Resenha Dermeval Saviani

Resenha sobre a entrevista com Dermeval Saviani

Apesar dos diversos assuntos constados por Saviani em sua entrevista, de modo geral podemos resumi-la em dois pontos que serão também objetos de análise por serem pontos ligados entre si: o modo que a política interfere na docência; a forma que a atividade empresarial interfere na educação de modo geral.

 Saviani em toda sua entrevista demonstra a importância de se ater à esses assuntos, não somente para ficar informado sobre, mas também para que advenha nos sentimentos dos docentes e dos alunos, um sentimento de revolta e rebelião, pois segundo Saviani, somente um movimento bem orquestrado e com planos definidos podem mudar a realidade da educação brasileira. Isto é, a entrevista não tem somente um caráter informativo, mas também um caráter de revolta por conta das mudanças que as autoridades haviam feito no PNE, desmantelando o PNE original para uma versão mais light, com menos chances de causar uma revolta empresarial e/ou política.

 Vendo a forma que a educação brasileira se mantém nos dias de hoje, o tema proposto por Saviani se mantém atual e necessário. A entrevista de Saviani tem de certa forma seu caráter profético, sendo que poderia facilmente ser uma entrevista feita à décadas atrás, como poderia também ser uma entrevista feita à décadas à frente caso a situação em que educacional que vivemos não mude, mas acabe ficando pior, ou no melhor dos casos, estagnada. Por conta disso achei necessário falar exclusivamente da ação empresarial e de como essa ação reflete na realidade da docência pública, mesmo que sejam duas áreas que na teoria não deveriam estar intimamente ligadas, mas que na realidade uma acaba sobressaindo e fragmentando a outra para seus próprios interesses.

Saviani em sua entrevista fala acerca do PNE, da forma que os educadores foram lesados por conta da maneira que o PNE foi feito, e das estratégias políticas para fazer com que a versão original do PNE não passasse. Ele explica que a CONAE ser feita em outra data, é para que ela não fosse usada como palco político, fazendo com que a versão original passasse por pura pressão.

 Em determinado ponto da entrevista, somos levados a perguntas referentes a ação empresarial e atuação docente. Saviani enfatiza a importância da docência para a própria docência, muitas vezes quando falamos em docência, falamos somente sobre o professor que está ali, e não sobre os alunos que serão, talvez, futuros professores, é enfatizada a importância duma docência de qualidade, com matérias de qualidade e com dignidade, para que as futuras gerações de professores mantenham em mente que a profissão que exercem é uma profissão digna, essa linha de pensamento não é própria de Saviani, Pierre Bourdieu, em 1991, também falava que o conhecimento escolar produzido pelo docente, tá intimamente ligado ao seu capital cultural, social e político. A importância da valorização do docente como foi dito, está ligado a sua própria dignidade, quando a profissão não é valorizada, ela é vista como um sub emprego, como algo que as pessoas olham e falam para seus filhos ‘’estude para não ser assim’’, uma profissão que a população em geral olhe com olhos de pena, não com olhos de orgulho, e é dessa forma que atualmente os professores são vistos.

 Saviani demonstra que essa falta de dignidade da profissão docente não está ligada somente a ganância dos políticos, mas também à visão de dominação dos empresários. A ação empresarial na educação pública começa por volta de 1960~70, principalmente após a criação da pedagogia tecnicista, os empresários então veem a educação como uma forma de criar futuros empregados, e para isso, é necessário que eles acabem tendo boa parte do controle do que ocorre na esfera pública. Por conta disso, são criados diversos projetos de ação conjunta público-privado, o problema dessas ações pontuado por Saviani e por diversos educadores, como o Prof. Álvaro Hypolito que estudamos, é que às ações empresariais nunca estão de acordo com o beneficio público, mas para o beneficio do empresário, por tanto elas sempre acabam lesando a sociedade em si, e os docentes que acabam ficando refém de suas apostilas e métodos pedagógicos. O fato de o professor não ser visto como um humano, mas apenas como algo que repassa os conhecimentos advindo dos livros pedagógicos, está ligado à atividade empresarial, e somente, segundo Saviani, uma mobilização docente é capaz de mudar essa realidade.

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