende estabelecer a melhor forma de trabalho com a língua, mas apresentar os vários enfoques e a multiplicidade de opiniões sobre o objeto de reflexão do professor de língua portuguesa – a língua, seus usos e seu ensino. Afinal, apesar das propostas apresentadas nos PCNs (19997:29) serem favoráveis a respeitar as muitas variedades lingüísticas existentes na Lìngua Portuguesa:
A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independentemente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala em “Língua Portuguesa”, está se falando de uma unidade que se constitui de muitas variedades. [...] A imagem de uma língua única, mais próxima da modalidade escrita da linguagem, subjacente às prescrições normativas da gramática escolar, dos manuais e mesmo dos programas de difusão da mídia sobre “o que se deve e o que não se deve falar e escrever”, não se sustenta na análise dos usos da língua.
Observa-se que a proposta teórica não condiz com a prática, visto que os instrumentos de avaliação (provões, vestibulares, exames nacionais) ainda valem-se de parâmetros que privilegiam a norma padrão.
Para iniciar esse processo reflexivo será apresentada a polêmica que envolve dois dos nomes do estudo do português atual, Marcos Bagno e Pasquale Cipro Neto.
BAGNO x PASQUALE: o embate da língua ou pela língua?
O mito de que tanto a Língua Portuguesa é complicada, quanto o seu aprendizado é difícil de ser compreendido, sempre esteve intrincado na cultura educacional brasileira. Muitas têm sido as reportagens veiculadas na mídia escrita acerca da língua portuguesa e da importância do seu domínio para a obtenção de status social ou profissional. Falar e escrever o português culto com clareza e objetividade tem sido um diferencial nas entrevistas de seleção de pessoal da melhores empresas do país. Cada vez maiores são os números de programas televisivos e colunas semanais na mídia impressa que se propõe a tirar as dúvidas e ensinar o português padrão. Em um país, onde a carreira pública torna-se mais atraente, e disputados concursos testam os conhecimentos gramaticais dos concorrentes, mais pessoas estão preocupadas em aprender a maneira correta de falar e escrever. Para essa parcela de interessados, estão disponíveis gramáticas normativas que tratam a língua como algo imutável e a qual devemos nos adequar, adaptando nossa fala e escrita ao cobrado em concursos, provas, seleções. No Brasil, o mais popular defensor da difusão da norma padrão é Pasquale Cipro Neto, conhecido dos maiores meios de comunicação nacionais.
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