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O Livro “O que é educação”

Por:   •  28/10/2015  •  Resenha  •  2.534 Palavras (11 Páginas)  •  242 Visualizações

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Resenha do livro: O que é educação de Carlos Rodrigues Brandão

O Livro “O que é educação” publicado pela primeira vez em 1981, de Carlos Rodrigues Brandão (professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Estadual de Campinas e professor visitante sênior da Universidade Federal de Uberlândia com graduação em psicologia, mestrado em antropologia e doutorado em ciências sociais) se inicia com reflexões que normalmente a sociedade não realiza. Onde aprendemos? Escolas e universidades são as únicas retentoras da educação? Segundo Brandão “ninguém escapa da educação” (BRANDAO, pág. 07). A educação se encontra nas casas, escolas e igrejas de modo em que a sociedade se envolve para aprender, ensinar e “aprender-e-ensinar”, para saber, fazer, ser ou para conviver. Segundo o autor diariamente a vida se mistura com a educação.

Depois de trazer tais reflexões, Brandão propõe pensar em educação como os índios estadunidenses quando escreveram uma carta em resposta a proposta dos governantes após um tratado de paz entre Virgínia e Maryland, na qual alguns jovens das tribos poderiam estudar nas escolas de brancos. Em Resposta, muito educadamente os Chefes responderam gratificados reconhecendo as diferenças entre as nações indígenas e brancas e, logo após citaram sobre os bravos guerreiros que se formaram nas escolas do Norte, aprenderam toda ciência do homem branco e voltaram para suas tribos como inúteis, pois não sabiam mais caçar, lutar construir cabanas, suportar o frio, a fome e falavam muito mal a língua indígena. Não aceitando o que lhes foi proposto, ofereceram a oportunidade para alguns jovens brancos aprenderem tudo o que os índios sabiam para se tornarem homens. Sendo assim, Brandão explica que “Em mundos diversos a educação existe diferente” (BRANDAO, pág.09). Ou seja, tudo depende do povo, modo de vida, da cultura e do momento histórico. Podendo assim existir diversas metodologias de ensino e aprendizagem, pois a educação pode existir livremente. “A educação participa do processo de produção de crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem tipos de sociedades.” (BRANDAO, pág. 11). Todavia, Brandão reflete que o educador imagina servir ao saber e a quem ensina, mas na realidade pode estar sendo usado por quem o constituiu professor para usos escuosos. Assim, vê-se a necessidade do educador refletir se esta educando, formando homens ou se esta deseducando e formando inúteis.

No segundo capitulo Brandão aborda sobre uma educação intuitiva e primitiva muito presente na vida e no cotidiano do ser humano como a observação, convivência, experimentação, repetição de conduta, uso do extinto (ambos também usados por animais irracionais) oralidade, trocas de símbolos, intenções, padrões de cultura e de relações de poder para descrever quando a escola é a aldeia. Contudo, observa-se que:

A natureza do homem, na sua dupla estrutura corpórea e espiritual, cria condições especiais para a manutenção e transmissão da sua forma particular e exige organizações físicas e espirituais, ao conjunto das quais damos o nome de educação. (WERNER JAEGER, pág.14).

Assim, segundo o autor:

Quando um povo alcança um estágio complexo de organização da sua sociedade e de sua cultura; quando ele enfrenta, por exemplo, a questão da divisão social do trabalho e, portanto, do poder, é que ele começa a viver e a pensar como problema as formas e os processos de transmissão do saber. É a partir de então que a questão da educação emerge a consciência e o trabalho de educar acrescenta a sociedade, passo a passo, os espaços, sistemas, tempos, regras de prática, tipos de profissionais, e categorias de educandos envolvidos nos exercícios de maneiras cada vez menos corriqueiras e menos comunitárias do ato, afinal tão simples, de ensinar-e-aprender. (BRANDAO, pág. 16).

Um fato interessante é que em pesquisas de “culturas primitivas” de sociedades tribais das Américas, da Ásia, África, e Oceania realizadas por antropólogos no início do século passado, constatou-se que nenhum deles usa a palavra educação, embora quase todos descrevam relações cotidianas, cerimônias, rituais em que crianças aprendem e jovens são aceitos no mundo dos adultos. Mas quando estes se referem à educação, referem-se ao ensino formalizado. Porque independente do povo e tempo histórico identificam-se processos sociais de aprendizagem. Onde a aprendizagem é dada pelas trocas de experiências, símbolos, intenções e padrões de cultura, observação, convivência, experimentação, repetição de conduta, comportamento e ofícios, uso do extinto, oralidade, representações artísticas e formas de documentação sejam elas primitivas ou não.  Assim se constrói uma cultura e o saber de um povo passando de geração em geração com um modo particular de ensinar.

Em uma aldeia contempla-se uma sociedade organizada com papéis e funções distintas entre homens e mulheres e suas particularidades em como transmitir todo conhecimento de um povo para os mais jovens a partir dos recursos anteriormente citados para a continuidade de seu modo de vida.

Portanto é importante ressaltar que a educação esta presente nas formas sociais de condução e controle da “aventura de ensinar-e-aprender.” Desta forma o ensino formal é o momento em que a educação se sujeita a pedagogia, onde criam-se situações próprias para sua aplicação, metodologias, estabelecimento de regras e profissionais especializados. Neste momento nascem a escola, o aluno e o professor.

Partindo desse principio no terceiro capitulo, “Então surge a escola” Brandão faz alusões a alguns povos quanto suas organizações para disseminar os conhecimentos adquiridos pelo povo aos mais jovens. Observam-se organizações, estruturas, metodologias e divisões para tais feitos assemelhando a escola e universidade, onde os jovens aprendem os saberes e os ofícios de acordo com sua sexualidade, status social, habilidade, vocação e obrigatoriedade (nos casos de escravos).

Segundo Brandão:

Mesmo os grupos que, como os nossos, dividem e hierarquizam tipos de saber, de alunos e de usos do saber, não podem abandonar por inteiro as formas livres, familiares e/ou comunitárias de educação. Em todos os cantos do mundo a educação existe como um inventário amplo de relações interpessoais diretas no âmbito familiar (...). Esta é a rede de trocas de saber mais universal e mais persistente na vida humana. Depois, a educação pode existir entre educadores-educandos não parentes – mas habitantes de uma mesma aldeia, de uma mesma cidade, gente de uma mesma linguagem – semi-especializados ou especialistas do saber de algum ofício mais amplo ou mais restrito. (BRANDAO, págs. 31-32).

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