Cultura e Democracia: o discurso competente e outras falas

IDEOLOGIA

CHAUÍ, Marilena. Cultura e Democracia: o discurso competente e outras falas. São Paulo: Editora Cortez, 2007 - capítulo 01.

“Teoria” do conhecimento espontâneo           Senso comum           Alienação [pic 1][pic 2]

São imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida. Exemplo:

• O pobre é pobre poque quer, por sua própria culpa ou por inferioridade, por vontade divina; quem mora na favela mora porque quer.

Esse senso comum é resultado de uma elaboração social sobre a realidade, feita pelos intelectuais, ou pensadores: cientistas, professores, jornalistas, artistas, etc: que explicam o mundo a partir de sua própria realidade social a que pertencem – a classe dominante.  A ELABORAÇÃO INTELECTUAL INCORPORADA PELO SENSO COMUM SOCIAL É IDEOLOGIA.

Somos levados a acreditar que as desigualdades/diferenças sociais, políticas e econômicas são produzidas por diferenças individuais do talentos e das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor.  Esta produção ideológica tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais (naturalização da pobreza), normais, corretas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta as contradições entre o real e as idéias. Exemplo:

• É ideológico dizer que todos somos iguais perante a Lei e que os direitos são iguais, mas as pessoas que vivem nas ruas não têm direitos; os direitos culturais da criança da escola pública e inferior aos das crianças que estão em ecola particular, etc.

As desigualdades são produzidas pela divisão social de classe

A maioria acredita qye ser eleitor, pagar as dívidas e impostos já nos faz ser cidadão –alguns são mais cidadãos do que outros? – a ideologia faz acreditar nessas coisas.

Ser cidadão buscar seus direitos e, principalmente, é participar  das decisões políticas na sociedade.

O mundo da cultura e das representações, os mecanismos ideológicos e os sistemas simbólicos desempenham um papel muito importante na manutenção e reprodução das estruturas sócio-econômicas e políticas.

Se por um lado deve-se evitar os reducionismos psicológicos; por outro, não se deve cair nos reducionismos sociológicos nem no materialismo exacerbado, que negam o papel que desempenham a cultura, as ideologias e as representações no contexto da vida social; Não se pode negar o impacto que a consciência coletiva pode ter nos processos históricos.

Todo sistema social exige a elaboração de um universo simbólico que o justifique, garantindo sua sobrevivência e reprodução.

• A ideologia operacionaliza e oculta ao mesmo tempo os interesses das classes dominantes, gerando uma falsa consciência, uma distorção entre a configuração da realidade e sua representação na consciência dos grupos e pessoas.

• O terreno privilegiado da ideologia dominante em uma ordem social é o “senso comum”, o sistema de representações sociais. O senso comum é constituído por todos os pressupostos que tornam possível a vida cotidiana e favorecem a interação social, por todos os elementos que são considerados óbvios e, por isso, dificilmente são submetidos a questionamento e revisão;
• Tudo o que em uma sociedade é senso comum se identifica como algo natural, que está acima das vicissitudes históricas;
• Quando as exigências objetivas de uma ordem social se articulam e aparecem como exigências subjetivas do senso comum, sob a forma de hábitos, rotinas e papéis estereotipados, pode-se afirmar que esse sistema social está enraizado.

• A ideologia não é a raiz dos problemas sociais das maiorias populares, mas é o instrumento de sustentação e manutenção da sociedade, uma vez que fecha o universo de sentido dos sujeitos, distorce a percepção da realidade e inibe assim processos de transformação.

Desideologização

• A psicologia pouco ou nada pode fazer para transformar o funcionamento injusto e desigual das estruturas sociais, mas muito pode fazer para modificar o sistema de representações, crenças, ideologias e valores da população.  

• A psicologia social estuda o momento em que o social se torna individual e o indivíduo se converte em um ser social ► Processo de interiorização dos conteúdos sociais;
• Os sistemas simbólicos e ideológicos, construídos no contexto das relações sociais, são internalizados e enraizados no psiquismo de cada indivíduo ► Enraizamento da ideologia no psiquismo;
• É por meio desse processo de interiorização que o indivíduo se converte em um ser social.  

• Cabe à psicologia revelar o que há de ideológico no comportamento humano, desmascarar toda ideologia anti-popular, denunciar formas de senso comum que operacionalizam e justificam um sistema social explorador e opressivo assim como desmontar a mentira institucionalizada.

        

• A desideologização consiste em desmontar os discursos ideológicos e alienantes que sustentam a vida cotidiana, justificam o sistema social dominante e reforçam esquemas de passividade, resignação e fatalismo.

• A tarefa da psicologia é assegurar a desideologização dos discursos dominantes para garantir a libertação histórica do povo das estruturas sociais que o oprimem.
• Desideologizar significa desmascarar o senso comum alienador que encobre os obstáculos objetivos à democracia, os torna aceitáveis e justifica a ordem social estabelecida.
• Desmascarar é o passo prévio para a conscientização, a práxis e a transformação da realidade social. É o caminho que conduz ao bem-estar físico, social e psicológico de pessoas concretas e povos inteiros;
• O papel da desideologização é aplainar o caminho rumo à conscientização e ação coletiva.

Como a psicologia pode realizar sua tarefa desideologizadora?

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