A INTELIGENCIA EMOCIONAL
Por: José Mailson • 25/8/2021 • Artigo • 115.367 Palavras (462 Páginas) • 78 Visualizações
Inteligência Emocional
Daniel Goleman
O Desafio de Aristóteles
Qualquer um pode zangar-se isso é fácil. Mas zangar-se com a pessoa certa, na medida
certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa não é fácil.
ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco
Era uma tarde de agosto insuportavelmente sufocante, na cidade de Nova Iorque, um
daqueles dias calorentos, que deixam as pessoas mal-humoradas e desconfortáveis. Eu
voltava para um hotel, e, ao entrar num ônibus na avenida Madison, fiquei surpreso com
o motorista, um negro de meia-idade e largo sorriso, que me acolheu com um amistoso
"Oi! Como vai?" saudação feita a todos os outros que entraram no ônibus, enquanto
serpeávamos pelo denso tráfico do centro da cidade. Cada passageiro se surpreendia
tanto quanto eu, mas, presos ao péssimo clima do dia, poucos Ihe retribuíam o
cumprimento.
À medida que o ônibus se arrastava pelo quadriculado traçado da cidade, porém, foi-se
dando uma lenta, ou melhor, uma mágica transformação. O motorista monologava
continuamente para nós um animado comentário sobre o cenário que passava à nossa
volta: havia uma liquidação sensacional naquela loja, uma exposição maravilhosa
naquele museu, já souberam do novo filme que acabou de estrear naquele cinema logo
mais adiante na quadra? O prazer dele com a riqueza de possibilidades que a cidade
oferecia era contagiante. Quando as pessoas desciam do ônibus, já se haviam livrado da
concha de mau humor com que tinham entrado, e, quando o motorista Ihes dirigia um
sonoro "Até logo, tenha um ótimo dia!", todas Ihe davam uma resposta sorridente.
A lembrança desse encontro me acompanha há quase vinte anos. Quando viajei naquele
ônibus da avenida Madison, acabara de concluir meu doutorado em psicologia mas
pouca atenção se dedicava na psicologia da época a exatamente como podia se dar uma
tal transforrnação A ciência psicológica pouco ou nada conhecia dos mecanismos da
emocão E, no entanto, ao imaginar a propagação do vírus de bem-estar que deve ter-se
alastrado pela cidade começando pelos passageiros de seu ônibus, vi que aquele
motorista era uma espécie de pacificador urbano, uma espécie de feiticeiro, em seu poder
de transmutar a soturna irritabilidade que fervilhava nos passageiros, amolecer e abrir um
pouco seus corações.
Em gritante contraste, algumas matérias de jornal daquela semana:
Numa escola local, um garoto de nove anos causa uma devastação derramando tinta nas
carteiras, computadores e impressoras, e vandalizando um carro no estacionamento da
escola. Motivo: alguns colegas da terceira série o haviam chamado de "boneca", e ele
quis impressioná-los.
Oito jovens saem feridos porque um encontrão involuntário, numa multidão de
adolescentes diante de um clube de rap em Manhattan, leva a uma troca de empurrões
que só terminam quando um dos garotos ofendidos passa a disparar uma pistola
automática calibre 38 contra a multidão. A notícia observa que esses tiroteios por ofensas
aparentemente menores, vistas como atos de desrespeito, se tornaram cada vez rnais
comuns em todo o país nos últimos anos.
Das vítimas de assassinato com menos de doze anos, diz uma notícia, 57 por cento dos
assassinos são os próprios pais ou padrastos. Em quase metade dos casos, os pais
dizem que estavam "apenas tentando disciplinar o filho". As surras fatais foram
provocadas por "infrações" como a criança ficar na frente da TV, chorar ou sujar toalhas.
Um jovem alemão é julgado pelo assassinato de cinco mulheres e meninas turcas, num
incêndio que ateou quando elas dormiam Membro de um grupo neonazista, ele diz que
não consegue manter os empregos, que bebe e culpa os estrangeiros por sua má sorte.
Numa voz mal aldível, implora: "Não paro de lamentar o que fizemos, e me sinto
infinitamente enveronhado.”
As notícias de todo dia nos chegam pejadas de informações sobre a desintegração da
civilidade e da segurança, uma onda de impulso mesquinho que corre desenfreada. Mas
as notícias apenas nos refletem de volta, em maior escala, um arrepiante senso de
emoções descontroladas em nossas vidas e nas das pessoas que nos cercam. Ninguém
está protegido dessa instável maré de descontrole e arrependimento, que alcança nossas
vidas de uma maneira ou de outra.
A última década viu um constante trombeteamento de informações como essas,
retratando o aumento de inépcia emocional, desespero e inquietação em nossas famílias,
comunidades, e em nossas vidas coletivas. Esses anos escreveram a crônica de uma
raiva e desespero crescentes, seja na calma solidão das crianças trancadas com a TV
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