A PEDAGOGIA DA AUTONOMIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: UM DIÁLOGO POSSÍVEL
Por: Sheila Faermann • 29/10/2019 • Trabalho acadêmico • 4.150 Palavras (17 Páginas) • 236 Visualizações
SHEILA FAERMANN (8052633)
Licenciatura em Pedagogia
PEDAGOGIA DA AUTONOMIA E EDUCAÇÃO INFANTIL: UM DIÁLOGO POSSÍVEL
Tutor: Profª. Cristiane Regina Tozzo
Claretiano - Centro Universitário
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
2018
RESUMO
As obras de Freire são de extrema relevância para auxiliar os profissionais da educação nas suas práticas educacionais cotidianas, inclusive na Educação Infantil, visto que ele buscava um ambiente ideal e que prezasse o diálogo para que todos tivessem autonomia em suas relações. Nesse artigo, buscou-se, através da revisão bibliográfica, destacar a importância e a relação do livro “Pedagogia da Autonomia” de Paulo Freire com as práticas educacionais na educação infantil e propor um diálogo possível onde as principais premissas freireanas são norteadoras da prática docente.
Palavras-chave: Paulo Freire; Pedagogia da autonomia; Educação Infantil; Prática docente.
INTRODUÇÃO
Atualmente, não há no Brasil um caso prático de emprego concreto da Pedagogia da Autonomia de Paulo Freire nas escolas, quem dirá na Educação Infantil. Encontramos seu nome como inspiração e sua proposta em temas transversais, mas é raro encontrar um exemplo que o utilize como norteador de todas as práticas escolares, em lugar algum do Brasil – podemos contar nos dedos quais realmente aplicam as teorias freireanas no dia-a-dia escolar, isso posto que Paulo Freire seja o terceiro pensador mais citado em trabalhos pelo mundo.[1] Como levar suas idéias para a sala de aula? E mais ainda: como inseri-las no ambiente da educação infantil?
Isso acontece em nosso país porque por um lado, não há interesse dentro do sistema capitalista de privilegiar a independência do educando e quando práticas pedagógicas mais libertadoras aparecem (geralmente no contexto privado), elas são inspiradas por modelos internacionais (Rudolf Steiner, Maria Montessori, Emi Pikler, entre outros). São todos esses pedagogos citados, grandes referências para a educação no mundo, porém, temos aqui no nosso país uma figura tão grande e valiosa e que é pouco valorizada na prática: muito se fala dele na teoria, nas academias, nos estudos científicos, porém o emprego da sua metodologia e das suas premissas é deixado de lado, para dar lugar a outros nomes que aos brasileiros, soam mais interessantes, por serem do exterior, ou por estarem na moda.
Entretanto, o livro Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa, que vendeu mais de 650 mil exemplares, tem em seu conteúdo uma fonte incomensurável de lições para os educadores de toda a parte – ele nos apresenta exigências que o lecionar demanda, enquanto seres humanos, cidadãos e profissionais. Muitos desses imperativos são extremamente relevantes para a prática na Educação Infantil a partir de um viés libertário: são guias para tomadas de atitude transformadoras no dia-a-dia da sala de aula. E porque não estender esses ensinamentos ao universo infantil, uma vez que cada vez mais estamos conscientes do valor de uma boa educação nos primeiros anos de vida? Como Mario Sergio Cortella nos lembra:
Não é mero acaso que a primeira palavra, de fato, que um ser humano aprende a dizer e a entender é o não. Seja oral ou gestualmente, o não é a fundação a partir da qual se constrói nossa principal característica: a liberdade, a capacidade de ultrapassar as determinações da natureza e das situações presumidamente limitantes. Só quem é capaz de dizer o não pode dizer o sim, isto é, pode escolher e acatar deliberadamente o curso das circunstancias e das exigências externas e internas. (CORTELLA, 2005, p. 156).
A minha motivação para com esse tema, tem esses três fatores envolvidos: fator social, pessoal e científico: o fator social para mim é a importância de Paulo Freire para o Brasil, não só pelas suas palavras, teorias tão inspiradoras, mas também pelo seu impacto social a partir do momento em que lança um modelo de alfabetização de adultos e ganha fama nacional. O fator social, por sua vez, tem a ver com o fato de eu já ter contato com a educação desde minha infância: seja nas brincadeiras de escolinha (sempre gostava de ser a professora), seja dando aulas particulares de fato para meu primo mais novo “passar” nas provas, até o momento em que eu passo a dar aulas de dança, teatro e artes durante a minha formação no Ensino Fundamental e Médio, a coordenar um projeto de voluntariado de grande dimensão dentro da minha escola, até o momento em que eu decido pela minha graduação em Artes Cênicas e depois de formada, consigo meu primeiro emprego formal como professora de teatro. A partir daí minha relação com a educação foi se tornando cada vez mais forte e presente, não só como um meio de sustento, mas como uma área de grande interesse para mim, culminando em estudos autônomos e na minha escolha por aprofundamento através desta Licenciatura.
O fator científico está intrinsecamente ligado a atualidade do tema e a sua relevância, por estarmos em um momento na Educação Brasileira em que grandes influências estrangeiras tomam conta dos métodos de ensino (escolas bilíngües, método Canadense, Montessori, Pikler, Waldorf, entre outros) e tão escasso ao mesmo tempo de iniciativas nacionais para um plano de ensino que vise a nossa cultura e diversidade. O ‘Método Paulo Freire’ não é simplesmente um método qualquer e sim um instrumento de mediação da educação, na qual esta se dá de forma mútua e onde cultura da sociedade em que o educando está inserido é respeitada, como também os seus conhecimentos prévios são considerados.
[...] Cultura diz respeito à humanidade como um todo e ao mesmo tempo a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos humanos. Quando se considera as culturas particulares que existem ou existiram, logo se constata a sua grande variação [...] é sempre fundamental entender os sentidos que uma realidade cultural faz para aqueles que a vivem. [...] Cada realidade cultural tem sua lógica interna, a qual devemos procurar conhecer para que façam sentido as suas práticas, costumes, concepções e as transformações pelas quais estas passam. (SANTOS, 1994, p. 08).
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