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A Alegria de Ensinar

Por:   •  7/5/2015  •  Resenha  •  5.048 Palavras (21 Páginas)  •  508 Visualizações

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A alegria de ensinar

Ensinar a alegria

Muito se tem falado no sofrimento de ser professor, mas quero falar sobre o contrário: a alegria de ser professor!

Li o livro de Hermann Hesse, O jogo das Contas de Vidro. Bem ao final está este “poeminha” de Rückert:

nossos dias são preciosos

mas com alegria os vemos passando

se no seu lugar encontramos

uma coisa mais preciosa crescendo:

uma planta rara e exótica,

deleite no coração jardineiro,

uma criança que estamos ensinando,

um livrinho que estamos escrevendo.

Esse poema fala de uma estranha alegria, a alegria que se tem da coisa triste que é ver os preciosos dias passando. Imagino que o poeta jamais pensaria em se aposentar. Da alegria não se aposenta.

Passei então ao prólogo de Zaratustra.

Zaratustra deixou sua casa e subiu para as montanhas. Ali ele gozou do seu espírito  e da sua solidão, e por dez anos não se cansou.

Mas, numa manhã colocou-se diante do sol e assim falou: Tu, grande estrela, que seria de tua felicidade se não houvesse aqueles para quem brilhas? Por dez anos tu vieste à minha caverna: tu te terias cansado de tua luz e de tua jornada se eu não estivesse à tua espera.

Eis que estou cansado na minha sabedoria, tenho que descer às profundezas, como tu fazes na noite e mergulhas no mar.

Assim inicia uma meditação sobre a felicidade. A felicidade começa na solidão: acontece assim com a abelha que não mais consegue segurar em si o mel que ajuntou. Chegou a hora de uma alegria maior: a de compartilhar com os homens a felicidade que nele mora.

Zaratustra, o sábio, se transforma em mestre. Pois ser mestre é isso: ensinar a felicidade.

“Ah!”, retrucarão os professores, “a felicidade não é a disciplina que ensino”... Mas será que vocês não percebem que essas coisas que se chamam “disciplinam”, e que vocês devem ensinar, devem estar cheias de alegria?

Escola e sofrimento

Estou com medo de que as crianças me chamem de mentiroso. Pois eu disse que o negócio dos professores é ensinar a felicidade. Acontece que eu não conheço nenhuma criança que concorde com isso.

Toda escola tem uma classe dominante, formada por professores e administradores e uma classe dominada, formada pelos alunos. Basta contemplar os olhos amedrontados das crianças para compreender que a escola lhes traz sofrimento. Se fizer uma pesquisa entre as criança e os adolescentes sobre suas experiências de alegria na escola, eles terão muito o que falar sobre a amizade e o companheirismo entre eles, pouquíssimas serão as referências à alegria de estudar.

Os métodos clássicos de tortura escolar como a palmatória já foram abolidos. Mas poderá haver sofrimento maior para uma criança ou um adolescente que ser forçado a mover-se numa floresta de informações que ele não consegue compreender, e que nenhuma relação parece ter com sua vida?

Os técnicos em educação desenvolveram métodos de avaliar a aprendizagem e, a partir dos seus resultados, classificam os alunos. Mas ninguém jamais pensou em avaliar a alegria dos estudantes. A educação, fascinada pelo conhecimento do mundo, esqueceu-se de que sua vocação é despertar o potencial único que jaz adormecido em cada estudante. Daí o paradoxo que sempre defrontamos: quanto maior o conhecimento, menor a sabedoria.

Vai aqui este pedido aos professores, pedido de alguém que sofre ao ver o rosto aflito das crianças, dos adolescentes: lembrem-se de que vocês são pastores da alegria, e que a sua responsabilidade primeira é definida por um rosto que lhes faz um pedido: “Por favor, me ajude a ser feliz...”

                                                                                                            A lei de Charlie Brown

Voltando das férias resolvi fazer uma limpeza na papelada que se acumulou no ano passado. Mas sobraram algumas coisas que guardei.

Demorei-me algum tempo num recorte de jornal. Era uma daquelas tirinhas do Charlie Brown. Ele está explicando ao seu amiguinho a importância das escolas. “Sabe por que temos que tirar boas notas na escola? Para passarmos do primário para o ginásio. Se tirarmos boas notas no ginásio, passamos para o colégio e se no colégio tirarmos boas notas, passamos para universidade, e se, nesta tirarmos boas notas, conseguimos um bom emprego e podemos casar e ter filhos para mandá-los à escola, onde eles vão estudar um monte de coisas para tirar boas notas e...”

A gente se surpreende com as palavras do menino, ele diz aquilo que os filósofos da educação não percebem.

A curta explicação de Charlie Brown, qualquer criança que vá a escola compreende imediatamente.

Charlie Brown enuncia a lei da educação: porque é assim mesmo que as coisas acontecem. E, se um sorriso aparece, é porque a gente se dá conta da máquina absurda pela qual nossas crianças e jovens são forçados a passar, em nome da educação.

É estranho que tal afirmação saia de alguém que se considera um educador. Mas é por isso mesmo, por querer ser um professor, que aquilo por que nossas crianças e jovens são forças a passar, em nome da educação, me horroriza.

À medida que vou envelhecendo tenho cada vez mais dó deles. Porque gostaria que a educação fosse diferente.

A tirinha do Charlie Brown me comoveu pela coincidência com este sofrimento imenso que se chama exames vestibulares. Como disse o Charlie Brown, os que tirarem boas notas entrarão na universidade. Nada Mais. Dentro de pouco tempo quase tudo aquilo que lhes foi aparentemente ensinado terá sido esquecido. O corpo não suporta carregar o peso de um conhecimento morto que ele não consegue integrar com a vida.

Uma boa forma de testar a validade deste sofrimento, seria submeter os professores universitários ao mesmo vestibular, estou quase certo de que eu e um número significativo não passaria. O que não nos desqualificaria como professores, mas que certamente revelaria o absurdo do nosso sistema educacional.

Boca e Forno!

Boca e forno!

- Forno!

- Furtaram um bolo!

- Bolo!

- Farão tudo o que o mestre mandar?

- Faremos todos, faremos todos, faremos todos...

A gente brincava assim, o mestre cantava o refrão e os outros respondiam, repetindo a última palavra. Sempre me perguntei sobre o sentido destas palavras. E por mais que me esforçasse, nunca encontrei sentido algum.

...

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